EXPLICAÇÃO-Como entidades chinesas já estão utilizando os poderosos chips de IA H200 da Nvidia

Por Eduardo Baptista

PEQUIM, 10 Dez (Reuters) - A decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de permitir a exportação para a China do segundo melhor chip de inteligência artificial da Nvidia, o H200, estimulará uma forte demanda (link) das gigantes tecnológicas do país, institutos de pesquisa e seu complexo industrial de defesa.

Pequim ainda não confirmou se permitirá a venda do chip na China, mas uma análise da Reuters de mais de 100 licitações e artigos acadêmicos mostra que ele já está sendo fornecido a compradores domésticos por meio do mercado cinza.

A análise mostra a natureza dos clientes na China que aproveitarão a oportunidade de comprar legalmente em grandes quantidades o chip H200, que é muitas vezes mais poderoso do que qualquer chip que a Nvidia esteja autorizada a vender naquele país.

UNIVERSIDADES E INSTITUTOS DE PESQUISA DE ELITE

As principais universidades da China possuem equipes de pesquisa focadas no desenvolvimento de IA, e a quantidade de chips de ponta que elas têm à disposição afeta diretamente o recrutamento de talentos e a pesquisa.

Um professor da Universidade Jiaotong de Pequim anuncia que seu laboratório possui oito chips H200, o que permite a pesquisa de modelos de IA.

Pesquisadores do Laboratório de Inteligência Artificial de Xangai, apoiado pelo governo, e das universidades Sun Yat-Sen, Tsinghua e Shanghai Jiao Tong usaram quatro processadores Nvidia H200 para treinar um modelo de IA projetado para detectar se uma imagem foi gerada por IA, conforme demonstraram em um artigo publicado no mês passado.

Em junho, um instituto estatal de IA na cidade de Hefei, no leste do país, lançou uma licitação para um servidor equipado com oito chips Nvidia H200 para alimentar um projeto de "modelo de IA quântica".

Dezenas de universidades e institutos de pesquisa em todo o país compraram ou tentaram adquirir chips H200, segundo a análise da Reuters.

EXÉRCITO CHINÊS E ENTIDADES AFILIADAS

Os críticos da China em Washington resistiram às medidas de Trump para reverter os controles de exportação da administração anterior, alegando que os militares chineses usariam os chips de IA mais avançados da Nvidia para turbinar suas capacidades.

A análise da Reuters sugere que os chips H200 já estão chegando às mãos do Exército de Libertação Popular e de universidades estreitamente ligadas a ele.

Em agosto, a Universidade Médica da Força Aérea do Exército de Libertação Popular em Xi'an lançou uma licitação para oito chips Nvidia H200 para treinar uma plataforma de treinamento para grandes modelos de linguagem, visando apoiar pesquisas em IA médica e biovigilância.

Na segunda-feira, a Escola de Segurança Cibernética da Universidade Beihang, uma das "Sete Filhos" da China, ou seja, universidades sob sanções dos EUA com histórico de pesquisa relacionada à defesa, lançou uma licitação buscando um fornecedor que pudesse alugar poder computacional de nível H200.

Entidades chinesas estão cada vez mais alugando tempo de uso em servidores equipados com chips da Nvidia, que são proibidos, como forma de acessar hardware restrito sem precisar importá-lo.

OPERADORES E CONSTRUTORES DE CENTROS DE DADOS DE IA

Mesmo antes do anúncio de Trump, alguns projetos chineses de clusters de IA e centros de dados já estavam de olho em grandes quantidades do chip H200.

Na província oriental de Jiangsu, uma empresa pertencente ao governo do condado de Binhai lançou uma licitação em julho para 48 servidores equipados com 384 chips H200, com entregas previstas para o final do ano.

Ambições maiores são visíveis na região do extremo oeste de Xinjiang, que testemunhou uma enorme expansão da infraestrutura de IA nos últimos anos, à medida que empresas e autoridades chinesas buscam os terrenos e a eletricidade mais baratos para grandes projetos de centros de dados.

Uma licitação realizada em 6 de junho pela Urumqi Jiangsuan descreve um plano para um hub de 20.000 petaflops, combinando mais de 8.000 GPUs H200, 12.000 GPUs RTX 4090 e 4.500 servidores equipados com processadores Huawei Ascend 910C, o chip de IA nacional mais poderoso disponível atualmente.

Um projeto separado de 1,86 bilhão de iuanes no condado de Burqin, no norte de Xinjiang, apresentado em outubro de 2024, detalha um centro de computação de energia verde dominado por 1.000 servidores com chips nacionais, mas complementado por um cluster menor de 100 servidores com chips H100 ou H200.

O H100, antecessor menos potente do H200, está proibido de ser exportado para a China desde o final de 2022.

Na província central de Hubei, a Xiaogan Yunqi Data Technology apresentou em outubro um pedido de licenciamento para um projeto de capacidade computacional no valor de 307 milhões de iuanes, com o objetivo de implantar 128 servidores H200 para a gigante das telecomunicações China Unicom até março do próximo ano.