
Por Will Dunham
WASHINGTON, 9 Dez (Reuters) - Cientistas que escavavam ruínas de Pompeia descobriram um canteiro de obras congelado no tempo pela erupção do vulcão Vesúvio em 79 depois de Cristo, esclarecendo os ingredientes e métodos por trás do concreto durável e que é capaz de se regenerar que os antigos romanos usaram para revolucionar a arquitetura.
O local representa um projeto de construção que estava em andamento quando a erupção enterrou Pompeia sob cinzas e rochas vulcânicas. Os pesquisadores encontraram salas onde as paredes estavam inacabadas e pilhas de material seco pré-misturado e ferramentas para pesagem e medição estavam no local para preparar o concreto.
"Estudar isso realmente me fez sentir como se eu tivesse viajado no tempo e estivesse ao lado dos trabalhadores enquanto eles misturavam e colocavam o concreto", disse Admir Masic, professor de engenharia civil e ambiental do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e líder do estudo publicado nesta terça-feira na revista Nature Communications.
Um material de construção indispensável, o concreto ajudou os romanos a erguer estruturas que incluíram estádios como o Coliseu, templos abobadados como o Panteão, banhos públicos e outros grandes edifícios, aquedutos e pontes diferentes de todos os outros criados até aquele momento na história. Como o concreto podia endurecer debaixo d'água, ele também era vital para a construção de portos e quebra-mares.
O método exato que eles usavam para fabricar o concreto vem sendo motivo de debate, com descobertas arqueológicas recentes que parecem contradizer os relatos feitos em um tratado do século I a.C. pelo arquiteto e engenheiro romano Vitruvius.
A descoberta de Pompeia mostrou que os romanos usavam uma técnica chamada "mistura quente", na qual um material chamado cal viva - calcário seco que foi previamente aquecido - é combinado diretamente com água e uma mistura de rocha vulcânica e cinzas, produzindo uma reação química que aquece naturalmente a mistura. Isso difere do método descrito por Vitruvius, que escreveu cerca de um século antes.
"Pompeia preserva edifícios, materiais e até mesmo trabalhos em andamento no estado exato em que se encontravam quando ocorreu a erupção. Ao contrário das estruturas acabadas que passaram por séculos de reparos ou intempéries, esse local captura os processos de construção no momento em que ocorreram", disse Masic.
"Para o estudo de tecnologias antigas, simplesmente não há paralelo", disse Masic. "Sua preservação excepcional oferece um verdadeiro 'instantâneo' da prática de construção romana em ação."
O edifício em construção combinava cômodos domésticos com uma padaria em funcionamento com fornos, bacias de lavagem de grãos e armazenamento. As evidências indicam que a técnica descrita por Vitruvius, conhecida como cal apagada, não era usada para construir paredes. Esse método pode ter ficado ultrapassado na época do projeto em Pompeia.
"Imagine o que 100 anos de diferença podem significar para a tecnologia de construção. Uma boa analogia poderia ser os primeiros telefones. Nos anos 1920-30: discagem rotativa, linhas de cobre de longa distância. Na década de 2020: smartphones usando sinais digitais comutados por pacotes e redes sem fio", disse Masic.
A técnica de mistura a quente contribuiu para as propriedades de regeneração do concreto, reparando quimicamente as rachaduras. O concreto contém restos brancos da cal usada em sua fabricação, chamados de "clastos de cal", que podem se dissolver e recristalizar, "curando" as rachaduras que podem se formar com a infiltração de água.
"Isso permitiu que os construtores construíssem estruturas monolíticas maciças, abóbadas e cúpulas complexas e portos com concreto que curava debaixo d'água. O concreto expandiu fundamentalmente o que podia ser construído e como as cidades e as infraestruturas eram concebidas", disse Masic.
A nova compreensão do concreto romano pode ser relevante para os arquitetos modernos.
"Os concretos modernos geralmente não têm capacidade intrínseca de regeneração, o que é cada vez mais importante à medida que buscamos uma infraestrutura mais duradoura e de menor manutenção", disse Masic. "Portanto, embora o processo antigo em si não seja um substituto direto para os padrões modernos, os princípios revelados podem informar o projeto de concretos duráveis e de baixo carbono da próxima geração."
((Tradução Redação São Paulo, 55 11 56447753))
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