
Por Nancy Lapid
3 Nov (Reuters) - A gigante de bens de consumo Kimberly-Clark KMB.O anunciou que comprará a Kenvue KVUE.N por mais de US$ 40 bilhões, (link) embora a empresa menor esteja enfrentando processos judiciais (link) e alertas da Casa Branca sobre o medicamento Tylenol para dor e febre.
O presidente dos EUA, Donald Trump, alertou contra o uso de Tylenol em mulheres grávidas e bebês, associando-o ao autismo, apesar da falta de evidências conclusivas. O medicamento, vendido sem receita médica, é comercializado como acetaminofeno nos EUA e como paracetamol no Reino Unido.
O QUE DIZEM AS PESQUISAS SOBRE O USO DE ACETAMINOFENO DURANTE A GRAVIDEZ?
Não existem provas conclusivas de uma ligação entre o uso do medicamento e o autismo. Estudos recentes apresentaram conclusões contraditórias sobre se o seu uso durante a gravidez pode representar riscos para o feto em desenvolvimento.
Um estudo de 2024 (link) realizado com quase 2,5 milhões de crianças na Suécia não encontrou nenhuma relação causal entre a exposição ao acetaminofeno durante a gestação e distúrbios do neurodesenvolvimento, como o transtorno do espectro autista ou o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade.
Uma revisão de 2025 (link) de 46 estudos anteriores sugeriu uma ligação entre a exposição pré-natal ao acetaminofeno e o aumento do risco dessas condições, mas os pesquisadores da Escola de Medicina Icahn do Monte Sinai, da Universidade de Harvard e de outras instituições afirmaram que o estudo não comprova que o medicamento causou os desfechos. Eles aconselharam que as gestantes continuem a usar acetaminofeno conforme necessário, na menor dose possível e pelo menor período possível.
Grandes estudos realizados em 2025 na Europa e no Japão sugerem que o que podem parecer pequenas associações entre o uso pré-natal de acetaminofeno e distúrbios do neurodesenvolvimento podem, na verdade, ser devidas a outros fatores subjacentes, como condições ambientais, saúde e genética dos pais, outros medicamentos que as mães possam ter tomado e doenças.
QUAIS SÃO AS DIRETRIZES MÉDICAS PARA MULHERES GRÁVIDAS?
O acetaminofeno/paracetamol é o medicamento de primeira linha recomendado para dor e febre durante a gravidez, de acordo com as diretrizes do Colégio norte-americano de Obstetras e Ginecologistas, do Colégio Real de Obstetras e Ginecologistas do Reino Unido e de outras organizações médicas.
O uso de ibuprofeno, naproxeno e outros anti-inflamatórios não esteroides no terceiro trimestre da gravidez pode causar defeitos congênitos, alertam ambas as sociedades.
A ACOG recomenda que mulheres grávidas conversem com seu médico caso planejem tomar algum desses medicamentos.
QUAIS SÃO OS RISCOS DE NÃO REDUZIR A FEBRE DURANTE A GRAVIDEZ?
A febre e a dor materna não tratadas durante o desenvolvimento fetal podem aumentar os riscos de defeitos congênitos, como cardiopatias, defeitos da parede abdominal e defeitos do tubo neural, nos quais o cérebro e a medula espinhal não se formam adequadamente. Dor e febre não tratadas também têm sido associadas a parto prematuro, baixo peso ao nascer e aborto espontâneo.
Em mulheres grávidas, febre e dor não tratadas podem causar pressão alta, desidratação, depressão, ansiedade e outros problemas de saúde.
POR QUE O ASSUNTO ESTÁ EM FOCO AGORA?
Alegações de uma possível ligação têm sido o foco de processos judiciais movidos por pais e ativistas nos EUA contra varejistas, que os acusam de não alertar os consumidores de que o Tylenol da Kenvue e suas versões genéricas podem causar TDAH ou autismo.
Em dezembro de 2023, um juiz federal dos EUA desferiu um golpe em centenas de processos desse tipo, proibindo testemunhas especialistas de depor após constatar que elas não possuíam evidências científicas para suas alegações.
Em agosto de 2024, citando essa decisão, o juiz arquivou todos os processos no tribunal federal. Um tribunal de apelações dos EUA deverá ouvir os argumentos em novembro, em um recurso contra essa decisão.