Investidores se acostumam com reviravoltas políticas; manchetes sobre Powell causam reação limitada

Por Saqib Iqbal Ahmed

NOVA YORK, 16 Jul (Reuters) - Os investidores estão se tornando mais comedidos em suas reações às notícias sobre as políticas de Trump em Washington, com as manchetes desta quarta-feira sobre o chair do Federal Reserve, Jerome Powell, desencadeando uma reação que ficou aquém do que poderia acontecer se o presidente do Fed fosse de fato demitido.

O S&P 500 caiu brevemente até 0,7% e o dólar recuou 0,9% nesta quarta-feira, após relatos de que Trump estava perto de demitir Powell.

Para alguns investidores, os movimentos iniciais de reação -- que logo foram desfeitos quando Trump negou que estivesse planejando a demissão de Powell -- pareciam relativamente superficiais e indicavam que os investidores não estavam dispostos a dar muita importância às manchetes envolvendo as políticas do governo Trump.

Parte do motivo da reação do mercado é que os investidores aprenderam com a experiência que as manchetes das notícias sobre possíveis ações do governo Trump podem mudar rapidamente, disseram participantes do mercado.

"Acho que há um grupo de pessoas que pensou que se tratava de um balão de ensaio", disse Thierry Wizman, estrategista global de câmbio e taxas do Macquarie em Nova York.

"Que não era nada sério, que era apenas Trump testando o mercado e que, se o mercado caísse muito, ele mudaria sua opinião de qualquer forma, de modo que não há razão para baixar excessivamente os preços das ações", disse ele.

A Casa Branca se recusou a comentar se Trump estava testando o mercado, apontando, em vez disso, para suas falas quando disse que não planejava demitir Powell, mesmo ao desencadear uma nova rodada de críticas contra o chefe do banco central e se recusar a rejeitar completamente a possibilidade de destituí-lo.

Trump, que no passado sugeriu que poderia demitir Powell, também disse em vários momentos que não o faria.

A Bloomberg News, que primeiro informou que Trump estava planejando demitir Powell em breve, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

"Não sabemos se Trump cumprirá a ameaça", disse Brian Jacobsen, economista-chefe da Annex Wealth Management.

As muitas reviravoltas na política tarifária dos EUA desde o início do ano já acostumaram os investidores a mudanças abruptas nas políticas.

"Os traders e investidores aprenderam a encarar as posturas políticas com um grão de sal", disse Karl Schamotta, estrategista-chefe de mercado da Corpay.

A reação limitada, especialmente nos mercados de ações, também indica que alguns investidores veem a possível saída de Powell como a abertura do caminho para cortes nas taxas de juros, disseram alguns analistas.

"Há uma parte do mercado que deseja ver taxas mais baixas no curto prazo... eles ficam felizes em ter um corte pelo Fed", disse Wizman.

A despeito das preocupações com a independência do Fed, taxas mais baixas reduziriam os custos de empréstimos para as empresas, o que poderia incentivar o investimento e aumentar os lucros corporativos, além de tornar as ações relativamente mais atraentes em comparação com os títulos de menor rendimento e a poupança.

"Talvez alguns operadores gostem mais da ideia de taxas mais baixas do que da perda de independência", disse Steve Sosnick, estrategista-chefe da Interactive Brokers.

VISLUMBRE

Ainda assim, participantes do mercado advertiram que as oscilações do mercado nesta quarta-feira, por mais passageiras que tenham sido, ofereceram um vislumbre de como os mercados financeiros globais poderiam reagir caso Powell fosse demitido.

"A mini-brincadeira desta manhã deu ao governo um aviso claro das consequências negativas", disse Schamotta.

"O episódio de hoje proporcionou uma pequena amostra dos movimentos cataclísmicos que poderiam ocorrer se o governo Trump de fato avançasse com a desvinculação da âncora monetária mundial", disse ele.

Há semanas, os investidores estão preocupados com a possibilidade de Powell ser demitido de seu cargo antes do fim de seu mandato em maio próximo, conforme Trump o critica repetidamente por não reduzir as taxas de juros dos EUA com rapidez suficiente.

Mesmo que Trump não demita Powell, a simples indicação de um sucessor -- algo que Trump disse estar considerando -- perturbaria o mercado, disseram os investidores.

A indicação do próximo presidente do Fed com tanta antecedência em relação ao final do mandato de Powell criaria a probabilidade de um chair "sombra" do Fed que apresentaria pontos de vista potencialmente conflitantes com o líder do banco central em exercício sobre a política monetária. Isso poderia semear confusão no mercado sobre as perspectivas da política monetária, disseram investidores.

Essas ameaças à independência percebida do Fed podem levar os investidores a diminuir a exposição a ativos denominados em dólares e reavivar as preocupações sobre investimentos nos Estados Unidos que surgiram no início deste ano, quando Trump impôs tarifas pesadas aos parceiros comerciais globais, disseram estrategistas.

((Tradução Redação São Paulo))

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