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COLUNA-A IA pode quebrar uma tendência de 150 anos sem superaquecer a economia?

Reuters4 de dez de 2025 às 19:02

Por Mike Dolan

- Desde que o ChatGPT entrou em cena há três anos, os investidores aderiram ao movimento da inteligência artificial ou passaram a alertar incessantemente sobre o risco de mais uma bolha na indústria de tecnologia.

Os otimistas estão convencidos de que "desta vez é diferente" porque a IA é uma transição macro e não uma história de avaliação micro, enquanto os pessimistas apontam para o risco de superaquecimento.

Trilhões de dólares em investimentos em IA nos próximos cinco anos dependem da crença de que uma grande transformação tecnológica de toda a economia dos Estados Unidos - e provavelmente da economia global - está em andamento.

Os críticos estão preocupados com o fato de que os retornos não justificarão esse investimento - dadas as avaliações já altíssimas, a alavancagem crescente e o inevitável campo minado de vencedores e perdedores.

Uma maneira de ter uma visão é ampliar a lente o máximo possível e ver o que isso pode significar para o crescimento econômico em relação à história.

Os estrategistas da maior gestora de ativos do mundo, a BlackRock - que ainda acredita muito na história da IA - fizeram isso como parte de sua perspectiva anual nesta semana, que mostrou como seria difícil até mesmo esse tipo de metamorfose tecnológica tirar os EUA do curso estável que traçou ao longo de um século e meio.

Difícil, segundo eles, mas não impossível.

"Os EUA estão na fronteira econômica global", diz o relatório do BlackRock Investment Institute. "Mas todas as principais inovações dos últimos 150 anos - incluindo o vapor, a eletricidade e a revolução digital - não foram suficientes para que o país saísse de sua tendência de crescimento de 2%. Fazer isso é uma tarefa difícil."

A simples razão pela qual eles acreditam que uma ruptura de crescimento é concebível desta vez é que eles veem a IA não apenas como uma inovação em si, mas com "o potencial de inovar o processo de inovação".

Com isso, eles querem dizer que a IA poderia começar a gerar, testar e aprimorar seus próprios conceitos - acelerando e impulsionando os avanços científicos em materiais, medicamentos e tecnologia.

O gráfico da BlackRock mapeia o crescimento do PIB per capita dos EUA desde 1870. Além das grandes oscilações em torno da Segunda Guerra Mundial, os dois períodos notáveis de crescimento acima da tendência foram no final do século XIX e na década de 1990. Mas nunca se afastou muito da linha de tendência de 2%.

Talvez desta vez seja diferente.

O que é verdade nos mercados, pelo menos, é que a história da IA mais uma vez este ano mascarou praticamente todas as outras preocupações cíclicas ou orientadas por políticas.

REALAVANCAGEM E SUPERAQUECIMENTO

Porém, enquanto aguardamos o desenrolar da longa promessa da IA, é provável que o horizonte econômico imediato ainda esteja limitado por essa linha de tendência de 2% - na medida em que ainda existam gargalos no mercado de trabalho, nas cadeias de suprimentos existentes ou na capacidade de construção.

Com o crescimento do PIB dos EUA já superando as expectativas desde o choque tarifário do início do ano, e o boom de investimentos em bens de capital se acelerando enquanto a inflação ainda está bem acima da meta de 2%, muitos analistas agora temem que no próximo ano a economia norte-americana possa sofrer um superaquecimento.

"O cenário está montado para a reconstrução da demanda em 2026, à medida que os governos promovem estímulos, bancos centrais cortam juros e o setor privado se alavanca novamente", disse a economista-chefe do TS Lombard, Freya Beamish, em sua perspectiva anual. "O cenário parece mais inflacionário nos EUA."

Isso aponta de volta para as perspectivas de uma contínua flexibilização monetária do Federal Reserve em meio a tudo isso, juntamente com o aumento da ansiedade sobre uma maior influência política sobre o banco central para reduzir as taxas quando o atual presidente do Fed, Jerome Powell, deixar o cargo em maio.

Diferentemente de muitos anos anteriores, um maior afrouxamento do Fed pode agora ser considerado tanto um risco econômico quanto uma vantagem - ótimo no curto prazo para ativos de risco, como ações, mas um acumulador de problemas no futuro.

Em outra longa varredura na história, o estrategista do Deutsche Bank, Henry Allen, analisou esta semana o precedente dos bancos centrais que cortaram juros fora das recessões - e quando não havia recessão no horizonte.

Os cortes de 150 pontos-base nas taxas de juros do Fed desde setembro de 2024 foram os mais rápidos fora de uma recessão desde a década de 1980, apontou ele.

"Cortes mais rápidos muitas vezes levaram ao superaquecimento, especialmente se estiverem interagindo com uma política fiscal frouxa", escreveu Allen. "Talvez o exemplo mais notável disso seja o dos EUA no final da década de 1960, quando os cortes nas taxas levaram a um novo surto de inflação e, por fim, a uma recessão, já que o Fed voltou a apertar as taxas."

Mesmo que o grande salto em produtividade potencial venha a nos libertar dos grilhões da inflação persistente, é improvável que chegue já no próximo ano.

As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor, colunista da Reuters

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((Tradução Redação São Paulo, 55 11 56447753))

REUTERS AAJ

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