
Por Simon Jessop
BELÉM, BRASIL, 24 Nov (Reuters) - Apesar do descontentamento do governo dos EUA com a agenda climática global antes da cúpula COP30, as empresas norte-americanas não se intimidaram.
Uma análise da Reuters das listas de participantes mostra que havia 60 representantes de empresas da Fortune 100 no evento no Brasil, em comparação com 50 no evento do ano passado em Baku, Azerbaijão. Outros ainda participaram de eventos pré-conferência em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Empresas de tecnologia, incluindo a Microsoft MSFT.O e o Google GOOGL.O, a empresa de energia Occidental Petroleum OXY.N, a fabricante de automóveis General Motors GM.N e o Citigroup C.N estavam entre os representados em uma lista provisória da ONU de participantes da cúpula oficial.
"Não observamos nenhuma mudança perceptível no engajamento das empresas americanas com as políticas climáticas ao longo deste ano. E isso certamente se refletiu nos níveis de participação", disse Andrew Wilson, secretário-geral adjunto de políticas da Câmara de Comércio Internacional.
"Também estamos observando uma crescente preocupação em toda a indústria com relação aos custos cada vez maiores de eventos climáticos extremos -- o que reforça a necessidade de respostas políticas eficazes."
Os executivos disseram que não achavam que agora fosse um bom momento para se afastarem da discussão climática, visto que o aumento das temperaturas acarreta ameaças cada vez maiores para fábricas, cadeias de suprimentos e resultados financeiros.
"Estamos fazendo isso porque é bom para os negócios. Ajuda a criar segurança no abastecimento", disse o diretor de Sustentabilidade da PepsiCo PEP.O, Jim Andrew, à margem das negociações.
"Precisamos que os agricultores tenham sucesso, precisamos que continuem a cultivar", acrescentou. A empresa obtém a maior parte de suas receitas com alimentos.
PREENCHENDO O VAZIO
Darren Woods, presidente-executivo da ExxonMobil XOM.N, maior empresa petrolífera norte-americana, estava entre os executivos, prefeitos e outros líderes subnacionais dos EUA que participaram dos eventos que antecederam a COP30.
De acordo com Lou Leonard, primeiro reitor da Escola de Clima, Meio Ambiente e Sociedade da Universidade Clark, todos esses atores têm um papel importante no futuro da ação climática.
Uma análise recente liderada pelo Centro para a Sustentabilidade Global (CGS, na sigla em inglês) da Universidade de Maryland mostrou que as políticas existentes, tanto de entidades federais quanto não federais, levariam a uma redução de 35% nas emissões dos EUA até 2035.
Grande parte disso está sendo impulsionado pelas empresas.
"Apesar das manchetes, o setor privado continua investindo e implementando energia limpa", disse Gina McCarthy, ex-administradora da Agência de Proteção Ambiental dos EUA e atual copresidente da "America Is All In", uma coalizão de líderes não federais.
"No ano passado, os empregos em energia limpa nos EUA cresceram três vezes mais rápido do que o restante da força de trabalho do país."
A conferência COP30, com duração de duas semanas, também contou com a participação de muitas empresas norte-americanas de menor porte em setores que devem lucrar com a transição mundial para energia de baixo carbono, inclusive nos mercados de carbono.
"Estar aqui é sobre conectar-se globalmente", disse Brennan Spellacy, presidente-executivo da plataforma de créditos de carbono Patch. "A maioria das minhas reuniões aqui são com líderes de sustentabilidade e organizações da sociedade civil inglesas, francesas e alemãs."
PAPEL CRUCIAL
O presidente dos EUA, Donald Trump, classificou as mudanças climáticas como uma farsa. Mas, independentemente da posição do governo federal dos EUA, as regulamentações estão mudando em todo o mundo para acelerar a transição energética, embora o acordo final da COP30 tenha decepcionado alguns.
"Independentemente do que esteja vindo dos Estados Unidos, em termos de retórica, o mercado está se movimentando e os formuladores de políticas estão reconhecendo a direção que isso está tomando", disse Jack Hurd, presidente-executivo da Agenda do Sistema Terrestre do Fórum Econômico Mundial e da Aliança para as Florestas Tropicais.
Mais empresas norte-americanas também estão divulgando suas estratégias climáticas, embora a qualidade dos planos de empresas em todo o mundo permaneça baixa, segundo dados da plataforma de divulgação CDP.
Independentemente de estarem ou não no evento principal, a presença de empresas norte-americanas foi significativa, afirmou Maria Mendiluce, presidente-executiva da We Mean Business Coalition.
"Os EUA têm um papel decisivo nas políticas globais de clima, energia e indústria, portanto, a presença de líderes subnacionais, atores não estatais e empresas na COP30 é importante."
Mesmo quando a política interna está instável, os EUA moldam os mercados, os fluxos de capital e os rumos tecnológicos. Seu engajamento sinaliza aos investidores que a maior economia do mundo entende a importância da transição energética em termos de competitividade, inovação, segurança e cadeia de suprimentos.
(Reportagem e redação de Simon Jessop)
((Tradução Redação São Paulo))
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