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Investidores repensam supremacia do mercado dos EUA apesar de recordes em Wall Street

Reuters1 de ago de 2025 às 19:00

Por Carolina Mandl e Suzanne McGee e Davide Barbuscia

- A recuperação de Wall Street e do dólar não aliviou as preocupações dos investidores sobre a capacidade dos ativos dos EUA de superar o restante dos mercados internacionais, com uma nova rodada de tarifas mais uma vez afetando o otimismo dos agentes.

A desvalorização do dólar, que caiu cerca de 8% neste ano em relação a uma cesta de moedas importantes, e o crescente déficit fiscal estão abalando a convicção de que os mercados financeiros dos EUA proporcionarão retornos superiores aos do mundo todo.

Por mais de uma década, o conceito de "excepcionalismo americano" -- a convicção de que o sistema democrático dos Estados Unidos, somado aos seus enormes e líquidos mercados de capitais, oferece recompensas únicas -- foi pouco contestado pelos investidores.

Mas a incerteza contínua em torno das tarifas está abalando a confiança. Embora os acordos firmados por Donald Trump com a União Europeia, o Japão e a Coreia do Sul tenham proporcionado algum alívio, o presidente dos EUA impôs tarifas pesadas a dezenas de parceiros comerciais na noite de quinta-feira.

A turbulência no mercado no início deste ano, causada pelos primeiros anúncios de tarifas de Trump, desencadeou uma reavaliação. A posição do mercado norte-americano parece "um pouco abalada", disse Lori Heinel, diretora global de investimentos da State Street Investment Management.

"O excesso de dívida (do governo) torna menos atraente ter ativos baseados em dólares", acrescentou.

Em uma pesquisa realizada no final de maio e junho, a consultoria de pesquisa de mercado CoreData descobriu que muitos investidores institucionais e consultores, que administram coletivamente US$4,9 trilhões em ativos, estão reduzindo a exposição aos EUA. Entre os entrevistados, 47% estão cortando suas alocações estratégicas de longo prazo para os mercados norte-americanos.

Embora os investidores tenham se mostrado mais otimistas com as perspectivas para a Europa, bem como para a China e outros mercados emergentes, o otimismo em relação aos mercados dos EUA agora está atrás dessas regiões. Isso, disse Michael Morley, chefe da CoreData US, marca "uma reversão massiva" em relação às atitudes de dois anos atrás.

A última onda de tarifas sobre exportações de dezenas de parceiros comerciais, incluindo Canadá, Brasil, Índia e Taiwan, fez os mercados globais despencarem nesta sexta-feira.

As taxas anunciadas foram "um pouco piores do que o esperado", disseram analistas do Société Générale em nota.

"Os mercados responderam mais negativamente ao anúncio de 1º de agosto do que a outras notícias nos últimos dois meses, mas a reação foi muito menos severa do que em 2 de abril", disseram.

IMPACTO TARIFÁRIO ATRASADO?

Os investidores começaram a reconsiderar suas alocações após o anúncio de tarifas do "Dia da Libertação" de Trump, em 2 de abril, reavaliando o fascínio da "marca EUA" e preocupados com uma nova recessão.

O governo Trump então suspendeu a implementação de tarifas e, posteriormente, começou a anunciar acordos que limitam as taxas a níveis mais baixos do que os inicialmente propostos. As ações se recuperaram, com o S&P 500 .SPX subindo 27,2% do fechamento de 8 de abril até o fechamento de 31 de julho, estabelecendo uma série de novos recordes.

No entanto, a CoreData descobriu que 49% das instituições acreditam que os mercados agora estão muito complacentes sobre o impacto das tarifas dos EUA.

Os preços ao consumidor nos EUA tiveram o maior aumento em cinco meses em junho, de acordo com dados do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês), sugerindo que as tarifas estão impulsionando a inflação.

Outros números apontam para uma moderação na atividade econômica, e o crescimento no segundo trimestre foi forte principalmente devido à fraqueza das importações.

A gestora global de ativos Man Group, que administra cerca de US$193 bilhões, está cautelosa em relação à sobreponderação de ativos dos EUA.

"Esta é uma oportunidade para os investidores realizarem alguns lucros, reequilibrarem e ficarem neutros em relação aos EUA", disse Kristina Hooper, estrategista-chefe de mercado do Man Group.

ALÉM DAS TARIFAS

O status do dólar como moeda de reserva global pode estar em questão, já que os EUA estão perdendo o papel de facilitador do livre comércio, disse Thierry Wizman, estrategista global de câmbio e taxas do Macquarie Group, acrescentando que a empresa espera vender dólares em qualquer alta.

Após sofrer seu pior desempenho no primeiro semestre desde 1973, o dólar registrou seus primeiros ganhos mensais para 2025 em julho, à medida que os investidores recuperaram a confiança após acordos comerciais.

Também contribuindo para a reavaliação da supremacia do mercado norte-americano está o risco de politização das decisões sobre juros. Trump tem repetidamente defendido taxas de juros mais baixas e ameaçado destituir o chair do Federal Reserve, Jerome Powell.

Enquanto isso, um projeto de lei sobre impostos e gastos, recentemente aprovado, adicionará trilhões à dívida do governo, exacerbando preocupações de longa data com o déficit. Os investidores provavelmente responderão buscando uma compensação maior pelo risco de possuir títulos do Tesouro de longo prazo.

"Há um risco muito, muito real de que os rendimentos aumentem significativamente por causa do déficit", disse Hooper, do Man Group.

INOVAÇÃO DOS EUA

Para muitos, o mercado de ações aquecido dos EUA e o otimismo em torno do setor de tecnologia do país dificultaram o pessimismo.

"A questão fundamental é que os EUA têm algumas das empresas mais inovadoras e lucrativas do mundo, e os mercados de capitais mais profundos", disse Kelly Kowalski, chefe de estratégia de investimentos da MassMutual. A ansiedade com o fim da preeminência norte-americana é "exagerada", disse ela.

As preocupações com a fraca demanda externa por títulos da dívida norte-americana diminuíram nas últimas semanas. Após venderem US$40,8 bilhões em títulos do Tesouro em abril, os estrangeiros retomaram as compras, totalizando US$146 bilhões em maio, segundo os dados mais recentes do governo.

Além disso, embora as ações europeias tenham superado facilmente suas contrapartes norte-americanas em março, essa diferença diminuiu a cada novo acordo comercial anunciado. No final de julho, o STOXX 600 europeu estava praticamente empatado com o S&P 500.

"O grande fator em pauta não tem nada a ver com políticas, mas sim com tecnologia", disse Richard Lightburn, vice-diretor de investimentos do fundo de hedge macro MKP Capital Management. "Ainda parece que estamos no começo da adoção e integração da IA."

Anthony Saglimbene, estrategista-chefe de mercado da Ameriprise Financial, continua recomendando uma ligeira sobreponderação nas ações norte-americanas em relação a outros mercados globais. "Chame isso de 'excepcionalismo' ou apenas 'clareza'. O ambiente macroeconômico nos EUA é comparativamente mais estável."

(Reportagem de Carolina Mandl e Davide Barbuscia em Nova York e Suzanne McGee em Providence, Rhode Island; Reportagem adicional de Laura Matthews em Nova York)

((Tradução Redação São Paulo))

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