
Por Jamie McGeever
ORLANDO, Flórida, 10 Dez (Reuters) - O dólar (link) afundou e Wall Street (link) registrou alta na quarta-feira, com o índice Russell 2000, de pequenas capitalizações, atingindo novas máximas, após o Fed cortar as taxas de juros (link) e o presidente Jerome Powell oferecer uma perspectiva positiva sobre o caminho para o crescimento e a inflação.
Mais sobre isso abaixo. Na minha coluna de hoje, analiso como o cenário global das taxas de juros está repentinamente se tornando muito mais restritivo e, portanto, potencialmente mais volátil para os investidores. O ciclo global de afrouxamento monetário chegou ao fim (link).
Se você tiver mais tempo para ler, aqui estão alguns artigos que recomendo para ajudar a entender o que aconteceu nos mercados hoje.
O Fed dividido corta as taxas, sinaliza pausa e um corte em 2026, com o crescimento se recuperando (link)
O Banco do Canadá mantém as taxas de juros e afirma que a economia é resiliente. (link)
As tensões deflacionárias na China persistem mesmo com a inflação ao consumidor atingindo o nível mais alto em 21 meses. (link)
O BCE poderá elevar novamente as perspectivas de crescimento, afirma Lagarde. (link)
A inteligência artificial que mascara a economia tem dois lados: Mike Dolan (link)
Principais movimentos do mercado hoje
AÇÕES: Wall Street registra forte alta - Russell 2000 supera o desempenho, Nasdaq fica para trás.
SETORES/AÇÕES: Indústrias e materiais +1,8%. O único setor em queda foi o de utilidades, com apenas 0,1%. GE Vernova (link) +15%, Warner Bros +4,5%. Uber -5,5%, Microsoft -2,8%
FX: O dólar cai amplamente, com desvalorização de cerca de 0,6% a 0,8% em relação ao franco suíço, euro e dólar neozelandês. O real brasileiro recua 1%.
TÍTULOS: Os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA caem, chegando a 7 pontos-base no curto prazo, com uma inclinação altista da curva.
COMMODITIES/METAIS: Petróleo (link) +1%, ouro +0,5%, prata +1,5% (link) para um novo recorde de US$ 61,74/oz.
Pontos de Discussão de Hoje
O Fed adota uma postura neutra
O Fed cortou as taxas de juros em 25 pontos-base na quarta-feira, e Powell disse que a política monetária está agora em território neutro, o que significa que os formuladores de políticas estão "bem posicionados para esperar e ver como a economia evolui a partir daqui".
Powell mostrou-se otimista em relação ao crescimento, à produtividade e à capacidade do Fed de reduzir a inflação de volta à meta de 2%. Os mercados reagiram positivamente, com Wall Street em alta e o índice Russell 2000 atingindo um novo recorde histórico.
Sinais de inflação em mercados emergentes
China (link) e Brasil (link) divulgaram seus últimos dados de inflação na quarta-feira, e os sinais foram mistos. A inflação ao consumidor na China subiu para o maior nível em 21 meses, mas a deflação ao produtor permaneceu persistente, enquanto a inflação ao consumidor no Brasil desacelerou para o menor nível em mais de um ano.
O iuan atingiu uma nova máxima de 14 meses em relação ao dólar, enquanto o real brasileiro foi uma das moedas com pior desempenho no mundo nesta quarta-feira. Os rendimentos dos títulos chineses caíram, enquanto os do Brasil subiram.
A Prata
A prata está consolidando sua posição como um dos ativos de melhor desempenho do mundo em 2025, saltando ainda mais esta semana para novos recordes acima de US$ 60 a onça. Já acumula alta de 110% neste ano, quase o dobro da valorização do ouro.
Será que essa tendência vai continuar? Com o fechamento dos balanços no final do ano, a realização de lucros deve começar. Mas o momento é forte, os indicadores técnicos são positivos e a dinâmica de oferta e demanda parece otimista — o mercado de prata representa uma fração do mercado de ouro, avaliado em US$ 30 trilhões, e se os investidores desejam maior exposição a ativos alternativos, a demanda relativa parece bastante expressiva.
O ciclo global de flexibilização monetária dos bancos centrais chegou ao fim.
O cenário global das taxas de juros está repentinamente parecendo muito menos benigno do que há apenas algumas semanas, sugerindo que 2026 poderá ser muito mais volátil do que os investidores previam.
Comentários desta semana da Governadora do banco central da Austrália, Michele Bullock (link) e Isabel Schnabel, membro do Conselho do Banco Central Europeu (link), sinalizando que seu próximo passo poderia ser o aumento das taxas de juros, trouxeram à tona a postura mais agressiva que surgiu recentemente entre os principais bancos centrais.
As declarações de Bullock pegaram os mercados de surpresa, enquanto as de Schnabel foram menos inesperadas. Mas, em conjunto, elas ressaltam um cenário de política monetária muito mais desafiador para o próximo ano – os custos de empréstimo provavelmente aumentarão.
O fator comum é a inflação, que permanece teimosamente acima da meta em muitas economias desenvolvidas, enquanto o crescimento ainda se mantém, em sua maioria, sólido.
A questão agora é se o presidente do Fed, Jerome Powell, enviará sinais semelhantes na quarta-feira com um chamado "corte agressivo" – uma queda nas taxas de juros combinada com uma orientação mais rigorosa.
PIVÔ FALCÃO
Uma análise das expectativas de mercado para as taxas de juros dos bancos centrais do G10 mostra que apenas três – o Fed, o Banco da Inglaterra e o Norges Bank – devem reduzir as taxas no próximo ano, com o Fed reduzindo-as em 75 pontos-base e os outros dois em 50.
Agora, espera-se que o Banco do Canadá e o RBA (banco central da Austrália) aumentem as taxas de juros em cerca de 35 e 50 pontos-base no próximo ano, respectivamente. Há poucas semanas, considerava-se mais provável que houvesse cortes nas taxas de juros em ambos os países do que aumentos.
O que explica essa reviravolta?
Muitos dos principais bancos centrais encontram-se numa posição bastante incomum, tendo acabado de realizar o ciclo de cortes de juros mais rápido fora de uma recessão em décadas. No caso do Fed, isso ocorre desde meados da década de 1980, enquanto o BCE nunca havia flexibilizado sua política monetária de forma tão agressiva na ausência de uma contração econômica, segundo analistas do Deutsche Bank.
A história mostra que, como era de se esperar, um afrouxamento monetário rápido sem recessão muitas vezes leva a uma forte reaceleração da atividade econômica, especialmente se os cortes nas taxas de juros forem acompanhados de estímulos fiscais, abrindo caminho para um retorno mais rápido do que o previsto ao aumento das taxas. É possível que seja isso que veremos no próximo ano.
"Os bancos centrais estão caminhando na corda bamba neste momento", escreveu Jim Reid, do Deutsche Bank, na terça-feira.
É claro que as chances de o Fed aumentar as taxas de juros em breve são baixas. Mas, considerando o cenário internacional, não é algo que possa ser completamente descartado para 2026, afirma Reid.
ABALAR A COMPLACÊNCIA DO MERCADO
À medida que os investidores reavaliam o panorama global dos bancos centrais, as moedas e os títulos podem ficar particularmente vulneráveis, especialmente com a volatilidade nesses mercados tão baixa no momento.
O índice "MOVE", uma medida da volatilidade implícita no mercado de títulos do Tesouro dos EUA, caiu na semana passada para o nível mais baixo em quatro anos, enquanto nesta semana um índice de volatilidade implícita em seis das principais moedas em relação ao dólar norte-americano atingiu seu nível mais baixo desde julho do ano passado.
Uma provável implicação de uma postura mais agressiva por parte dos bancos centrais do G10 é uma renovada pressão de venda sobre o iene japonês.
Há muito tempo que o consenso do mercado é que o Banco do Japão aumentará as taxas de juros em 2026, mas a expectativa era de que poucos dos seus pares do G10 seguiriam o exemplo, ajudando a sustentar a moeda em declínio.
Uma postura global mais agressiva complicaria significativamente a política do Banco do Japão e correria o risco de levar o iene de volta a mínimas históricas recentes, em torno de 162 por dólar, aumentando o espectro de uma intervenção do Ministério das Finanças no mercado cambial. Atualmente, o iene não está muito longe desse patamar.
Outra possível consequência é a desvalorização das moedas dos mercados emergentes. Isso porque, tudo o mais constante, se as taxas de juros estiverem subindo globalmente, os investidores serão atraídos pela segurança e pelos retornos cada vez mais tentadores das moedas das economias desenvolvidas.
Entretanto, muitos mercados de títulos ao redor do mundo começaram a ficar instáveis, liderados, mais uma vez, pelo Japão. Forte venda de títulos do governo japonês (JGBs) fez com que os rendimentos de longo prazo disparassem para níveis historicamente altos.
Mas os títulos do governo japonês (JGBs) não estão sozinhos. O rendimento dos títulos australianos com vencimento em 10 anos subiu 70 pontos-base desde o final de outubro, o rendimento dos títulos alemães com vencimento em 30 anos atingiu o maior patamar em 14 anos na terça-feira, e o rendimento dos títulos canadenses com vencimento em 10 anos subiu 35 pontos-base em pouco mais de uma semana.
Com o ano chegando ao fim, há uma espécie de paradoxo nos mercados de câmbio e de títulos. Os investidores estão nervosos, mas a volatilidade é baixa. A perspectiva de um ciclo global de aumento das taxas de juros no próximo ano pode em breve resolver essa situação.
O que poderá movimentar os mercados amanhã?
Desemprego na Austrália (novembro)
Leilão de títulos do governo japonês com vencimento em 20 anos
Decisão sobre a taxa de juros nas Filipinas
Decisão sobre a taxa de juros da Suíça
Decisão sobre a taxa de juros na Turquia
Comércio do Canadá (setembro)
O Tesouro dos EUA leiloa US$ 22 bilhões em títulos de 30 anos.
Pedidos semanais de auxílio-desemprego nos EUA
Comércio dos EUA (setembro)
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As opiniões expressas são da autoria do autor. Elas não refletem as opiniões da Reuters News, que, de acordo com os Princípios de Confiança (link), está comprometida com a integridade, a independência e a ausência de preconceito.