Investing.com – Com a seca de ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês) no mercado de capitais local, as oportunidades estão direcionadas para fusões e aquisições (M&As) e emissões de crédito, de acordo com o banco de investimento independente BR Partners (BVMF:BRBI11), especializado em assessoria financeira e investimentos. No entanto, com juros em patamares elevados e em trajetória de alta novamente, a instituição monitora de perto se as operações de reestruturação podem ganhar mais fôlego.
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Em entrevista ao Investing.com Brasil, Vinícius Carmona, sócio e diretor de relações com investidores do BR Partners, disse que não há incentivo para IPOs neste momento, mas ainda haveria oportunidades em M&As. “Esperemos um bom ano de M&A, mas, de novo, com a ressalva de que poderia ser bem melhor”, ponderou. Caso o cenário para IPOs estivesse positivo, haveria um estímulo a mais para M&As também, segundo o diretor de RI.
“Então, o mercado bom de equity, ele é muito bom para o M&A também. Mas não está ruim o mercado de M&A, a gente não acha que vai ser um ano ruim também em 2025, mas como o custo, o juro está subindo muito, a gente deve começar a ver mais operações de reestruturação ganhando força”, detalha Carmona, indicando que essa tendência não deve ocorrer de um trimestre para o outro, no entanto.
O grande destaque fica por conta das emissões, com apetite do investidor direcionado para a renda fixa. Mas, com spreads mais apertados, as atenções estão direcionadas à trajetória da taxa de juros longos, o que considera uma resposta direta ao risco fiscal.
Leia a entrevista:
Investing.com – Quais vem sendo as principais avenidas de crescimento de vocês? Onde vocês estão enxergando um potencial de maior crescimento?
Vinícius Carmona – A gente entregou de forma bem unânime ao longo dos trimestres de 2024, não só o último, uma atividade muito forte em todas as verticais de negócios. Então, se você fizer uma comparação ano contra ano, todas as nossas verticais estão crescendo dois dígitos no comparativo ano contra ano.
Começando ali pelo Investment Banking, o ano de 2022 e 2023 foram anos mais fracos de atividade de M&A, muito por conta da maior alavancagem financeira das empresas nesses períodos, visto que a taxa de juros saiu de 2% em 2021, e num período de um ano e meio atingiu 13,75%.
Então, de fato, foi uma mudança muito radical da política monetária e que afetou o balanço das companhias, o custo de dívida subiu muito rapidamente. Esses temas mais estratégicos como o M&A, fusões, aquisições, JVs, movimentos estratégicos como um todo, acabaram ficando ali na gaveta, porque a prioridade de boa parte dos executivos passou a ser, primeiro, limpar a cozinha, olhar, organizar a casa. Então, o foco, a prioridade número um do management era reduzir as despesas financeiras, o custo de dívida, para depois retomar esses projetos mais estratégicos de crescimento inorgânico e tudo mais.
No final de 2023, a gente já começou a ver uma retomada desses projetos, e no ano de 2024 como um todo, porque saímos daquele ciclo de Selic a 13,75%, começamos a ver uma Selic que chegou a 10,25%, e as empresas conseguiram, de fato, fazer um trabalho muito bom de alongamento dos passivos, de renegociação das dívidas, de redução dos spreads. Então esse tema mais estratégico do M&A volta à tona. Embora agora a gente esteja voltando para o mesmo caminho que a gente estava há dois anos, porque o juro também voltou a subir, por enquanto, a gente vê um efeito positivo desses projetos que ficaram mais estacionados e bastantes oportunidades aconteceram do ano passado para esse.
Inv.com – Qual expectativa de cenário de M&As e IPOs para o ano que vem?
Carmona – Para IPO, tem três anos que não tem, e a gente não vê cenário nenhum para ter no ano que vem. Óbvio que a gente não tem bola de cristal, mas com esse custo de dívida, não tem incentivo nenhum. São dois motivos principais. Do lado do emissor da empresa, para uma empresa fazer IPO no mercado com um juro extremamente alto desse, ela vai ter que dar um desconto muito grande no papel. O valuation fica extremamente amassado.
O custo de diluição quando traz um capital primário, um IPO, nesse mercado, é muito alto. As empresas já nem têm apetite a isso. E o segundo ponto, que é fundamental também, é a questão do investidor. Com juros em 11,25%, e já tem analista projetando juros o ano que vem encostando ou passando os 13%, a gente vê que não tem por que a pessoa correr o risco no equity, se ele pode tomar o crédito de uma empresa super boa e ficar ali com uma rentabilidade de, muitas vezes, instrumentos de crédito isentos de imposto de renda, e ficar ali com uma rentabilidade de 12%, 13% ao ano, 14%, às vezes até mais. Então, a gente não vê nenhum incentivo para o mercado de IPOs. Agora, do lado do M&A, a gente vê bastante oportunidade ainda.
É lógico que se tivesse esse lado dos IPOs, o fácil acesso a recursos e o acesso mais barato a recursos, haveria um estímulo a mais para o M&A. Então, o mercado bom de equity, ele é muito bom para o M&A também. Mas, não está ruim o mercado de M&A, a gente não acha que vai ser um ano ruim também em 2025, mas como o custo, o juro está subindo muito, a gente deve começar a ver mais operações de reestruturação ganhando força.
Isso não deve acontecer de um trimestre para o outro, mas como a gente está imaginando a continuidade de juros elevados pelo menos até 2026, pode ser que ali no segundo semestre de 2025 a gente comece a ver mais oportunidade em reestruturação. Na verdade, a gente já está vendo, inclusive, casos muito pontuais, isolados, a gente tem visto uma boa oportunidade em reestruturação. Mas, assim, esperemos um bom ano de M&A, mas, de novo, com a ressalva de que poderia ser bem melhor.
Esse cenário de juros alto gera algumas oportunidades de consolidação, porque muitas vezes empresas menores que acabam ficando ali com a margem extremamente apertada, com o custo de dívida alto, e se tornam targets para serem adquiridas por players mais consolidados. Isso também deve gerar um pouquinho de atividade para 2025.
Inv.com – Quais as perspectivas para emissões no mercado de capitais?
Carmona – O Brasil está num ano recorde de emissões de mercado de capitais. A gente viu uma redução do ritmo de emissões nos últimos meses, mas, ainda assim, em patamares históricos elevados. Todo o apetite do investidor está direcionado para renda fixa, para o crédito. Então, até os emissores, as grandes empresas têm se aproveitado esse ano de 2024 para alongar passivo, porque os spreads comprimiram bastante. Naturalmente, como a demanda está muito forte, foi uma opcionalidade bem interessante para as empresas reciclarem os seus passivos e melhorarem a qualidade do funding.
A gente vê que isso continua. Obviamente que, agora que a Selic voltou a subir, gera uma preocupação, porque acho difícil continuar num ritmo de crescimento muito forte, com juro desse muito alto. Até quando a gente vê a NTNB longa, você pega a B de 10 anos, que na semana anterior passou de 7%, isso gera um mal estar no investidor e no empresariado também, porque com esse patamar de B longa, você acaba inviabilizando muito o projeto de investimento.
Mas, por enquanto, ainda tem bastante atividade. Acho que a grande questão é, porque as empresas estão bem ajustadas, de maneira geral, as grandes empresas, o large corporate, vamos dizer assim, está com uma saúde financeira boa, com ativos e com nível de atividade, tem que lembrar que o país está crescendo 3% esse ano. Então, o top line das empresas, o resultado, a geração de receita, melhorou significativamente também.
Você tem atividade, o que preocupa é quanto tempo vai durar esse juro alto, porque em um momento ou outro isso vai começar a incomodar as empresas e inibir grandes projetos, grandes investimentos, principalmente quando você fala de, vamos dizer, uma empresa ampliar uma planta industrial com financiamento acima de 10 anos, vai acabar deixando isso bem inviável. Mas te diria que a gente ainda está vendo bastante procura de emissores por um pouquinho de corporate finance, a gente tem bastantes clientes no real estate, no varejo também, então tem crescimento, tem oportunidade. Acho que 2025, pelo menos o começo do ano, deve ser bom, mas a gente tem que ficar, de fato, com o dedo no pulso, acompanhando esse mercado que está muito refém dos juros longos, uma resposta direta ao quadro fiscal do país.
Entendo que o [ministro Fernando] Haddad está tentando fazer o que pode para aprovar o pacote, mas a gente sabe das limitações, que é um governo que gosta de gastar, então, acho que essa questão do juro vai responder diretamente a isso, porque no fim do dia, quanto mais você aumenta o gasto, mais você pressiona a inflação. Pressionando a inflação, você tem que subir juros para conter isso. Isso causa um pouquinho de preocupação para o mercado de dívidas, com certeza, mas a gente tem conseguido navegar bem esse mercado nos segmentos que a gente atua, nesses produtos mais incentivados que têm um grau de estruturação maior, com bastante garantia, com uma recorrência grande dos nossos clientes e também dos investidores. Acho que não vejo, por enquanto, esse mercado virando. Obviamente, de novo, tem que ficar de olho nas Bs, como é que o mercado vai responder a isso.
Inv.com – Alguma mudança de estratégia que vocês estão vendo no curto ou no médio prazo em relação ao tipo de atuação com esses desafios nessa frente e também em relação à política de distribuição de dividendos, ela deve se manter a mesma? Alguma outra alteração que possa ser relevante para o investidor?
Carmona – Essa pergunta é interessante e ela até conversa com a pergunta anterior, porque a gente não discutiu ainda o Wealth Management, que é uma vertical nova, a gente começou no finalzinho do ano passado, que ainda, em termos de representatividade de receitas, é 2% da receita da companhia total.
É pouco, mas está crescendo em um nível extremamente interessante, tanto em nível de receita quanto no volume de fortunas que a gente está assessorando. Então, quando a gente pensa no crescimento da companhia, nos low hanging fruits, vamos dizer assim, a gente tem um espaço grande para crescimento dentro da plataforma do Wealth, a gente está bem animado com essa iniciativa, conseguimos no período de um ano formar uma carteira de gestão de 4.3 bi, e não é pouca coisa, eu estou falando do número já expressivo, que continua crescendo, então a gente está bastante animado com essa iniciativa, fora que o Wealth tem trazido muita oportunidade para as outras áreas de negócio também.
Porque nós temos famílias novas, nomes novos, e que obviamente são famílias que têm negócios, que têm empresas grandes e que também precisam de produtos de tesouraria, de dívida e até mesmo de assuntos mais estratégicos como o IB, então a gente está fomentando muito essa cultura do cross selling aqui dentro, porque isso de fato tem gerado bastante valor. Quando a gente pensa na vertical que tem mais potencial de crescimento aqui, sem dúvida é o Wealth. E estamos otimistas para 2025 continuar ganhando market share nesse segmento.
Sobre o payout, não está escrito em pedra, não há nenhum guidance, mas a gente decidiu aumentar o payout nesse terceiro trimestre por uma combinação de ter um colchão de capital grande, nós estamos com Basileia de 25% e também a gente está aproveitando para aumentar essa distribuição de dividendos, porque a gente acredita que vai ter uma tributação em cima disso em breve.
Para o curto prazo na companhia, a gente deve continuar trabalhando com um payout um pouco maior sim. Além disso, nós temos três anos e meio desde a abertura de capital. Nesse período, distribuímos R$ 406 milhões em dividendos, que é mais do que a nossa oferta do IPO, quando nós captamos R$ 400 milhões. Então a gente já devolveu, em retorno para o acionista, um valor superior ao valor do IPO, eu acho que isso é bem interessante, eu acho que esse payout mais alto que a gente tem entregue está diretamente alinhado com o investidor e também que a gente tem crescido lucro após ano, ano após ano, gerando muito caixa de fato. Então a gente vê que o mercado tem gostado dessa política nossa de gerar valor e retornar uma parte disso para o investidor, preservando a estrutura de capital, que a gente está bem capitalizado.