
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO, 18 Dez (Reuters) - Comentários do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, considerados mais "dovish" (brandos) com a inflação, fizeram o dólar perder força ante o real e as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) se reaproximarem da estabilidade no Brasil nesta quinta-feira.
Galípolo afirmou, durante entrevista coletiva em Brasília, que o BC segue dependente de dados e que "não há portas fechadas" nem "setas dadas" para as decisões de política monetária, incluindo a de janeiro.
No mercado, a visão é de que Galípolo manteve a porta aberta para um corte da Selic em janeiro -- uma possibilidade que vinha perdendo força entre os agentes nos últimos dias.
Já o Ibovespa exibe ganhos neste início de tarde, influenciado pelo avanço dos principais índices em Nova York, mas com os investidores também atentos à política monetária brasileira e ao cenário político.
Veja como estavam os principais mercados financeiros por volta das 14h desta quinta-feira:
CÂMBIO
O dólar perdeu força e se reaproximou da estabilidade ante o real, em sintonia com a melhora dos ativos brasileiros entre o fim da manhã e o início da tarde, após declarações do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçarem que a decisão sobre a Selic em janeiro ainda não está tomada.
Na quarta-feira, o dólar à vista encerrou em alta de 1,07%, aos R$5,5223, influenciado novamente por preocupações em torno da candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL) à Presidência em 2026.
Na manhã desta quinta-feira, uma pesquisa AtlasIntel para a Bloomberg indicou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém a liderança de intenções de voto nos cenários para a eleição presidencial de 2026, enquanto Flávio tem desempenho melhor que o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), nas simulações de primeiro turno.
No cenário em que tanto Flávio quanto Tarcísio aparecem como candidatos, Lula lidera com 47,9% das intenções de voto, o senador soma 21,3% e o governador de São Paulo tem 15%. A margem de erro é de 1 ponto percentual.
As atenções se voltaram também para o Relatório de Política Monetária, no qual o Banco Central indicou que projeta uma inflação em 12 meses de 3,2% no terceiro trimestre de 2027 -- ainda um pouco acima do centro da meta contínua perseguida pela instituição, de 3%.
O terceiro trimestre de 2027 passou a ser considerado pelo mercado como um período chave, já que se torna a referência para o horizonte relevante da política monetária na reunião de janeiro do BC.
Durante coletiva de imprensa sobre o relatório, porém, tanto Galípolo quanto o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, pontuaram que as projeções são embutidas de incerteza e que há limitações para elas em um horizonte de 18 meses.
Sobre isso, Guillen reforçou a ideia, já contida no comunicado da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom), de que o BC mira "o redor da meta" de inflação.
Galípolo também disse que a autarquia segue dependente de dados e que "não há portas fechadas" nem "setas dadas" para as decisões de política monetária.
"Agentes estão tentando achar dica em texto que não dá dica", afirmou Galípolo. "Não decidimos o que vamos fazer nem na reunião de janeiro nem na de março nem nas próximas. Não queríamos comunicar o que vamos fazer porque não decidimos o que vamos fazer", reforçou.
Em meio aos comentários de Galípolo, o dólar se reaproximou da estabilidade, em movimento ajudado ainda pela perda de força da moeda norte-americana no exterior.
. Dólar/Real BRBY: -0,13%, a R$5,5150 na venda;
. Euro/Dólar EUR=: -0,12%, a US$1,1726;
. Dólar/Cesta de moedas .DXY: +0,06%, a 98,427.
BOVESPA
O Ibovespa sobe nesta tarde de quinta-feira após duas quedas seguidas, com as ações da Suzano e da Vale entre os principais suportes, enquanto agentes financeiros repercutem dados de preços ao consumidor nos Estados Unidos, mas sem tirar o cenário eleitoral e a política monetária nacional do radar.
Nos EUA, o índice de preços ao consumidor subiu 2,7% em novembro na base anual, informou o Departamento do Trabalho nesta quinta-feira. Economistas consultados pela Reuters previam alta de 3,1%. O índice teve avanço de 3,0% nos 12 meses até setembro. Não foi publicada a variação mês a mês.
Em Wall Street, os índices de ações sobem em meio a um ligeiro aumento na probabilidade de o Federal Reserve cortar a taxa de juros em sua próxima reunião de política monetária, em janeiro.
A disputa presidencial no próximo ano continua no radar dos agentes financeiros. Na véspera, o Ibovespa chegou a trabalhar abaixo dos 157 mil pontos, em parte pressionado por receios políticos. Em duas sessões, acumulou um declínio de mais de 3%, considerando dados de fechamento.
A Genial Investimentos destacou que, na leitura dos investidores, a pesquisa Genial/Quaest consolidou o senador Flávio Bolsonaro como possível candidato para a eleição presidencial em 2026, mas com elevada rejeição, reforçando o favoritismo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No mercado, há expectativa de que uma troca no Planalto melhore o quadro fiscal do país, dada a trajetória crescente da dívida pública em relação ao PIB. Flávio tem se reunido com agentes do mercado financeiro, que vinha nutrindo esperanças de o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, se candidatar.
Nesta quinta-feira, pesquisa AtlasIntel para a Bloomberg mostrou Lula mantendo liderança de intenções de voto nos cenários para a eleição presidencial de 2026 e o filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro com desempenho melhor que Tarcísio nos cenários simulados de primeiro turno.
Na visão do analista Felipe Cima, da Manchester Investimentos, o mercado segue um pouquinho mais pesado em dezembro e essa deve ser a tendência pelo menos até a definição do cenário político, bem como do início de um ciclo de queda da Selic no próximo ano.
"Temos uma tendência, por ora, negativa na bolsa...forças que fizeram a bolsa subir, que deixaram todo mundo feliz ao longo do ano, começam a arrefecer. É natural que...a insegurança, leve os agentes a colocar um pouco desse dinheiro no bolso e já se preparar para o ano que vem."
No começo da tarde, o Ibovespa renovou máximas, tendo como pano de fundo declarações do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, de que a autarquia segue dependente de dados e que "não há portas fechadas" nem "setas dadas" para as decisões de política monetária.
DESTAQUES
- SUZANO ON SUZB3.SA disparava cerca de 6%, no terceiro pregão seguido de alta. A companhia anunciou na quarta-feira inauguração da nova linha de produção de celulose fluff em sua fábrica em Limeira (SP). Com a inauguração, a capacidade da Suzano de produção de celulose fluff, subiu de 100 mil para 440 mil toneladas por ano.
- VALE ON VALE3.SA subia, conforme os futuros de minério de ferro ampliaram ganhos nesta quinta-feira, na esteira da melhora nas margens do aço e pela expectativa de reposição de matéria-prima entre as usinas siderúrgicas da China. O contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian DCIOcv1 encerrou a sessão do dia com alta de 1,63%.
- PETROBRAS PN PETR4.SA oscilava perto da estabilidade, mesmo em sessão positiva para os preços do petróleo no exterior, onde investidores avaliam a chance de novas ações dos Estados Unidos contra a Rússia e risco de fornecimento com o bloqueio de navios de petróleo venezuelanos.
- ITAÚ UNIBANCO PN ITUB4.SA subia, experimentando uma trégua na correção negativa dos últimos dois pregões, em sessão de variações modestas entre os bancos do Ibovespa. BRADESCO PN BBDC4.SA tinha alta próxima de 1%, BANCO DO BRASIL ON BBSA3.SA subia 0,32% e SANTANDER BRASIL UNIT SANB11.SA registrava elevação superior a 1%.
- BRAVA ENERGIA ON BRAV3.SA disparava mais de 10%, no quinto pregão seguido de alta. Na véspera, o diretor financeiro da petroleira disse que a companhia tem sido muito procurada por agentes de mercado interessados em avaliar possíveis operações de fusões e aquisições e que a companhia está atenta a eventuais oportunidades de negócios.
- BB SEGURIDADE ON BBSE3.SA subia mais de 1%, tendo como pano de fundo anúncio na noite de quarta-feira do grupo de previdência e seguros do Banco do Brasil de que o seu conselho de administração aprovou a distribuição de R$8,72 bilhões em dividendos referentes ao lucro líquido do exercício de 2025.
- DIRECIONAL ON DIRR3.SA recuava mais de 2%, ampliando a correção negativa em dezembro, após forte valorização acumulada até o final de novembro, de 130%. No setor, CYRELA ON CYRE3.SA perdia mais de 1%, enquanto MRV&CO ON MRVE3.SA oscilava perto da estabilidade.
. Ibovespa .BVSP: +0,71%, a 158.444,36 pontos;
. Índice dos principais ADRs brasileiros .BR20: +0,93%, a 20.549,79 pontos.
BOLSAS DOS EUA
Os principais índices de Wall Street subiam nesta quinta-feira, já que dados de inflação mais baixos do que o esperado mantiveram vivas as expectativas de cortes na taxa de juros pelo Federal Reserve, enquanto a previsão de resultados positiva da fabricante de chips Micron amenizou algumas preocupações sobre as avaliações no setor de tecnologia.
Os preços ao consumidor nos EUA aumentaram menos do que o esperado em novembro na base anual. O Departamento do Trabalho não publicou as variações mensais do índice depois que a paralisação de 43 dias do governo impediu a coleta dos dados de outubro.
"Os preços ao consumidor de novembro foram muito mais baixos do que o esperado... isso provavelmente levantará questões sobre certos ajustes que os estatísticos tiveram que fazer devido à falta de dados de outubro", disse Art Hogan, estrategista-chefe de mercado da B. Riley Wealth.
"No geral, este é um relatório positivo, mas que vem com um asterisco."
Preocupações persistiam de que os dados podem estar distorcidos, de forma semelhante ao relatório oficial de empregos que foi divulgado nesta semana. Um relatório sobre pedidos de auxílio-desemprego mostrou que os novos pedidos caíram na semana passada, revertendo o aumento da semana anterior e sugerindo que as condições do mercado de trabalho permaneceram estáveis em dezembro.
Os juros futuros apontam uma probabilidade ligeiramente maior de um corte nos juros em janeiro, apostando em cerca de 64 pontos-base de afrouxamento em 2026, de acordo com dados da LSEG.
. Dow Jones .DJI: +0,57%, a 48.159,49 pontos;
. Standard & Poor's 500 .SPX: 1,14%, a 6.798,25 pontos;
. Nasdaq .IXIC: +1,962%, a 23.138,60 pontos.
BOLSAS DA EUROPA
O índice pan-europeu STOXX 600 .STOXX fechou em alta de 0,93%, a 585,20 pontos.
Em LONDRES, o índice Financial Times .FTSE avançou 0,65%, a 9.837,77 pontos.
Em FRANKFURT, o índice DAX .GDAXI subiu 0,99%, a 24.197,00 pontos.
Em PARIS, o índice CAC-40 .FCHI ganhou 0,80%, a 8.150,64 pontos.
Em MILÃO, o índice Ftse/Mib .FTMIB teve valorização de 0,82%, a 44.463,28 pontos.
Em MADRI, o índice Ibex-35 .IBEX registrou alta de 1,15%, a 17.132,60 pontos.
Em LISBOA, o índice PSI20 .PSI20 valorizou-se 0,71%, a 8.128,00 pontos.
JUROS
As taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) estavam próximas da estabilidade nesta tarde de quinta-feira, na esteira de declarações do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçando que a decisão sobre a Selic em janeiro ainda não está tomada.
Pela manhã, o Relatório de Política Monetária mostrou que o BC projeta uma inflação em 12 meses de 3,2% no terceiro trimestre de 2027 -- ainda um pouco acima do centro da meta contínua perseguida pela instituição, de 3%.
O terceiro trimestre de 2027 passou a ser considerado pelo mercado como um período chave, já que se torna a referência para o horizonte relevante da política monetária na reunião de janeiro do BC.
"O compromisso do BC é com a meta contínua de inflação de 3,00%, e suas decisões são pautadas para que este objetivo seja atingido ao longo do horizonte relevante de política monetária", disse o BC no relatório.
Durante coletiva de imprensa sobre o relatório, porém, tanto Galípolo quanto o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, pontuaram que as projeções são embutidas de incerteza e que há limitações para elas em um horizonte de 18 meses.
Sobre isso, Guillen reforçou a ideia, já contida no comunicado da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom), de que o BC mira "o redor da meta" de inflação.
Galípolo também disse que a autarquia segue dependente de dados e que "não há portas fechadas" nem "setas dadas" para as decisões de política monetária.
"Agentes estão tentando achar dica em texto que não dá dica", afirmou Galípolo. "Não decidimos o que vamos fazer nem na reunião de janeiro nem na de março nem nas próximas. Não queríamos comunicar o que vamos fazer porque não decidimos o que vamos fazer", reforçou.
Com os comentários dos dirigentes do BC, as taxas dos DIs perderam força e migraram para o território negativo, em meio à percepção no mercado de que a porta para um corte da Selic em janeiro "segue aberta", avaliou um operador ouvido pela Reuters.
O cenário político também segue no foco.
Na quarta-feira, o estresse político causado pela candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL) à Presidência impulsionou as taxas dos DIs de tal forma que a curva passou a precificar uma probabilidade majoritária de o BC manter a Selic em 15% em janeiro. Anteriormente, a precificação indicava chances maiores de corte de 25 pontos-base.
Nesta quinta-feira, uma pesquisa AtlasIntel para a Bloomberg indicou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém a liderança de intenções de voto nos cenários para a eleição presidencial de 2026, enquanto Flávio tem desempenho melhor que o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), nas simulações de primeiro turno.
No cenário em que tanto Flávio quanto Tarcísio aparecem como candidatos, Lula lidera com 47,9% das intenções de voto, o senador soma 21,3% e o governador de São Paulo tem 15%. A margem de erro é de 1 ponto percentual.
No relatório publicado mais cedo, o BC elevou ainda sua projeção para a alta do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025, de 2,0% para 2,3%. No caso de 2026, a estimativa de elevação passou de 1,5% para 1,6%.
Mês | Ticker | Taxa (% a.a.) | Ajuste anterior (% a.a.) | Variação (p.p.) |
JAN/27 | DIJF27 | 13,81 | 13,83 | -0,02 |
JAN/28 | DIJF28 | 13,27 | 13,26 | 0,01 |
JAN/29 | DIJF29 | 13,335 | 13,332 | 0,003 |
JAN/30 | DIJF30 | 13,51 | 13,513 | -0,003 |
JAN/31 | DIJF31 | 13,625 | 13,632 | -0,007 |
JAN/35 | DIJF35 | 13,71 | 13,7 | 0,01 |
DÍVIDA
. Treasuries de 10 anos US10YT=RR: rendimento em queda a 4,1197%, ante 4,151% no pregão anterior.
PETRÓLEO
. Nymex - CLc1: 0,95%, a 56,47 dólares por barril;
. ICE Futures Europe - Brent LCOc1: 0,64%, a 60,06 dólares por barril.
(PANORAMA1, PANORAMA2 e PANORAMA3 são localizados no terminal de notícias da Reuters pelo código PAN/SA)