
Por Che Pan e Wen-Yee Lee
PEQUIM/TAIPÉ, 31 Out (Reuters) - A fabricante holandesa de chips Nexperia suspendeu o fornecimento de wafers para sua fábrica de montagem na China, de acordo com uma carta endereçada a seus clientes e analisada pela Reuters, o que pode agravar a escassez de oferta (link) que preocupa as montadoras em todo o mundo.
A carta, datada de 29 de outubro e assinada pelo presidente-executivo interino da Nexperia, Stefan Tilger, afirma que a empresa suspendeu o fornecimento para sua fábrica em Dongguan, na província de Guangdong, no sul da China, em 26 de outubro, alegando que foi "uma consequência direta do recente descumprimento, por parte da administração local, dos termos de pagamento contratuais acordados".
A Nexperia está envolvida em uma disputa com sua unidade chinesa depois que o governo holandês assumiu o controle (link) da Nexperia de sua proprietária chinesa, a Wingtech Technology 600745.S, em 30 de setembro. Também destituiu seu presidente-executivo chinês, alegando preocupações de que sua tecnologia pudesse ser apropriada pela Wingtech.
A decisão da Nexperia ocorreu depois que a unidade chinesa da fabricante holandesa de chips retomou o fornecimento de semicondutores (link) para clientes locais, mas estipulou que todas as vendas para distribuidores deveriam ser liquidadas em iuan chinês. Anteriormente, as transações eram liquidadas em moedas estrangeiras, como o dólar norte-americano.
GRANDES VOLUMES DE CHIPS
A empresa produz grandes volumes de chips na Holanda, amplamente utilizados nas indústrias automotiva e de eletrônicos de consumo. Cerca de 70% dos chips produzidos na Holanda são embalados na China e vendidos principalmente para distribuidores.
"Embora tenhamos mantido os envios pelo maior tempo possível enquanto foi comercialmente viável, continuar o fluxo atual de suprimentos de nossas unidades de fabricação (front-end) não é mais justificável", dizia a carta.
"A menos que essas obrigações contratuais sejam totalmente cumpridas, não poderemos retomar o fornecimento de wafers para a fábrica. A Nexperia está desenvolvendo soluções alternativas para garantir a continuidade do fornecimento aos nossos clientes."
A Nexperia acrescentou que a decisão não reflete uma intenção de se retirar de sua unidade em Dongguan ou do mercado chinês como um todo, e que permanece empenhada em encontrar uma solução para o problema.
A Nexperia afirmou ser financeiramente independente da Wingtech e que não capta recursos da Wingtech, conforme consta na carta.
Um porta-voz da Nexperia confirmou o envio da carta e a empresa não pôde fazer mais comentários. A Nexperia China e a Wingtech não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.
Um porta-voz do governo holandês encaminhou as perguntas sobre a interrupção da produção de wafers à Nexperia, afirmando que a medida foi uma decisão corporativa, enquanto a intervenção estatal "diz respeito à preservação da capacidade de produção e não visa às operações diárias da empresa".
A Holanda está em negociações com governos europeus e a Comissão Europeia, bem como com autoridades chinesas, "para trabalhar em direção a uma solução construtiva", disse o porta-voz.
IMPACTO NA PRODUÇÃO
Documentos judiciais mostraram que a apreensão pelo governo holandês ocorreu em um momento de crescente pressão dos EUA sobre a Nexperia, após a Wingtech ter sido incluída em uma lista de exportações restritas, embora as autoridades holandesas afirmem que as deficiências de governança foram o estopim.
Em 4 de outubro, o Ministério do Comércio da China proibiu a Nexperia de exportar chips da China.
Entidades do setor alertaram para o possível impacto na produção, com a Stellantis STLAM.MI afirmando na quinta-feira que havia criado uma "sala de guerra" (link) para monitorar a situação.
A montadora japonesa Nissan 7201.T afirmou que possui chips suficientes no momento para durar até a primeira semana de novembro (link) sem interrupções.
Alguns produtos da Nexperia, que antes custavam apenas alguns centavos de iuan, tiveram um aumento de preço para dois ou três iuanes cada nas últimas duas semanas, mais de 10 vezes o custo original, de acordo com uma fonte familiarizada com o assunto.