
Por John Irish
PARIS, 2 Out (Reuters) - O ministro das Relações Exteriores do Egito disse nesta quinta-feira que o Cairo trabalha com o Catar e a Turquia para convencer o Hamas a aceitar o plano do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para encerrar uma guerra de quase dois anos em Gaza, e alertou que o conflito deve aumentar em caso de recusa do grupo militante.
Em fala no Instituto Francês de Relações Internacionais em Paris, Badr Abdelatty disse que estava claro que o Hamas tinha que se desarmar e que Israel não precisava de uma desculpa para continuar sua ofensiva em Gaza.
"Não vamos dar nenhuma desculpa para que uma das partes use o Hamas como pretexto para essa matança diária e insana de civis. O que está acontecendo vai muito além do dia 7 de outubro", disse ele, referindo-se ao ataque do grupo islâmico a Israel em 2023, no qual 1.200 pessoas foram mortas e mais de 200 pessoas foram feitas reféns, de acordo com registros israelenses.
A ofensiva de Israel em resposta já matou mais de 66.000 pessoas em Gaza, segundo autoridades de saúde palestinas.
"Isso vai além da vingança. É uma limpeza étnica e um genocídio em andamento. Portanto, já chega", disse Abdelatty.
A Casa Branca divulgou no início desta semana um documento de 20 pontos exigindo um cessar-fogo imediato, uma troca de reféns mantidos pelo Hamas por prisioneiros palestinos detidos por Israel, uma retirada israelense de Gaza gradual, o desarmamento do Hamas e um governo de transição liderado por um órgão internacional.
Na terça-feira, Trump deu ao Hamas um prazo de três a quatro dias para concordar com o plano.
O Egito é um mediador importante nos esforços para encerrar a guerra de Gaza e Abdelatty disse que Cairo se coordena com o Catar e a Turquia para convencer o Hamas a responder positivamente ao plano, mas permaneceu muito cauteloso.
"Se o Hamas se recusar, você sabe, será muito difícil. E, é claro, teremos mais escalada. Portanto, é por isso que estamos nos esforçando intensamente para tornar esse plano aplicável e obter a aprovação do Hamas", disse.
Abdelatty acrescentou que, embora apoie amplamente a proposta de Trump para Gaza, são necessárias mais conversas sobre ela.
"Há muitos buracos que precisam ser preenchidos, precisamos de mais discussões sobre como implementá-la, especialmente em duas questões importantes -- governança e acordos de segurança", avaliou.
"Apoiamos o plano de Trump e a visão de acabar com a guerra e precisamos seguir em frente."
Questionado se temia que o plano de Trump pudesse levar ao deslocamento forçado de palestinos, o ministro respondeu que o Egito não aceitaria isso.
"O deslocamento não acontecerá, não acontecerá porque o deslocamento significa o fim da causa palestina", afirmou. "Não permitiremos que isso aconteça em nenhuma circunstância."
(Reportagem de John Irish)
((Tradução Redação Brasília))
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