Novas diretrizes dos EUA sobre Covid aumentam confusão e complicações para norte-americanos que buscam vacinas

Por Amina Niasse

NOVA YORK, 14 Out (Reuters) - Os norte-americanos que vão às farmácias para tomar a vacina contra a Covid-19 estão enfrentando obstáculos e confusão devido às novas diretrizes dos EUA que abandonaram o amplo apoio às vacinas, contribuindo para as menores taxas de vacinação desde que foram introduzidas.

No período de quatro semanas encerrado em 3 de outubro, as imunizações contra Covid caíram cerca de 25% em todo o país, de acordo com dados da IQVIA em notas de pesquisa de analistas.

Steven Thompson, um profissional financeiro de 41 anos de Salt Lake City, costuma tomar a vacina contra a Covid-19 por meio de um plano de saúde patrocinado pelo empregador. Em setembro, ele foi informado em uma farmácia Walgreens que precisava de receita médica. Utah, Geórgia e Louisiana vinham exigindo receita médica enquanto aguardavam a orientação do CDC dos EUA sobre quem deveria tomar a vacina.

O pediatra infantil de Thompson acabou de enviar receitas para a Walgreens. O médico de Thompson exigiu uma consulta.

"Odeio ir ao médico ou fazer qualquer atividade que não sei quanto vai custar", disse Thompson, que agora não planeja tomar a vacina, a menos que as taxas de infecção local aumentem.

ESTADOS AUMENTAM A CONFUSÃO

Utah autorizou farmacêuticos a fornecer a vacina sem receita no final de setembro, enquanto Geórgia e Louisiana retiraram a exigência no início deste mês. Um porta-voz da Walgreens disse que os pacientes não precisam mais de receita.

Desde a sua introdução em meados da pandemia, as vacinas contra a Covid têm sido recomendadas a qualquer pessoa nos EUA que as deseje. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA retiraram esse amplo apoio (link), solicitando primeiramente uma consulta com um profissional de saúde.

A medida ocorreu após a FDA aprovar vacinas atualizadas apenas para pessoas com 65 anos ou mais e aquelas em risco de doença grave. O Departamento de Saúde e Serviços Humanos, que supervisiona a FDA e o CDC, agora é liderado pelo veterano ativista antivacina Robert F. Kennedy Jr.

Nadia Hicks, gerente de comunicações de 31 anos de Atlanta, ficou surpresa ao saber que precisava de uma receita para receber a vacina no mês passado em uma farmácia Publix. Hicks, que tem asma, consultou seu médico para obter uma.

"Isso está causando muita ansiedade porque acho que quanto menos informações temos, mais difícil é saber... é necessário tomar a vacina agora?", disse ela, acrescentando que não recebeu o aviso usual de imunização do seu sistema de saúde.

Um porta-voz da Publix disse que suas farmácias agora podem administrar vacinas contra Covid na Geórgia sem receita médica.

As seguradoras de saúde contam com as diretrizes do CDC, informadas por recomendações de seus consultores especialistas externos, para definir seus termos de cobertura de vacinação.

Kennedy destruiu esse grupo consultivo (link) e o substituiu por membros cuidadosamente selecionados, muitos dos quais compartilham suas opiniões controversas sobre vacinas. Como resultado, alguns estados disseram que agora questionavam a base científica das orientações do CDC e começaram a definir suas próprias políticas. (link) As principais seguradoras disseram que fornecerão cobertura para a vacina até 2026. (link)

"As pessoas ouvem falar sobre o FDA, o CDC, seu departamento de saúde; há muitas discussões diferentes sobre qual é realmente a recomendação", disse o Dr. Aaron Milstone, especialista em doenças infecciosas pediátricas do Johns Hopkins Health System em Baltimore.

Taxas de vacinação nos EUA são mais altas do que em outras nações ricas

Na maioria dos países europeus, Canadá e Austrália, a orientação sobre a vacina contra a Covid já estava limitada a adultos mais velhos e pessoas com alto risco de Covid grave.

O ponto médio das taxas de vacinação para adultos com mais de 60 anos nos 21 países da União Europeia foi de 8,7% de agosto de 2024 a março de 2025, de acordo com o CDC europeu, bem abaixo da taxa dos EUA em 2024 entre adultos, de cerca de 23%, segundo dados do CDC.

As hospitalizações por Covid continuam representando um fardo para os sistemas de saúde, disse Jodie Guest, professora de epidemiologia na Universidade Emory.

"A ciência nos mostra muito claramente o quão importantes essas vacinas são para manter você individualmente seguro, mas também aqueles ao seu redor que estão nos grupos de risco muito alto", disse ela.

A diretora médica da CVS Health CVS.N, Amy Compton-Phillips, disse em uma entrevista que a demanda por vacinas contra Covid e gripe foi menor do que no ano passado.

“É um pouco desafiador no momento, porque os consumidores estão procurando organizações nas quais possam confiar”, disse ela.

A empresa, que opera uma das maiores redes de farmácias do país, disse que está fornecendo as vacinas em todo o país sem receita médica.

A Pfizer PFE.N, com a parceira alemã BioNTech 22UAy.DE, e a Moderna MRNA.O produzem vacinas contra a Covid baseadas na tecnologia de RNA mensageiro, cuja segurança Kennedy e aliados questionam, contrariando as evidências científicas. A Novavax NVAX.O e a parceira francesa Sanofi SASY.PA vendem uma vacina mais tradicional.

O atraso na orientação oficial do CDC sobre vacinas atualizadas após a aprovação mais limitada do FDA criou confusão entre consumidores e farmácias independentes, que representam cerca de um terço das farmácias dos EUA.

Roger Paganelli, farmacêutico da Farmácia Mt. Carmel, na cidade de Nova York, disse que muitos farmacêuticos têm receio de promover vacinas para pacientes não aprovadas pela FDA, e que alguns temem que as seguradoras possam se recusar a cobri-las.

Outros estão preocupados em perder a proteção legal que os protege de ações judiciais de pacientes, disse Paganelli, ex-presidente da Sociedade de Farmacêuticos do Estado de Nova York, que planeja continuar oferecendo a vacina.

Três especialistas em farmácia disseram que a orientação do CDC de consultar os pacientes atua como uma barreira à adesão, especialmente para populações de baixa renda em áreas carentes que dependem de imunizações sem hora marcada, onde o aconselhamento é impraticável.

“No que diz respeito às clínicas de atendimento em massa, as farmácias estão oferecendo apenas a vacina contra a gripe”, disse a Dra. Allison Hill, diretora da Associação norte-americana de Farmacêuticos, “porque nas últimas semanas temos oscilado bastante em relação à política da COVID-19”.