
Por Casey Hall e Nicholas P. Brown e Helen Reid
XANGAI/NOVA IORQUE, 18 Dez (Reuters) - Atraídas pela promessa de margens de lucro maiores, uma onda de marcas chinesas de bens de consumo está conquistando espaço no varejo norte-americano para compensar o fraco desempenho das vendas no mercado interno.
Ao longo de 2025, empresas como a Pop Mart 9992.HK (fabricante do Labubu), a Miniso 9896.HK (vendedora de bugigangas), a gigante de roupas esportivas Anta 2020.HK e a marca de fast-fashion Urban Revivo anunciaram novas lojas ou expansões de varejo nos EUA, tentando estabelecer uma posição no mercado consumidor mais rico do mundo, apesar das altas tarifas americanas (link) e do discurso sobre desvinculação econômica (link).
A tendência contraintuitiva, que começou a surgir em 2023 após a pandemia de Covid-19, acelerou-se este ano, à medida que a letargia nos gastos locais levou as empresas chinesas de bens de consumo a olhar para o exterior (link), inicialmente no Sudeste Asiático.
NOVA YORK: UM TESTE DECISIVO PARA UMA EXPANSÃO MAIS AMPLA
A Urban Revivo, muitas vezes chamada de "Zara da China", inaugurou sua loja principal em Nova York (link) em março.
A presença da empresa em uma capital da moda como Nova York foi um teste decisivo para um sucesso mais amplo em outros lugares, disse Leo Li, presidente e presidente-executivo do Fashion Momentum Group, empresa controladora da Urban Revivo, que no ano passado registrou receita de vendas próxima a US$ 1 bilhão.
"Ainda estamos no estágio inicial de entrada neste mercado", disse Li à Reuters. "Precisamos expandir continuamente nossa escala e ser lucrativos para sermos considerados verdadeiramente bem-sucedidos."
Ele afirmou que o sucesso da Urban Revivo no Ocidente dependeria da estratégia, do produto e do valor da marca, e minimizou as crescentes tensões comerciais entre os EUA e a China (link) que marcaram o retorno do presidente dos EUA, Donald Trump, ao cargo.
Uma análise da Reuters de documentos corporativos e publicações em redes sociais revelou que marcas chinesas, incluindo Urban Revivo, Auntea Jenny, Chagee, Luckin Coffee e Mixue, abriram suas primeiras lojas nos EUA em 2025. A Anta planeja inaugurar em breve uma loja em Beverly Hills.
A Miniso, que celebrou a abertura de sua 100ª loja em 2023, havia crescido para 421 lojas na América do Norte em setembro.
UMA CHANCE DE GANHAR 'QUATRO VEZES MAIS DINHEIRO'
A Pop Mart, que estreou nos EUA em 2023, operava 41 lojas no país em meados de 2025 e sinalizou planos de rápida expansão (link).
"O mercado norte-americano é enorme, com forte poder de compra", disse o presidente-executivo Wang Ning, após a divulgação dos resultados do primeiro semestre (link), que apresentou um crescimento superior a 1.000% na América do Norte.
As marcas que visam o mercado norte-americano já eram vencedoras no competitivo mercado consumidor chinês. Se obtivessem sucesso também nos EUA, poderiam colher margens de lucro muito maiores do que as a que estão acostumadas na Ásia.
"Muitas dessas empresas chinesas dizem: 'Crescemos na China com uma concorrência tremenda, uma pressão enorme, e se pudéssemos fazer exatamente a mesma coisa na América que fizemos na China, ganharíamos quatro vezes mais dinheiro'", disse Gabor Holch, fundador da consultoria East-West Leadership.
EMPRESAS CHINESAS ESTÃO VENCENDO NO PREÇO
Segundo analistas, o mercado-alvo mais provável seriam os consumidores ocidentais mais jovens e preocupados com os custos – que já compram em plataformas chinesas como Shein e Temu (de propriedade da PDD Holdings, PDD.O), que oferecem melhor custo-benefício.
"As marcas chinesas hoje estão se posicionando como alternativas mais acessíveis, ao mesmo tempo que constroem confiabilidade", disse Ivan Su, analista da Morningstar. "Você já experimentou um par de tênis de corrida chineses? Eles são bons."
A Anta, a maior marca de artigos esportivos em participação de mercado na China, à frente da Nike e da Adidas, pode conquistar consumidores globais com seus preços mais baixos, afirmou Andreas Döring, gestor de portfólio da Union Investment em Frankfurt, que detém ações da Anta.
O reconhecimento da marca representa um desafio nos EUA.
Ainda assim, uma expansão mais ampla nos EUA representa desafios para as marcas chinesas, muitas vezes pouco conhecidas fora de seu país de origem.
A loja da Anta em Beverly Hills e o patrocínio de estrelas do basquete norte-americano como Kyrie Irving têm como objetivo aumentar o reconhecimento da marca, afirmou Sagar Thanki, gestor de portfólio da Guinness Global Investors em Londres, outra acionista da Anta.
"Trata-se de construir confiança em um novo mercado, em vez de se lançar de forma totalmente descontrolada nos esforços para entrar nos EUA", disse Thanki.
Mas o preço e a novidade das marcas podem influenciar alguns consumidores mais jovens.
"A Zara tem um público consumidor mais sofisticado", disse Trina Jackson, de 50 anos, durante sua visita à loja da Urban Revivo em Nova York na semana passada.
"Pelo preço", acrescentou ela, "a qualidade aqui é melhor."
(US$ 1 = 7,1082 iuanes chineses)