EXCLUSIVO-Norte-americanos que aguardam subsídios do Obamacare adiam ou cancelam seus planos de saúde.

Por Amina Niasse

NOVA YORK, 24 Nov (Reuters) - Autoridades de vários estados norte-americanos afirmam que os cidadãos que dependem de subsídios para pagar o seguro saúde do Obamacare estão adiando a inscrição devido aos aumentos previstos para 2026, que podem mais que dobrar. Um dos estados registrou uma queda de até 33% nas inscrições.

De mais de uma dúzia de estados que vendem diretamente aos seus residentes planos de saúde estabelecidos pela Lei de Acesso à Saúde (Affordable Care Act) - frequentemente chamada de Obamacare - sete, incluindo Califórnia e Maryland, disseram à Reuters que as inscrições estão mais lentas em comparação com o ano passado.

Ainda há tempo para que as inscrições aumentem, disseram alguns, sendo as próximas semanas consideradas cruciais. Uma votação em dezembro no Senado dos EUA – caso aconteça – ainda poderia ser um resgate de última hora para os subsídios do programa. Outras mudanças importantes seriam difíceis de implementar para o próximo ano, afirmam especialistas.

As grandes vitórias dos democratas em novembro recolocaram a saúde no centro do debate político norte-americano e deixaram os republicanos em busca de soluções para o problema antes das eleições de meio de mandato do ano que vem, que definirão o controle do Congresso. O presidente Donald Trump (link) havia dito que apoiava o repasse direto de fundos aos consumidores, evitando as seguradoras de saúde, mas pode estar considerando alternativas.

O Politico noticiou na segunda-feira que Trump estava considerando uma prorrogação de dois anos dos subsídios (link).

"As pessoas estão tendo que fazer escolhas muito difíceis para descobrir como manter o plano de saúde ou tomar a difícil decisão de cancelar o plano", disse Ingrid Ulrey, diretora executiva da Washington Health Benefit Exchange.

Ulrey afirmou que 7.000 pessoas no estado de Washington deixaram de ter planos de saúde desde o início do período de inscrição, um aumento de 21% nas desistências em relação ao ano anterior.

O Departamento de Saúde e Serviços Humanos não respondeu ao pedido de comentário.

REDUZIR E BUSCAR ALTERNATIVAS

Alguns consumidores estão optando por alternativas como planos de cobertura de curto prazo, projetados para serem usados em casos de emergência médica, ou aderindo a planos de compartilhamento de custos de saúde gerenciados por grupos religiosos, disseram algumas autoridades e corretores.

Um porta-voz da Covered California afirmou que as inscrições caíram 33% em comparação com o período de inscrição do ano passado. A Pensilvânia relatou uma queda de 12% nas novas inscrições entre 2025 e 2026, e para cada nova inscrição, duas pessoas já inscritas cancelaram a cobertura. Virgínia, Maryland, Rhode Island e Connecticut também apresentaram um ritmo mais lento de inscrições.

Aproximadamente 24 milhões de pessoas aderiram aos planos em 2025, sendo que cerca de 22 milhões receberam subsídios com base na renda. Créditos tributários ampliados para famílias com renda acima de 400% do nível federal de pobreza foram introduzidos em 2021, durante a pandemia de Covid-19, e devem expirar no final de 2025.

A empresa de pesquisa de saúde KFF estima que os prêmios de seguro saúde mais que dobrarão (link), especialmente para aquelas pessoas que estão no topo da escala.

Ulrey afirmou que a queda nas matrículas ativas em Washington foi composta principalmente por famílias com renda média de US$ 107.000 por ano.

Os planos visavam aumentar o acesso à saúde nos EUA, atraindo seguradoras para um mercado estável. As seguradoras que oferecem esses planos já previam um ano difícil em 2026 devido ao aumento dos custos médicos e à redução do número de inscritos.

A Aetna, da CVS Health CVS.N, anunciou em maio que deixaria o negócio completamente. A UnitedHealthcare UNH.N afirmou que reduziria sua oferta de planos do Obamacare em mercados menos favoráveis, enquanto a Centene CNC.N e a Cigna CI.N sinalizaram possíveis ajustes de preços relacionados ao fim dos subsídios.

Estados aguardam decisões dos parlamentares.

Lindsay Lang, diretora da Health Source RI, afirmou que um número crescente de moradores cancelou consultas com funcionários estaduais que auxiliam os consumidores a se orientarem no mercado de produtos de saúde.

"Se houver uma votação no Congresso, ela ocorrerá em dezembro, e isso é realmente a última hora", disse Lang.

Segundo dois funcionários e três especialistas do setor, se os parlamentares prorrogarem diretamente os subsídios no valor atual, a implementação retroativa seria viável para os estados.

"Isso é relativamente simples para nós fazermos em nosso sistema", disse Lang, de Rhode Island.

Michele Eberle, diretora executiva da Maryland Health Benefit Exchange, afirmou que a implementação das sugestões republicanas de subsídios diretos e outras alterações na estrutura dos créditos fiscais exigiria documentação, novas tecnologias e testes de sistema que não poderiam ser realizados a tempo para o próximo ano.

"Não creio que nenhuma plataforma, incluindo a plataforma federal, consiga fazer mudanças sistemáticas tão rapidamente", disse Eberle.

Whitney Stidom, executiva da plataforma de seguros de saúde eHealth, afirmou que os planos de curto prazo e de indenização, que reembolsam os compradores com um valor fixo, costumam ser a próxima opção para pessoas dispostas a abrir mão de uma cobertura de saúde abrangente, mas não cobrem condições preexistentes.

Quem busca planos mais baratos pode não saber que planos de saúde de curto prazo ou planos de compartilhamento de saúde de grupos religiosos geralmente não cobrem benefícios essenciais, como assistência à maternidade, serviços de saúde mental ou cuidados preventivos, afirmou Michelle Long, gerente sênior de políticas da KFF.

“Não é um seguro de saúde”, disse ela.