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Jogada de redistritamento do Texas, liderada por Trump, dá início a corrida nacional para controlar Congresso

Reuters5 de ago de 2025 às 22:46

Por Joseph Ax

- A escalada da luta política pelo mapa distrital do Texas está se espalhando por outros Estados do país, desencadeando uma corrida sem precedentes de redistritamento no meio de uma década, com o equilíbrio de poder em Washington em jogo.

A pedido do presidente Donald Trump, os republicanos do Texas propuseram novos distritos congressionais com o objetivo de mudar cinco cadeiras democratas na Câmara dos Deputados dos EUA nas eleições de meio de mandato do próximo ano, distorcendo ainda mais o que já é considerado um mapa profundamente partidário naquele Estado.

Em resposta, os governadores democratas de outros lugares -- principalmente Gavin Newsom, da Califórnia, o único Estado com mais distritos congressionais do que o Texas -- ameaçaram retaliar montando seus próprios esforços de redistritamento.

"Donald Trump é um trapaceiro, assim como o governador Greg Abbott", disse JB Pritzker, o governador democrata de Illinois, aos repórteres nesta terça-feira. Ao seu lado estavam vários dos parlamentares democratas do Texas que deixaram seu Estado natal na segunda-feira para impedir que os republicanos tivessem quórum e impedissem a votação do novo mapa proposto.

"No que me diz respeito, tudo está na mesa", disse Pritzker.

Os democratas precisam conquistar apenas três assentos mantidos pelos republicanos para retomar a maioria na Câmara de 435 assentos no próximo ano, portanto, até mesmo ganhos modestos para qualquer um dos partidos por meio do redistritamento podem ser decisivos. Se os democratas ganharem a Câmara, eles poderão impedir grande parte da agenda legislativa de Trump e realizar várias investigações sobre seu governo.

A prática de gerrymandering partidário -- manipular as linhas distritais para beneficiar um partido em detrimento de outro -- tem uma longa tradição nos Estados Unidos, mas o advento de softwares poderosos e dados sofisticados sobre os eleitores permitiu que os criadores de mapas se aprofundassem em ruas e bairros individuais.

Normalmente, o redistritamento ocorre a cada 10 anos para incorporar a contagem do Censo dos EUA. Trump rompeu com essa convenção ao pressionar abertamente os republicanos do Texas a fazer um raro redistritamento no meio da década para obter ganhos partidários, embora o mapa existente, que os republicanos desenharam há apenas quatro anos, tenha feito com que o partido ganhasse 25 das 38 cadeiras do Estado.

"Eu venci no Texas. Obtive a maior votação da história do Texas, como vocês provavelmente sabem, e temos direito a mais cinco cadeiras", disse Trump à CNBC nesta terça-feira, referindo-se à eleição presidencial de 2024.

Trump incentivou outros Estados republicanos a seguir o exemplo. Uma autoridade sênior da Casa Branca, falando sob condição de anonimato, disse à Reuters na semana passada que o governo acredita que até cinco Estados poderiam redesenhar seus mapas, incluindo a Flórida, onde o governador Ron DeSantis expressou sua disposição de tomar essa medida.

DEMOCRATAS PROMETEM REAGIR

Os republicanos de Ohio desenharão um novo mapa antes da eleição de novembro de 2026, que poderá mudar pelo menos duas cadeiras democratas. No Missouri, onde os democratas detêm duas das sete cadeiras do Estado, alguns parlamentares republicanos tiveram conversas preliminares sobre um novo mapa, de acordo com uma fonte familiarizada com o assunto.

Outros Estados controlados pelos republicanos que, em teoria, poderiam usar o redistritamento para atingir os democratas incluem Kansas, Kentucky e New Hampshire.

Os democratas, por sua vez, enfrentam alguns obstáculos legais em seus maiores Estados.

Na Califórnia, onde o redistritamento é supervisionado por uma comissão independente, os eleitores provavelmente teriam que aprovar a concessão aos parlamentares democratas do poder de desenhar um novo mapa.

Newsom disse na segunda-feira que apresentaria a questão aos eleitores no outono, caso o Texas avance. Especialistas afirmam que um mapa desenhado pelos democratas poderia facilmente atingir cinco titulares republicanos, embora os democratas já detenham 43 das 52 cadeiras do Estado.

A governadora de Nova York, Kathy Hochul, disse na segunda-feira que não iria "lutar com a mão amarrada nas costas". Mesmo assim, qualquer novo mapa em seu Estado exigiria que os eleitores aprovassem uma emenda constitucional, e esse processo não pode ocorrer antes de 2026.

Em Illinois, onde Pritzker e a legislatura controlada pelos democratas não têm restrições, os democratas já detêm 14 das 17 cadeiras do Estado na Câmara dos EUA, o que os deixa sem muito espaço de manobra.

AMEAÇAS AOS DEMOCRATAS DO TEXAS

Enquanto isso, no Texas, o procurador-geral republicano, Ken Paxton, disse nesta terça-feira que buscaria ordens judiciais declarando que todos os parlamentares democratas que não retornassem até sexta-feira perderiam seus assentos.

Os democratas consideraram essa ameaça vazia. David Froomkin, professor de direito da Universidade de Houston, disse não acreditar que os juízes aceitariam o argumento de que os parlamentares criaram vagas ao deixar o Estado em protesto.

"De modo geral, os tribunais consideram que um parlamentar renunciou à sua cadeira quando decidiu renunciar a ela", disse ele. "Neste caso, eles não pretendem deixar seus cargos -- eles estão exercendo seus cargos ao tentar impedir a aprovação de uma legislação que consideram preocupante."

A ameaça de Paxton vem na sequência de mandados emitidos pelo presidente republicano da Câmara do Texas, Dustin Burrows, para que as autoridades levem os parlamentares ausentes de volta à Assembleia estadual para uma votação. Abbott ordenou que a polícia estadual ajudasse a encontrá-los.

Mas todos os democratas deixaram o Estado, o que os coloca fora do alcance de qualquer agência estadual. Trump disse aos repórteres nesta terça-feira que o FBI "talvez tenha" que se envolver para forçar os democratas a voltarem ao Texas.

(Reportagem de Joseph Ax em Nova York; reportagem adicional de Nandita Bose em Washington)

((Tradução Redação São Paulo))

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