
Por Aditya Kalra e Munsif Vengattil
NOVA DELI, 2 Dez (Reuters) - Apple AAPL.O não planeja cumprir a exigência de pré-instalar um aplicativo de segurança cibernética estatal em seus smartphones e comunicará suas preocupações a Nova Délhi, disseram três fontes familiarizadas com o assunto, após a medida do governo ter gerado preocupações com a vigilância.
O governo indiano ordenou confidencialmente que empresas como Apple, Samsung 005930.KS e Xiaomi 1810.HK pré-instalem em seus telefones um aplicativo chamado Sanchar Saathi, ou Parceiro de Comunicação, dentro de 90 dias. O aplicativo tem como objetivo rastrear telefones roubados, bloqueá-los e impedir seu uso indevido.
O governo também quer que os fabricantes garantam que o aplicativo não seja desativado. E para os dispositivos já na cadeia de suprimentos, os fabricantes devem disponibilizar o aplicativo para os celulares por meio de atualizações de software, conforme noticiado inicialmente pela Reuters na segunda-feira (link).
O Ministério das Telecomunicações da Índia confirmou a medida posteriormente, descrevendo-a como uma medida de segurança para combater uma "séria ameaça" à segurança cibernética. No entanto, opositores políticos do primeiro-ministro Narendra Modi e defensores da privacidade criticaram a medida, alegando que se trata de uma forma de o governo obter acesso aos 730 milhões de smartphones da Índia.
Apple não planeja cumprir a diretiva e informará ao governo que não segue tais exigências em nenhum lugar do mundo, pois elas levantam uma série de questões de privacidade e segurança para o ecossistema iOS da empresa, disseram duas fontes do setor familiarizadas com as preocupações da Apple. Elas pediram para não serem identificadas publicamente, pois a estratégia da empresa é confidencial.
"Não é só como pegar uma marreta, é como uma espingarda de dois canos", disse a primeira fonte.
Apple e o Ministério das Telecomunicações não responderam aos pedidos de comentários.
Para combater o recente aumento de crimes cibernéticos e ataques de hackers, a Índia está se unindo a autoridades de todo o mundo, mais recentemente à Rússia, para elaborar regras que impeçam o uso de telefones roubados para fraudes ou para promover aplicativos de serviços governamentais apoiados pelo Estado.
"O GRANDE IRMÃO NÃO PODE NOS VIGIAR"
A ordem causou alvoroço dentro e fora do Parlamento na terça-feira, com vários parlamentares acusando o governo de introduzir um aplicativo que funcionaria como ferramenta de espionagem. Rahul Gandhi, do principal partido de oposição da Índia, o Congresso Nacional Indiano, afirmou que planejava se pronunciar sobre o aplicativo no Parlamento.
O Congresso pediu a revogação do mandato. No X, KC Venugopal, um dos principais líderes do Congresso, disse: "O Grande Irmão não pode nos vigiar".
O comunicado de imprensa do governo Modi afirmou que o aplicativo pode ajudar a combater incidentes de números IMEI duplicados ou falsificados, que possibilitam golpes e uso indevido da rede.
"Índia possui um grande mercado de dispositivos móveis usados", afirmou o Ministério das Telecomunicações em um comunicado divulgado na noite de segunda-feira. "Também foram observados casos em que aparelhos roubados ou bloqueados estão sendo revendidos."
OUTRAS EMPRESAS ANALISAM ORDEM DO GOVERNO INDIANO
Embora Apple controle rigorosamente sua App Store e o software proprietário iOS — que são cruciais para seu negócio de serviços de US$ 100 bilhões por ano —, o Android do Google é de código aberto, permitindo que fabricantes como Samsung e Xiaomi tenham maior liberdade para modificar seus softwares.
Segunda fonte afirmou que Apple não planeja recorrer à justiça nem se manifestar publicamente, mas informará ao governo que não pode cumprir a ordem devido a vulnerabilidades de segurança.
Apple "não pode fazer isso. Ponto final", disse a pessoa.
A ordem de instalação do aplicativo surge em meio a uma batalha judicial entre Apple e um órgão regulador indiano sobre a lei antitruste do país. Apple afirmou que corre o risco de enfrentar uma multa de até US$ 38 bilhões no caso (link).
Outras marcas, incluindo Samsung, estão analisando o pedido, disse uma quarta fonte do setor familiarizada com o assunto. Samsung não respondeu às perguntas da Reuters.
Fontes afirmaram que o governo prosseguiu com a ordem sem consultar a indústria.