PANORAMA 2-Ibovespa despenca enquanto dólar e taxas dos DIs sobem com cenário político no foco

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO, 17 Dez (Reuters) - As preocupações em torno da candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL) à Presidência em 2026 seguiram permeando os mercados no Brasil nesta quarta-feira, contribuindo para uma queda próxima de 1% do Ibovespa, para o avanço do dólar para além dos R$5,52 e para uma forte elevação dos prêmios na curva de juros.

Por trás do movimento está a percepção de que a opção da direita por Flávio sepulta a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), nome preferido do mercado, potencialmente favorecendo a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O noticiário político desta quarta-feira continua reforçando o cenário com uma candidatura de Flávio Bolsonaro, que segue se reunindo com representantes da Faria Lima para tornar seu nome mais palatável.

No exterior, investidores seguem especulando sobre os próximos passos do Federal Reserve para a taxa de juros, com o mercado de ações também refletindo certa cautela com o setor de tecnologia.

Veja como estavam os principais mercados financeiros por volta das 13h20 desta quarta-feira:

CÂMBIO

O dólar abriu a tarde em alta firme ante o real, acima dos R$5,50, em meio ao avanço da moeda norte-americana no exterior e ao mal-estar dos agentes com o cenário político brasileiro, em que o senador Flávio Bolsonaro (PL) desponta como o principal nome da direita para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na terça-feira, o dólar subiu ante o real em função das remessas de recursos ao exterior neste período de fim de ano e da pesquisa Genial/Quaest, que mostrou Lula bem colocado na disputa presidencial em relação a seus adversários de direita.

Em um dos cenários estimulados do levantamento, Lula obteve 41% das intenções de voto para presidente, com Flávio com 23% e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), com 10%.

Na prática, os agentes seguiram descontentes com a possibilidade de Flávio ser o principal nome da direita, roubando a indicação de Tarcísio, o preferido do mercado. A visão é de que Flávio é menos competitivo na disputa contra Lula.

Nesta quarta-feira, novas notícias na imprensa reforçavam as apostas de que Tarcísio pode não ser o candidato presidencial da direta, e sim Flávio. O site Metrópoles publicou pela manhã que o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, disse a integrantes do mercado que Tarcísio tentará a reeleição em São Paulo e que Flávio deve mesmo disputar o Planalto.

Além disso, Flávio segue se reunindo com representantes do mercado financeiro em São Paulo, em um esforço para superar o ceticismo inicial a seu nome.

Apesar das movimentações do senador, os ativos brasileiros seguem penalizados, o que se reflete na baixa do Ibovespa e no avanço firme do dólar e das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros).

No campo das contas públicas, na madrugada desta quarta-feira a Câmara dos Deputados aprovou o projeto que reduz em 10% os benefícios fiscais federais de diversos setores e aumenta a tributação de bets e fintechs. O texto agora seguirá para o Senado.

No exterior, o dólar registra ganhos ante a libra GBP=, em meio à expectativa de que o Banco da Inglaterra corte juros na quinta-feira em reação à queda da inflação.

A moeda norte-americana também subia ante o iene JPY= e boa parte das demais divisas, incluindo o real, com o mercado aguardando a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA, na quinta-feira.

O indicador será mais uma referência para as apostas sobre a política monetária do Federal Reserve no curto prazo. O mercado norte-americano precifica nesta tarde 75,6% de probabilidade de manutenção dos juros norte-americanos na faixa de 3,50% a 3,75% em janeiro, contra 24,4% de chance de corte de 25 pontos-base.

. Dólar/Real BRBY: +1,05%, a R$5,5214 na venda;

. Euro/Dólar EUR=: +0,06%, a US$1,1754;

. Dólar/Cesta de moedas .DXY: +0,06%, a 98,273.

BOVESPA

A bolsa paulista experimentava nova correção negativa nesta quarta-feira, marcada por vencimento de opções sobre o Ibovespa e do índice futuro, enquanto investidores continuam especulando sobre os próximos movimentos de juros no Brasil e nos Estados Unidos e monitorando o cenário eleitoral nacional.

O noticiário tem endossado dúvidas sobre os movimentos dos bancos centrais no Brasil e nos EUA no começo do próximo ano e corroborado alguns movimentos de realização de lucros na B3, mas persiste a perspectiva de queda de juros em ambas as economias ao longo de 2026, favorecendo as ações brasileiras.

"É verdade que o impulso vindo dos EUA deve ser menor, já que a expectativa é de que os juros permaneçam estáveis no primeiro semestre de 2026, mas a queda dos juros no Brasil pode ser suficiente para continuar impulsionando os mercados locais", avaliam estrategistas do BTG Pactual.

Mesmo com expectativas de maior volatilidade do cenário eleitoral no Brasil apenas no próximo ano, a partir do final do primeiro trimestre, o noticiário sobre potenciais candidatos de oposição ocupava as atenções, principalmente sinalizações de que Flávio Bolsonaro (PL) deve mesmo concorrer ao Planalto.

Investidores temem uma divisão na oposição com a entrada de Flávio Bolsonaro, o que poderia reduzir as chances de uma eventual vitória sobre Lula. Uma das esperanças no mercado com uma mudança em Brasília é de melhora no quadro fiscal do país, dada a trajetória crescente da dívida pública em relação ao PIB.

DESTAQUES

- DIRECIONAL ON DIRR3.SA recuava perto de 5%, em meio ao avanço nas taxas dos contratos de DI, além de relatório do JPMorgan, reiterando recomendação neutra para a ação, citando "valuation" e "upside" limitado. No setor, MRVE&CO ON MRVE3.SA subia, com os analistas do banco norte-americano elevando a recomendação do papel para "overweight", esperando uma recuperação "bullish" em 2026.

- BTG PACTUAL UNIT BPAC11.SA perdia mais de 3%, pior desempenho entre os bancos do Ibovespa no dia, enquanto BRADESCO PN BBDC4.SA cedia mais de 1%, SANTANDER BRASIL UNIT SANB11.SA recuava perto de 1%, BANCO DO BRASIL ON BBAS3.SA caía em torno de 1%. ITAÚ UNIBANCO PN ITUB4.SA também mostrava decréscimo.

- AXIA ENERGIA ON AXIA3.SA caía mais de 2%, no segundo pregão seguido de queda dos papéis da ex-Eletrobras. A companhia de energia elétrica realiza na sexta-feira assembleia de acionistas para decidir sobre propostas que permitirão a distribuição de parte ou a totalidade de suas reservas de lucro, que somavam R$39,9 bilhões ao final do terceiro trimestre.

- BRAVA ENERGIA ON BRAV3.SA avançava perto de 4%, em dia de alta do petróleo no exterior e com agentes atentos a noticiário sobre interesse de investidores em ativos da companhia. O diretor financeiro da petrolífera, Luiz Carvalho, também afirmou que a empresa prevê investir US$550 milhões em 2026, sendo dois terços em sua estratégia de expansão, que prevê a perfuração de quatro poços entre 2026 e 2027, e o restante em manutenção.

- PETROBRAS PN PETR4.SA subia, acompanhada de pares do setor, em meio a avanço dos preços do petróleo. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) também divulgou que a greve dos petroleiros da estatal alcançou 100% de adesão nas plataformas da Bacia de Campos. A Petrobras disse que, até o momento, não houve impacto na produção. No setor, PRIO ON PRIO3.SA e PETRORECONCAVO ON RECV3.SA subiam mais de 1%.

. Ibovespa .BVSP: -1,05%, a 156.915,82 pontos;

. Índice dos principais ADRs brasileiros .BR20: -1,18%, a 20.370,17 pontos.

BOLSAS DOS EUA

Os principais índices de Wall Street cediam neste início de tarde de quarta-feira, com os investidores buscando pistas sobre as perspectivas para a taxa de juros, enquanto a cautela permanecia após relatos de obstáculos de financiamento para os planos de data center da Oracle.

A Oracle ORCL.N caía mais de 4% após notícia de que o maior parceiro de data center da empresa de nuvem, a Blue Owl Capital OWL.N, disse que não apoiará um acordo de US$10 bilhões para sua próxima instalação.

Preocupações com o fato de o setor de tecnologia estar recorrendo a dívidas para tentar atingir suas metas de inteligência artificial têm afetado a tomada de riscos várias vezes neste trimestre. A Nvidia NVDA.O perdia mais de 2% nesta quarta-feira.

Os preços do petróleo bruto saltavam nesta quarta-feira após Trump ordenar um "bloqueio" de todos os petroleiros sancionados que entram e saem da Venezuela.

Oferecendo algum alívio para os investidores, o diretor do Federal Reserve Christopher Waller disse que o banco central ainda tem espaço para cortar a taxa de juros diante de um mercado de trabalho em desaceleração.

. Dow Jones .DJI: -0,16%, a 48.035,06 pontos;

. Standard & Poor's 500 .SPX: -0,73%, a 6.750,88 pontos;

. Nasdaq .IXIC: -0,959%, a 22.889,90 pontos.

BOLSAS DA EUROPA

O índice pan-europeu STOXX 600 .STOXX tinha alta de 0,08%, a 580,26 pontos.

Em LONDRES, o índice Financial Times .FTSE avançava 1,11%, a 9.792,14 pontos.

Em FRANKFURT, o índice DAX .GDAXI caía 0,42%, a 23.974,57 pontos.

Em PARIS, o índice CAC-40 .FCHI perdia 0,18%, a 8.091,48 pontos.

Em MILÃO, o índice Ftse/Mib .FTMIB tinha valorização de 0,32%, a 44.130,23 pontos.

Em MADRI, o índice Ibex-35 .IBEX registrava alta de 0,03%, a 16.926,30 pontos.

Em LISBOA, o índice PSI20 .PSI20 valorizava-se 0,12%, a 8.072,00 pontos.

JUROS

Os receios em torno da candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL) à Presidência em 2026, que na véspera impulsionaram a curva de juros brasileira, seguem fazendo preço nesta quarta-feira, com as taxas dos DIs registrando ganhos superiores a 25 pontos-base em alguns vencimentos.

Na terça-feira, as taxas avançaram após a pesquisa Genial/Quaest mostrar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva bem colocado na disputa presidencial em relação a seus adversários de direita. Em um dos cenários estimulados do levantamento, Lula obteve 41% das intenções de voto para presidente, com o senador Flávio Bolsonaro (PL) com 23% e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), com 10%.

Na prática, os agentes seguiram descontentes com a possibilidade de Flávio ser o principal nome da direita, roubando a indicação de Tarcísio, o preferido do mercado. A visão é de que Flávio é menos competitivo na disputa contra Lula.

Nesta quarta-feira, novas notícias na imprensa reforçavam as apostas de que Tarcísio pode não ser o candidato presidencial da direta, e sim Flávio. O site Metrópoles publicou pela manhã que o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, disse a integrantes do mercado que Tarcísio tentará a reeleição em São Paulo e que Flávio deve mesmo disputar o Planalto.

"Com Flávio forte (à frente de Tarcísio), Lula tem mais chance de ganhar a eleição. Então, sem solução para o fiscal para os próximos cinco anos", comentou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, ao avaliar a abertura firme da curva brasileira nesta manhã.

No mercado, o principal temor é justamente que uma reeleição de Lula mantenha a pressão sobre a área fiscal e faça a relação entre dívida bruta e Produto Interno Bruto (PIB) seguir em alta. Atualmente, a relação dívida/PIB está em 78,6%, conforme cálculo do Banco Central.

Na madrugada desta quarta-feira, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto que reduz em 10% os benefícios fiscais federais de diversos setores e aumenta a tributação de bets e fintechs. O texto agora seguirá para o Senado.

Na Granja do Torto, em Brasília, Lula esteve pela manhã em reunião com ministros. Em discurso de abertura, ele afirmou que o ano eleitoral de 2026 será o ano da verdade e que os ministros de seu governo e seus partidos terão que definir de qual lado estão.

No exterior, os rendimentos dos Treasuries também avançam nesta quarta-feira.

DÍVIDA

. Treasuries de 10 anos US10YT=RR: rendimento em alta a 4,1548%, ante 4,149% no pregão anterior.

PETRÓLEO

. Nymex - CLc1: 1,85%, a 56,29 dólares por barril;

. ICE Futures Europe - Brent LCOc1: 1,8%, a 59,98 dólares por barril.

(PANORAMA1, PANORAMA2 e PANORAMA3 são localizados no terminal de notícias da Reuters pelo código PAN/SA)