Por Andrew Goudsward
FORT PIERCE, FLÓRIDA, 8 Set (Reuters) - O homem acusado de tentar matar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no ano passado em seu campo de golfe na Flórida começou a ser julgado nesta segunda-feira e, diante da perspectiva de prisão perpétua, optou por demitir sua equipe jurídica e se defender no tribunal.
Ryan Routh, de 59 anos, enfrenta cinco acusações, incluindo tentativa de assassinato de um importante candidato presidencial. Os promotores alegaram que ele se escondeu com um rifle perto do sexto green do Trump International Golf Club, em West Palm Beach, com a intenção de atirar no republicano durante uma partida de golfe nas últimas semanas da campanha de 2024.
Um agente do Serviço Secreto dos EUA avistou Routh escondido na fileira de árvores e abriu fogo, fazendo com que Routh fugisse antes de disparar um tiro, de acordo com documentos judiciais.
Routh se declarou inocente de todas as acusações.
O julgamento no tribunal federal de Fort Pierce, na Flórida, que começou com a seleção do júri nesta segunda-feira, provavelmente fornecerá um relato detalhado do que os promotores alegam ter sido o segundo atentado contra a vida de Trump em um período de dois meses. O atirador do primeiro atentado, que feriu Trump na orelha, foi morto no local.
Também é provável que o julgamento teste até onde Routh, um empreiteiro de telhados em dificuldades com um histórico de defesa quixotesca de democracias vulneráveis, incluindo Ucrânia e Taiwan, pode ir para transformar o processo em um fórum para suas próprias opiniões.
A juíza distrital Aileen Cannon, que supervisiona o caso, rejeitou nesta segunda-feira as perguntas propostas por Routh aos possíveis jurados do caso, classificando-as como "muito equivocadas" e irrelevantes para o processo. As perguntas, disse Cannon, incluíam questionamentos sobre o ativismo estudantil pró-palestino e o apoio de Trump à tomada da Groenlândia pelos EUA.
Desde que demitiu sua equipe de defensores públicos em julho, Routh usou documentos judiciais para propor uma "sessão de intimidação" com Trump, sugeriu a possibilidade de se trocar por um prisioneiro mantido pela China ou pelo Irã e tentou, sem sucesso, apresentar depoimentos de especialistas sobre seu próprio "narcisismo".
Routh, que não possui formação jurídica formal, fará as declarações de abertura e encerramento, interrogará testemunhas e apresentará provas em seu nome. Seus dois ex-advogados atuarão como "advogados reservas", prontos para prestar aconselhamento, caso sejam solicitados.
“Foi ridículo, desde o início, considerar um estranho qualquer, que não sabe nada sobre mim, para falar por mim”, escreveu Routh em uma carta a Cannon. “É melhor eu andar sozinho.”
NOMEADO POR TRUMP
Cannon, nomeada por Trump em seu primeiro mandato, também supervisionou o processo criminal que acusava Trump de ter acesso ilegal a documentos sigilosos. Ela atraiu ampla atenção e críticas de muitos juristas por sua decisão, no ano passado, de arquivar o caso com base na constatação de que o promotor principal havia sido nomeado ilegalmente.
Réus criminais têm o direito legal de autorrepresentação, mas a manobra de Routh insere um elemento imprevisível no julgamento e aumenta os riscos legais, disseram especialistas jurídicos.
"Se o único objetivo dele for ser absolvido, suas chances provavelmente diminuirão", disse Erica Hashimoto, professora de direito na Universidade de Georgetown, que estudou autorrepresentação em casos criminais. "Se ele tem algo mais que está tentando fazer indo a julgamento, então representar a si mesmo pode ser a única maneira de conseguir isso."
Routh procurou mostrar ao júri seus escritos anteriores defendendo as populações perseguidas e o “homem comum”, os quais ele citou como evidência de uma natureza não violenta.
Ele escreveu em um livro autopublicado em 2023 que votou em Trump em 2016, mas se desgostou dele desde então, considerando o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos EUA como parte de uma ofensiva global à democracia.
Routh enfrentará limites rígidos em sua capacidade de apresentar argumentos políticos ou ideológicos no julgamento. A acusação e a defesa concordaram previamente que ele não poderia argumentar que suas supostas ações eram de alguma forma justificadas ou necessárias.
Cannon já decidiu que alguns de seus escritos anteriores não podem ser apresentados como prova. Ela alertou Routh, em uma decisão recente, sobre o uso de depoimentos de testemunhas como "ferramenta para o caos calculado".
Os promotores planejam mostrar ao júri pelo menos uma carta supostamente escrita por Routh. A carta, endereçada a "Querido Mundo" e supostamente incluída em uma caixa deixada com um conhecido meses antes do incidente, começa assim: "Esta foi uma tentativa de assassinato contra Donald Trump, mas sinto muito por ter falhado com vocês".
Os promotores terão que mostrar que Routh pretendia matar Trump e tomou medidas substanciais para isso.
Os promotores alegam que Routh, em 15 de setembro de 2024, montou um "ninho de atirador" com vista para o sexto buraco do campo de golfe com um rifle estilo SKS carregado com 20 cartuchos de munição e placas balísticas para proteção.
No momento em que o Serviço Secreto avistou Routh, Trump estava a algumas centenas de metros de distância, perto do quinto buraco do campo, disseram os promotores. Ele teria chegado ao sexto green em cerca de 15 minutos.
(Reportagem de Andrew Goudsward)
((Tradução Redação São Paulo))
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