
Por Francesco Guarascio
HANÓI, 10 Dez (Reuters) - Empresas chinesas estão se expandindo no Vietnã, liderando os fluxos de investimento e enviando remessas recordes para Hanói, desafiando os apelos dos EUA por uma desvinculação, enquanto os vizinhos comunistas fortalecem seus laços.
Medidas recentes às quais Hanói resistiu por muito tempo por motivos de segurança incluem contratos tecnológicos sensíveis para as empresas chinesas de telecomunicações Huawei e ZTE (link); aprovação de empréstimos chineses (link) para ligações ferroviárias de alta velocidade; e aeronaves COMAC de fabricação chinesa (link) liberadas pelos órgãos reguladores para uma importante companhia aérea.
As investidas de Hanói em direção a Pequim podem refletir sua política de longa data de equilibrar as relações exteriores após as promessas feitas a Washington (link) nas negociações comerciais, afirmou Alexander Vuving, do Centro de Estudos de Segurança da Ásia-Pacífico.
Mas se a tendência continuar, o Vietnã "pode se tornar um 'país dividido' em vez de um 'estado indeciso'", acrescentou, citando riscos para as relações com o Ocidente.
Embora a nação do Sudeste Asiático tenha aberto sua economia para as multinacionais e a tecnologia dos EUA após Washington ter suspendido o embargo na década de 1990, manteve-se cautelosa em relação à China, após a guerra e as disputas de 1979 sobre as fronteiras do Mar da China Meridional.
Agora a influência de Pequim está aumentando (link) e as relações com os EUA estão tensas devido às tarifas.
Empresas chinesas se comprometem a transferir tecnologia, algo raro até então, e enxergam cada vez mais o Vietnã como um mercado consumidor, e não apenas como uma base de montagem, segundo uma análise de dados e entrevistas com o setor feita pela Reuters.
Essa mudança foi impulsionada pelas tarifas de 20% impostas por Washington, afirmou Phan Xuan Dung, pesquisador do Instituto ISEAS-Yusof Ishak em Cingapura.
"As autoridades vietnamitas ficaram descontentes com o que consideraram medidas punitivas dos EUA, e isso as levou a buscar proteção, aproximando-se economicamente ainda mais da China", acrescentou.
O Ministério das Relações Exteriores do Vietnã e a Casa Branca não responderam aos pedidos de comentários.
O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que a cooperação econômica beneficia ambos os países.
IMPORTAÇÕES RECORDES DA CHINA
Apesar da pressão dos EUA para reduzir a dependência (link) de tecnologia e componentes chineses, as importações da China totalizaram cerca de US$ 168 bilhões até novembro, um aumento de quase 30% em relação ao ano anterior e já bem acima do total de 2024, que por si só já é um ano recorde, segundo dados vietnamitas.
Quase um terço são componentes eletrônicos, frequentemente reexportados em mercadorias destinadas aos EUA. As importações de bens de consumo, incluindo vegetais e carros, também estão aumentando.
O desvanecimento do sentimento anti-China (link) entre os vietnamitas mais jovens está ajudando a impulsionar esse crescimento, coincidindo com o esforço de Pequim para encontrar novos mercados em meio às tarifas dos EUA e encorajando as empresas chinesas a desafiar as líderes nacionais.
A fabricante de patinetes elétricos Yadea 1585.HK vendeu mais de 36.000 unidades no Vietnã nos primeiros 10 meses do ano, ficando em quarto lugar no ranking nacional, de acordo com dados de registro não públicos obtidos pela Reuters.
Embora esteja bem atrás da líder nacional em veículos elétricos, VinFast VFS.O, a Yadea é sua principal concorrente no mercado de veículos elétricos em rápido crescimento, enquanto as líderes em motores de combustão interna, Honda 7267.T e Yamaha 7272.T, perdem terreno (link) à medida que o Vietnã elimina gradualmente os veículos a gasolina.
A gigante dos veículos elétricos BYD 002594.SZ, que está expandindo suas concessionárias e estações de recarga em todo o país, também mantém seus números de vendas em sigilo.
A Yadea e a BYD não responderam aos pedidos de comentários.
Os varejistas chineses e as gigantes da tecnologia também estão avançando.
"Um dos destaques notáveis do mercado varejista de Ho Chi Minh desde o final de 2024 tem sido a entrada e expansão de marcas chinesas", afirmou a imobiliária CBRE em agosto, citando a disseminação de redes como a KKV na cidade de Ho Chi Minh, com uma tendência semelhante em Hanói.
O TikTok, pertencente à ByteDance, é a principal plataforma social de compras no Vietnã, segundo uma pesquisa realizada em outubro pela empresa de pesquisa de mercado Q&Me.
A Lazada, parte do Alibaba 9988.HK, está entre os principais sites de comércio eletrônico, enquanto a Tencent 0700.HK é investidora indireta na Shopee e na Tiki, as outras duas maiores varejistas online do Vietnã.
UMA NOVA GERAÇÃO DE INVESTIDORES
O investimento chinês no Vietnã vem crescendo há anos, à medida que os fornecedores se realocaram (link) para evitar as tarifas dos EUA.
Agora, as parcerias com empresas vietnamitas estão se tornando mais comuns, envolvendo, por vezes, transferência de tecnologia, afirmou Steve Bui, presidente do Conselho Empresarial Vietnã-China.
Além de acordos confidenciais, 12 membros chineses do conselho transferiram, ou planejam transferir, tecnologia para parceiros vietnamitas este ano em comparação com nenhum em 2024, disse ele, em sinal de compromissos de longo prazo.
Entre elas está a CNTE, apoiada pela fabricante de baterias CATL 300750.SZ, que produz sistemas de armazenamento de energia em baterias (BESS).
A CNTE firmou uma parceria com a Delta E&C, empresa liderada por Bui, para construir uma fábrica no norte do Vietnã com o objetivo de exportar 250 contêineres por ano a partir de outubro de 2026, disse Bui.
A CNTE afirmou estar fornecendo "suporte técnico".
De janeiro a novembro, empresas chinesas e de Hong Kong prometeram investir mais de US$ 6,7 bilhões, tornando-se os maiores investidores do Vietnã, conforme mostram os dados oficiais.
No parque industrial DEEP C, um dos maiores polos do norte do Vietnã, os fabricantes chineses representam um quarto dos inquilinos, um aumento em relação aos 10% registrados em 2019, afirmou o diretor de vendas Koen Soenens.
O que começou como uma estratégia de proteção tarifária agora é "tanto uma questão de seguro quanto de crescimento", disse Dan Martin, da consultoria Dezan Shira.
A escala e a diversidade dos projetos chineses "estão remodelando o panorama industrial do Vietnã", acrescentou ele.