Vitória de Mamdani em NY anima esquerda europeia contra o crescimento da direita

Por Catarina Demony e Sarah Marsh

LONDRES/BERLIM, 5 Nov (Reuters) - A chegada de Zohran Mamdani ao cargo de prefeito de Nova York encorajou os partidos de esquerda da Europa a acreditarem que uma agenda abertamente radical pode ajudar a virar a maré contra as forças de direita no continente.

Políticos de Londres a Berlim aplaudiram Mamdani, um democrata autodenominado socialista, de 34 anos, cujos vídeos virais e promessas de controle de valores dos aluguéis e taxação dos ricos em uma cidade vista como um farol do capitalismo global conquistaram os eleitores.

Partidos como A Esquerda, da Alemanha, e os Verdes, do Reino Unido, esperam ganhar impulso com a vitória de Mamdani, sinalizando que não enfraquecerão suas políticas nem serão sugados para o campo de batalha da direita em relação à migração.

A vitória também pode animar legendas tradicionais de esquerda, como o Partido Trabalhista do Reino Unido, que está em baixa nas pesquisas desde sua vitória eleitoral esmagadora no ano passado, e o Partido Social Democrata da Alemanha (SPD).

Zack Polanski, que este ano se tornou o primeiro líder judeu e abertamente gay do Partido Verde da Inglaterra e do País de Gales, foi comparado a Mamdani por seu uso das mídias sociais e por seus apelos por um imposto sobre a riqueza para reduzir a desigualdade.

Polanski disse à Reuters que a vitória de Mamdani mostra que "a esperança triunfou sobre o ódio".

"Isso é importante -- não apenas porque é importante para Nova York, mas, na verdade, acho que isso repercute em todo o mundo. Trata-se de melhorar a vida das pessoas, reconhecendo a desigualdade que existe tanto no coração de Nova York quanto, francamente, em grande parte do mundo", acrescentou.

"Trata-se de dizer: vamos reduzir as contas das pessoas e tributar multimilionários e bilionários", disse Polanski, cujo partido tem subido nas pesquisas depois de conquistar apenas quatro cadeiras em 2024.

O custo de vida é um dos principais focos da população no Reino Unido, onde a inflação dos alimentos, por exemplo, atingiu 19% em março de 2023, a mais alta em 45 anos, e a ministra das Finanças, Rachel Reeves, sinalizou "escolhas difíceis" e possíveis aumentos de impostos que estão por vir.

ESQUERDA BUSCA IMPULSO

Em um cenário político polarizado, o partido alemão A Esquerda foi uma surpresa nas eleições federais de fevereiro e espera aproveitar seu forte desempenho no próximo ano nas eleições locais, inclusive na capital Berlim. Assim como outros esquerdistas europeus, seus membros visitaram Nova York durante a campanha.

"Os problemas que as pessoas em Nova York enfrentam são muito semelhantes aos que ouvimos das pessoas aqui na Alemanha. Os aluguéis são inacessíveis, e os preços dos alimentos, da eletricidade, do aquecimento e do transporte público estão subindo mais rápido do que os salários", disse Jan van Aken, chefe do partido A Esquerda, à Reuters.

"Estamos em contato próximo com Zohran Mamdani e sua equipe e estamos aprendendo uns com os outros. A campanha dele é como um projeto para as eleições do próximo ano em Berlim", disse ele em um email. "A vitória de Zohran Mamdani nos dá impulso."

Preparado para se tornar o primeiro prefeito muçulmano de Nova York e o mais jovem desde 1892, as publicações de Mamdani nas mídias sociais repercutiram em ambos os lados do Atlântico com os eleitores atingidos pelo aumento da inflação e pela sobrecarga dos serviços públicos desde a pandemia.

"Estou congelando... seu aluguel", disse Mamdani aos nova-iorquinos depois de mergulhar nas águas geladas de Coney Island em janeiro, de terno e gravata.

A esquerda da Alemanha também está promovendo controles de aluguel e transporte gratuito ou altamente subsidiado, e usa uma mensagem direta. "Estamos enfrentando os ricos. Ninguém mais está fazendo isso", diz um dos cartazes de sua campanha.

Os esquerdistas na França, que está se preparando para eleições presidenciais em 2027, também se inspiraram.

"Finalmente, uma lição para a esquerda em todos os lugares: não é diluindo o liberalismo econômico que vencemos, mas lutando contra ele com unhas e dentes", escreveu Manon Aubry, do partido de extrema esquerda França Insubmissa (LFI), na rede social X.

CUSTO DE VIDA

Ao ser questionado sobre as lições que os partidos de esquerda deveriam tirar da vitória de Mamdani, Polanski disse que o custo de vida é importante acima de tudo e que os partidos progressistas devem oferecer soluções reais para isso.

Os partidos tradicionais mais estabelecidos também se animaram com a vitória de Mamdani.

"Para nós do SPD isso significa que devemos nos concentrar mais fortemente no que está no centro do nosso trabalho -- políticas sociais para a maioria da sociedade", disse à Reuters a parlamentar Rasha Nasr, do SPD.

O SPD, embora ainda no poder, obteve seu pior resultado desde a Segunda Guerra Mundial na última eleição.

"Na última campanha eleitoral federal, muitas vezes tentamos nos envolver em debates que, a essa altura, dificilmente poderiam ser vencidos em uma base factual, por exemplo, em relação à política de migração."

Tendo vencido com uma agenda radical, Mamdani enfrentará desafios para colocar suas promessas em prática. O presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou cortar o financiamento para a cidade de Nova York. Alguns, inclusive em Wall Street, esperam que Mamdani não consiga realizar mudanças drásticas.

"Agora vem a parte difícil", disse James Schneider, ex-diretor de comunicações estratégicas do Partido Trabalhista britânico.

"Transformar essa maioria eleitoral em poder real -- melhorando vidas a partir da prefeitura e, ao mesmo tempo, transformando seu exército de 100.000 voluntários em organizadores comunitários em todos os bairros da cidade."

(Reportagem de Catarina Demony e Elizabeth Piper, em Londres; Sarah Marsh e Holger Hansen, em Berlim; Elizabeth Pineau, em Paris; e Andrew Gray, em Bruxelas)