
Por Aditya Kalra
NOVA DELI, 10 Dez (Reuters) - Uma investigação da Air India sobre o motivo pelo qual um de seus aviões Airbus realizou oito voos comerciais sem licença de aeronavegabilidade constatou "falhas sistêmicas", e a companhia aérea admitiu a necessidade de melhorar seu cumprimento das normas, conforme revelou um documento da empresa.
Um Airbus AIR.PA A320 transportou passageiros entre Nova Deli, Bengaluru, Mumbai e Hyderabad nos dias 24 e 25 de novembro sem o Certificado de Revisão de Aeronavegabilidade (ARC, na sigla em inglês), uma autorização essencial emitida anualmente pela agência reguladora após a aeronave passar por verificações de segurança e conformidade, de acordo com o documento.
A Air India constatou que engenheiros e pilotos não haviam verificado os documentos da aeronave e que mudanças eram necessárias para reforçar os protocolos de conformidade, afirmou a empresa.
"Informações cruciais não foram compartilhadas com todas as partes interessadas relevantes e oportunidades para intervenção oportuna foram perdidas", afirmou o relatório da investigação interna, que foi analisado pela Reuters.
"O incidente destaca a necessidade de melhorias urgentes na disciplina de processos, na comunicação e na cultura de conformidade", acrescentou o relatório, datado de 6 de dezembro.
Os resultados, acompanhados de uma carta de apresentação assinada pelo Capitão Basil Kwauk, Diretor de Operações, foram submetidos às autoridades de aviação indianas, mas ainda não foram divulgados ao público.
O relatório é uma admissão contundente de uma companhia aérea que sofreu seu pior desastre quando um Boeing Dreamliner caiu. (link) Momentos após a decolagem, em junho, 260 pessoas morreram. A Air India também recebeu advertências do órgão regulador por operar aeronaves sem realizar verificações. (link) Equipamentos de emergência, não troca de peças do motor no prazo e falsificação de registros para comprovar conformidade. (link), bem como outras falhas de auditoria (link).
Na semana passada, a Air India classificou o incidente com o Airbus em novembro como "lamentável" e informou que alguns funcionários foram suspensos, enquanto a Direção Geral de Aviação Civil (DGCA), órgão regulador da aviação civil na Índia, também se manifestou.(DGCA), ordenado (link) A aeronave deverá ser aterrada e foi solicitada uma investigação.
A Air India, pertencente ao grupo indiano Tata e à Singapore Airlines SIAL.SI, afirmou em comunicado à Reuters que relatou proativamente o incidente à DGCA (Diretoria Geral de Aviação Civil da Índia) e que "implementou medidas imediatas para evitar ocorrências semelhantes", acrescentando que continuará a fortalecer seus sistemas de conformidade.
A DGCA (Diretoria Geral de Aviação Civil) e a Airbus não responderam aos pedidos de comentários da Reuters.
PILOTOS ALERTADOS PARA TEREM CUIDADO
O setor de aviação da Índia atravessa uma fase turbulenta. A líder de mercado, IndiGo, cancelou milhares de voos na semana passada, interrompendo o tráfego aéreo em todo o país e reacendendo o debate sobre o domínio da IndiGo e da Air India no setor. (link) com mais de 90% de participação de mercado entre elas.
Uma violação do ARC pode acarretar uma multa de até 10 milhões de rupias.($ 111.201).
De acordo com a DGCA, o certificado é emitido anualmente para aeronaves comerciais após uma revisão e verificação abrangentes de sua conformidade com os padrões de aeronavegabilidade.
Normalmente, é emitido após os funcionários da DGCA realizarem uma inspeção física, que inclui verificações internas e externas, desde os kits médicos a bordo até o estado dos pneus.
A investigação da Air India concluiu que o A320 A aeronave, registrada como VT-TQN, realizou oito voos de passageiros e um voo de teste com um Certificado de Autorização de Voo (ARC) expirado devido à "convergência de múltiplas deficiências organizacionais e de processo latentes", segundo o relatório.
A investigação constatou que ambos os motores da aeronave foram trocados e que ela foi liberada para o voo de teste em 24 de novembro sem a autorização especial de voo necessária, porque o engenheiro de manutenção da aeronave "não verificou os documentos de bordo".
O relatório, elaborado após entrevistas com funcionários e análise de evidências internas, acrescentou que também foram negligenciadas outras verificações em voos de passageiros.
A investigação da Air India também culpou os pilotos, afirmando que aqueles que realizaram os oito voos não cumpriram os procedimentos operacionais padrão antes da decolagem.
Em 1º de dezembro, o diretor de operações de voo da Air India, Manish Uppal, lembrou a todos os pilotos, por meio de um email interno, que verificassem a documentação antes de cada voo, incluindo cartas de navegação, manifesto de carga e o ARC (Relatório de Antecedentes de Voo), segundo o relatório.
"O não cumprimento das políticas ou procedimentos operacionais padrão da empresa será considerado uma infração grave e poderá acarretar medidas disciplinares", dizia o email.
O relatório de investigação da Air India acrescentou que a companhia aérea agora pretende promover uma cultura focada na conformidade, "onde o cumprimento das normas regulamentares é priorizado em relação à conveniência operacional".