Por Andrew Mills e Jana Choukeir e Ahmed Elimam e Jeff Mason
DOHA/DUBAI, 9 Set (Reuters) - Israel tentou matar os líderes políticos do Hamas com um ataque aéreo no Catar nesta terça-feira, aumentando sua ação militar no Oriente Médio com o que os EUA descreveram como um ataque unilateral que não promove os interesses norte-americanos e israelenses.
Enquanto Israel defendeu os ataques como sendo justificados, o Catar disse que Israel era traiçoeiro e estava envolvido em "terrorismo de Estado". O primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, disse que os ataques aéreos ameaçavam inviabilizar as negociações de paz que o Catar vem mediando entre o Hamas e Israel.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que considerava que atingir o Hamas era um objetivo digno, mas que se sentia mal pelo fato de o ataque ter ocorrido no Estado árabe do Golfo, que é um importante aliado de Washington que não pertence à Otan e onde o grupo islâmico palestino tem sua base política há muito tempo.
O ataque atraiu a condenação da Arábia Saudita, do Egito, dos Emirados Árabes Unidos e da União Europeia, e corre o risco de inviabilizar as negociações de cessar-fogo em Gaza e o esforço de Trump para chegar a um fim negociado para o conflito de quase dois anos.
O Catar é um parceiro de segurança dos Estados Unidos e abriga a Base Aérea de al-Udeid, a maior instalação militar dos EUA no Oriente Médio. Ele tem atuado como mediador ao lado do Egito nas negociações entre Israel e o Hamas para um cessar-fogo em Gaza, que parece estar cada vez mais difícil de ser alcançado.
O Hamas disse que cinco de seus membros foram mortos no ataque, incluindo o filho do chefe do Hamas exilado de Gaza e principal negociador, Khalil al-Hayya. Ele disse que Israel falhou no que o Hamas chamou de tentativa de assassinar a equipe de negociação de cessar-fogo do grupo.
O governo Trump recebeu um aviso dos militares norte-americanos sobre o ataque pouco antes de ele ocorrer, disse Trump em uma declaração nas mídias sociais. Ele não disse se foi Israel que notificou os militares dos EUA.
"Bombardear unilateralmente dentro do Catar, uma nação soberana e aliada próxima dos Estados Unidos, que está trabalhando arduamente e corajosamente assumindo riscos conosco para intermediar a paz, não faz avançar os objetivos de Israel ou dos Estados Unidos", escreveu Trump. "Entretanto, eliminar o Hamas, que tem lucrado com a miséria dos que vivem em Gaza, é um objetivo digno."
Suhail al-Hindi, membro do bureau político do Hamas, disse à TV Al Jazeera que a alta liderança do grupo sobreviveu ao ataque israelense. O ataque aéreo ocorreu depois que Israel advertiu os palestinos a deixarem a Cidade de Gaza, uma área que já abrigou cerca de um milhão de pessoas, enquanto tenta destruir o que resta do Hamas, que tem sido dizimado pelos militares de Israel desde outubro de 2023.
Trump disse que instruiu seu enviado Steve Witkoff a avisar o Catar que o ataque estava chegando, mas o Catar contradisse esses comentários, dizendo que os relatos de que recebeu um aviso antes do ataque eram falsos e que o telefonema de uma autoridade dos EUA ocorreu quando as explosões já estavam sendo ouvidas na capital do Catar, Doha.
"O Catar se reserva o direito de responder a esse ataque flagrante e tomará todas as medidas necessárias para responder", disse Al-Thani aos repórteres. Israel matou um membro das forças de segurança interna do Catar em seu ataque e feriu outros, disse o Catar.
Trump garantiu ao emir do Catar em um telefonema após o ataque que "tal coisa não acontecerá novamente em seu solo". O presidente dos EUA também conversou com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Autoridades israelenses disseram à Reuters que o ataque tinha como alvo os principais líderes do Hamas, incluindo Hayya. Israel ainda estava reunindo informações sobre o ataque e ainda não havia determinado se alguma autoridade ou líder do Hamas foi morto, disse à Reuters uma pessoa informada sobre o assunto.
Duas autoridades norte-americanas, falando à Reuters sob condição de anonimato, disseram que os militares dos EUA foram notificados por Israel pouco antes do ataque, mas não houve coordenação ou aprovação de Washington.
(Reportagem de Andrew Mills em Doha, Jana Choukeir em Dubai e Alex Cornwell, Steven Scheer e Maayan Lubell em Jerusalém, Reportagem adicional de Phil Stewart e Idrees Ali em Washington)
((Tradução Redação São Paulo))
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