
Por Michael S. Derby
3 Dez (Reuters) - O Federal Reserve parece ter finalmente dado a volta por cima em uma sequência de três anos de prejuízos sem precedentes ligados à forma como implementou a política monetária após a pandemia da Covid-19.
Nas últimas semanas, os dados divulgados pelo banco central dos Estados Unidos mostram que, desde o início de novembro, o Fed começou a ganhar dinheiro suficiente novamente para, muito lentamente, começar a cobrir um mecanismo contábil que usa para capturar suas perdas.
Desde 5 de novembro, o tamanho do chamado ativo diferido do Fed diminuiu, passando de US$243,8 bilhões para US$243,2 bilhões em 26 de novembro. É uma pequena mudança, mas também é uma mudança clara em uma tendência de longo prazo.
Os observadores do Fed não sabem quanto tempo levará para o Fed cobrir seu ativo diferido e devolver novamente o dinheiro ao Tesouro norte-americano, mas suspeitam que esse esforço será medido em anos.
Bill Nelson, ex-funcionário de alto escalão do Fed, que agora é economista-chefe do grupo de lobby Bank Policy Institute, disse que, ao acompanhar o desempenho financeiro dos bancos regionais do Fed, o Fed "parece estar no caminho certo para que os lucros combinados dos 12 bancos da Reserva sejam superiores a US$2 bilhões no trimestre atual."
O ativo diferido do Fed contabiliza as perdas que devem ser cobertas antes que o Fed possa novamente devolver seus lucros ao Tesouro, como é exigido por lei. O Fed financia suas operações por meio da receita que obtém de seus títulos e dos serviços que presta ao setor financeiro. O que sobrar é então devolvido ao Tesouro.
Essa configuração fez com que, durante a maior parte da história moderna do Fed, ele se tornasse uma fonte constante de renda para o restante do governo. Mas isso mudou durante a pandemia, o que acabou levando o Fed a começar a perder dinheiro em setembro de 2022.
Para ajudar a estabilizar o sistema financeiro e fornecer estímulo econômico adicional, o Fed comprou títulos do Tesouro e hipotecários para reduzir os custos de empréstimos de longo prazo. Isso mais do que dobrou o tamanho das participações do Fed, atingindo um pico de US$9 trilhões no verão de 2022.
O desafio para o Fed surgiu no mesmo ano em que seus títulos chegaram ao máximo. O aumento das pressões inflacionárias fez com que o Fed aumentasse drasticamente os juros a partir do início de 2022. Isso gerou um descompasso crescente na receita que o Fed estava obtendo em relação ao que precisava pagar aos bancos para administrar as taxas de juros.
Os cortes nos juros interromperam em grande parte o prejuízo do Fed, o que significa que ele está pagando menos aos bancos para manter a faixa da meta de taxa dos fundos federais, que agora está entre 3,75% e 4%, depois de atingir entre 5,25% e 5,5% em 2023. É provável que o Fed tenha pela frente mais cortes nos juros, já que as autoridades estão preocupadas com a situação do mercado de trabalho.
((Tradução Redação São Paulo))
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