
Por Crispian Balmer
VENEZA, 1 Set (Reuters) - Você se lembra de Amanda Seyfried como a estrela ensolarada em "Mamma Mia"? Bem, seu mais recente musical, "The Testament of Ann Lee", não poderia ser mais diferente.
O filme, que estreia no Festival de Cinema de Veneza nesta segunda-feira, acompanha Lee desde sua vida como trabalhadora infantil no norte da Inglaterra nos anos 1700 até se tornar a líder celibatária de uma seita cristã radical na América conhecida como Shakers.
"Quantas histórias já vimos sobre ícones masculinos em grande escala? Quantas histórias se repetem, se repetem e se repetem? Será que não podemos ver uma história sobre uma mulher como essa?", disse a diretora norueguesa do filme, Mona Fastvold.
Fastvold explica que escolheu Seyfried para o exigente papel principal por sua capacidade de acessar tanto as qualidades gentis quanto as ferozes que a complexa personagem exigia.
"Ela (Seyfried) é um pouco louca", disse a diretora. "Eu sabia que ela poderia acessar essas coisas -- a bondade, a gentileza, a ternura. E ela também poderia acessar esse poder e essa loucura."
Seyfried disse que se sentiu empoderada para se soltar no set quando sua personagem entrou em uma condição de transe, marcada por atos de devoção extáticos, trêmulos e exuberantes, que deram o nome aos Shakers.
"Vale tudo porque há muita liberdade, e a única ameaça é não usar essa liberdade a seu favor como artista para ir o mais fundo possível e fazer os sons mais loucos. Nunca me deixaram solta dessa maneira."
A atriz norte-americana reconheceu, porém, que tentou convencer Fastvold a encontrar uma atriz britânica para o papel.
"Eu sempre dizia para escolher alguém inglês porque o sotaque era muito difícil. E essa não foi a parte mais difícil, mas é que eu vi o amor que Mona tinha. Esse era o bebê dela, e eu não queria estragar tudo."
DESAFIO
Embora não seja um musical convencional, o filme incorpora movimentos coreografados e canções rítmicas e repetitivas inspiradas nos rituais Shaker, com base em cerca de 1.000 hinos originais.
Formalmente Sociedade Unida de Crentes na Segunda Aparição de Cristo, os Shakers eram conhecidos pelo celibato rigoroso e pela igualdade de gênero. Suas comunidades enfatizavam a simplicidade, o trabalho coletivo e a devoção espiritual, e também passaram a ser celebrados por sua arquitetura simples e móveis de madeira.
O corroteirista Brady Corbet, que é marido de Fastvold e dirigiu "O Brutalista", que foi um sucesso em Veneza no ano passado, disse que conseguir o financiamento foi um desafio.
"Nosso produtor... conseguiu que esse filme fosse feito por U$10 milhões. A proposta de um musical Shaker não foi a coisa mais fácil de sair do papel", disse ele.
O filme é o terceiro longa-metragem de Fastvold -- depois de "O Sonâmbulo" em 2014 e "The World to Come" em 2020 -- e é um dos 21 filmes que concorrem ao prêmio principal do Leão de Ouro, que será entregue em 6 de setembro.
(Reportagem de Crispian Balmer)
((Tradução Redação Brasília))
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