Julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal do Brasil termina sob escrutínio de Trump

Por Ricardo Brito e Luciana Magalhaes

BRASÍLIA, 2 Set (Reuters) - O julgamento histórico do ex-Presidente brasileiro Jair Bolsonaro entra na sua fase final, esta terça-feira, quando o Supremo Tribunal Federal começar a ouvir as alegações finais no caso que acusa o activista de direita de 70 anos de orquestrar uma conspiração para permanecer no poder após perder na sua candidatura à reeleição em 2022.

A recta final do julgamento, que deverá estar concluído até 12 de Setembro, desenrolar-se-á sob o olhar do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cuja administração prometeu acompanhar o caso que denunciou como uma "caça às bruxas" contra o seu aliado brasileiro.

Trump usou o caso como principal argumento para impor tarifas de 50% sobre muitas importações brasileiras, sancionar o juiz do Supremo Tribunal, Alexandre de Moraes, juiz que supervisiona o processo, e retirar os vistos da maioria dos seus colegas.

Bolsonaro tem mantido consistentemente a sua inocência, mesmo quando abdicou de qualquer esperança de ser absolvido pelo Supremo Tribunal, como disse à Reuters numa entrevista em Julho.

"Eles querem me condenar", disse ele.

No sábado, o juiz Moraes ordenou a inspecção de todos os veículos que saem da residência de Bolsonaro e reforçou a vigilância da área circundante para evitar qualquer fuga.

Moraes tornou-se um símbolo dos pontos fortes e fracos das instituições que Bolsonaro há muito ataca. Enquanto os seus apoiantes o vêem como um corajoso defensor de uma jovem democracia, os críticos de direita vêem as suas acções como uma perseguição politicamente motivada.

"Ele está a assumir um papel de liderança" para garantir que os crimes contra a democracia sejam punidos, disse a senadora Eliziane Gama, de centro-esquerda.

Como em muitos casos de grande repercussão no Supremo Tribunal Federal, o julgamento será transmitido ao vivo, atraindo milhões de brasileiros para suas TVs e telefones para testemunhar mais um capítulo dramático na saga política profundamente polarizada do país.

A recta final do julgamento encerra uma investigação de anos sobre as causas e o contexto da invasão e desfiguração de 2023 dos marcos cívicos mais emblemáticos do Brasil, como o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, por milhares de apoiantes de Bolsonaro que protestavam contra a sua derrota eleitoral.

O julgamento também pode atrair novas manifestações. No domingo, dezenas de pessoas manifestaram seu apoio a Bolsonaro em frente à sua casa em Brasília, e outros protestos estão programados para os próximos dias.

O facto de Bolsonaro, ex-capitão do Exército, e vários dos seus aliados, incluindo oficiais militares de alta patente, serem arguidos pode também marcar um acerto de contas histórico para um país que nunca responsabilizou as suas forças armadas pela liderança de uma ditadura violenta e corrupta de 1964 a 1985.

Embora o tribunal possa impor sentenças que totalizem mais de 40 anos, a lei brasileira normalmente permite que os criminosos condenados sejam libertados bem antes de cumprirem a pena total.

Texto integral em inglês: nL1N3UO0IY