BRASÍLIA, 30 Jul (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em nota nesta quarta-feira que a motivação política do governo dos Estados Unidos para a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros atenta contra a soberania nacional.
A nota assinada por Lula considera, ainda, "injustificável o uso de argumentos políticos para validar medidas comerciais".
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs nesta quarta-feira uma tarifa de 50% sobre a maioria dos produtos brasileiros para combater o que ele chamou de "caça às bruxas" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, mas suavizou o golpe ao excluir setores importantes das taxas mais pesadas.
"O governo brasileiro considera injustificável o uso de argumentos políticos para validar as medidas comerciais anunciadas pelo governo norte-americano contra as exportações brasileiras", disse Lula.
"O Brasil tem acumulado nas últimas décadas um significativo déficit comercial em bens e serviços com os Estados Unidos. A motivação política das medidas contra o Brasil atenta contra a soberania nacional e a própria relação histórica entre os dois países", acrescentou o presidente.
Lula disse ainda que o Brasil "segue disposto a negociar aspectos comerciais da relação com os Estados Unidos", mas destacou que "não abrirá mão dos instrumentos de defesa do país previstos em sua legislação".
Na nota, o presidente também se solidariza com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), alvo de sanções do governo dos EUA sob o argumento de que estaria autorizando prisões arbitrárias antes do julgamento e suprimindo a liberdade de expressão.
"O governo brasileiro se solidariza com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, alvo de sanções motivadas pela ação de políticos brasileiros que traem nossa pátria e nosso povo em defesa dos próprios interesses", disse Lula na nota.
A menção aos políticos que traem o país parece ser uma alusão do presidente a, entre outros, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho de Jair Bolsonaro, que tem atuado nos Estados Unidos por sanções ao Brasil para pressionar por uma anistia aos envolvidos na tentativa de golpe e que tem o ministro Moraes como alvo frequente de seus ataques.
Moraes é relator do processo em que o ex-presidente é réu, acusado de tramar um golpe de Estado após perder a eleição de 2022 para Lula.
"Um dos fundamentos da democracia e do respeito aos direitos humanos no Brasil é a independência do Poder Judiciário e qualquer tentativa de enfraquecê-lo constitui ameaça ao próprio regime democrático. Justiça não se negocia", acrescentou Lula na nota.