Por Joseph Ax e Julia Harte
NOVA YORK, 30 Jul (Reuters) - Detetives da cidade de Nova York que investigam o tiroteio em massa desta semana estavam entrevistando conhecidos do agressor em seu Estado natal, Nevada, nesta quarta-feira, enquanto defensores de leis mais rígidas expressaram consternação por ele ter conseguido comprar uma arma legalmente no mês passado, apesar de duas hospitalizações por problemas de saúde mental.
As autoridades dizem que Shane Tamura, 27, dirigiu de sua casa em Las Vegas até Manhattan, andou até um arranha-céu comercial na segunda-feira e atirou fatalmente em quatro pessoas, incluindo um policial de folga, com um rifle de assalto antes de tirar a própria vida.
Tamura comprou legalmente um revólver em Nevada em junho, em uma loja de armas, disse a polícia de Nova York, embora, de acordo com várias reportagens, ele tenha sido hospitalizado em uma "crise de saúde mental" de emergência em 2022 e novamente em 2024.
Os detalhes desses episódios não eram conhecidos.
As autoridades disseram que Tamura portava um bilhete na segunda-feira, no qual afirmava sofrer de encefalopatia traumática crônica, ou ETC, uma doença cerebral associada ao futebol e outros esportes de contato que pode afetar o comportamento. A doença só pode ser confirmada após a morte.
O legista da cidade de Nova York disse em um e-mail que o cérebro de Tamura seria examinado como parte de uma autópsia completa, mas não disse se ele seria rastreado para identificação de ETC.
Tamura, que atirou no próprio peito na segunda-feira, comprou o rifle que usou no ataque de um supervisor do cassino onde trabalhava, por US$1.400, informou a CNN nesta quarta-feira, citando fontes policiais. A lei de Nevada exige que as vendas privadas de armas sejam feitas por meio de um revendedor de armas licenciado e incluam uma verificação de antecedentes.
Independentemente de ele ter obtido o rifle legalmente ou não, os defensores de leis mais rígidas sobre armas disseram que o caso mostrou a necessidade de regulamentações mais firmes em todo o país, especialmente para pessoas com problemas de saúde mental.
"É horrível... que um homem com problemas de saúde mental documentados tenha conseguido comprar uma arma, quanto mais uma arma com capacidade tão devastadora", disse Zohran Mamdani, candidata à prefeitura de Nova York, a repórteres nesta quarta-feira, pedindo a proibição nacional de rifles de assalto. Nova York é um dos dez estados que proíbem esse tipo de arma, de acordo com o grupo de defesa Everytown for Gun Safety.
A Associação Nacional do Rifle, a Associação de Armas de Fogo do Estado de Nova York e a Associação de Rifles e Pistolas do Estado de Nova York não responderam imediatamente aos pedidos de comentário. Os grupos se opõem às restrições a armas por considerá-las uma violação dos direitos individuais.
LEIS
Segundo a lei de Nevada, os policiais podem deter indivíduos em regime de emergência em instituições de saúde mental ou hospitais por até 72 horas para avaliação.
Em alguns Estados, incluindo Nova York -- que possui algumas das leis de armas mais rigorosas do país -- tais detenções emergenciais desencadeiam alguma versão de proibição de posse de armas, segundo especialistas. Mas na maioria dos Estados, incluindo Nevada, bem como sob a lei federal, apenas uma internação involuntária determinada judicialmente resulta na proibição de comprar e possuir armas.
"O que esse tiroteio em Nova York mais ressalta é que estamos seguros apenas na medida em que as leis do Estado mais fraco prevalecem", disse Nick Suplina, vice-presidente sênior de leis e políticas da Everytown.
Nevada decretou uma série de limites para armas desde o tiroteio em massa de outubro de 2017, que matou 58 pessoas em Las Vegas. A Giffords, outra organização de defesa da segurança de armas, atribuiu a Nevada uma nota "B-" em seu boletim anual de leis sobre armas, em comparação com um "A" para Nova York.
Uma nova lei de Nevada que entrou em vigor este mês -- tarde demais para se aplicar ao atirador de Manhattan -- permite que policiais apreendam temporariamente armas de alguém que esteja em regime de internação emergencial por problemas de saúde mental. O policial também pode solicitar ao tribunal a retenção das armas se a pessoa for considerada um perigo para si mesma ou para terceiros.
Essa lei é semelhante ao estatuto da "bandeira vermelha" de Nevada, que permite que autoridades policiais ou parentes peçam a um tribunal que apreenda armas de fogo de qualquer pessoa considerada de risco.
A nova lei era necessária porque os policiais de patrulha geralmente não têm tempo para fazer uma petição ao tribunal quando estão lidando com alguém em crise de saúde mental, de acordo com John Abel, diretor de assuntos governamentais da Associação de Proteção Policial de Las Vegas.
"Precisávamos ter a capacidade de pegar aquela arma de fogo com segurança e legalidade enquanto estávamos no local", disse ele.
Se a nova lei estivesse em vigor em 2022 e 2024, quando Tamura foi detido por motivos de saúde mental, os policiais poderiam ter apreendido temporariamente suas armas de fogo. Mas ele poderia retirá-las da delegacia assim que recebesse alta do hospital.
Embora se identifique como um "orgulhoso defensor da Segunda Emenda", Abel disse que acredita que Nevada precisa de mais legislação para "retirar armas de fogo das mãos de alguém que seja considerado incompetente para portá-las por motivos de saúde mental".
Vinte e um Estados promulgaram leis de alerta, de acordo com a Everytown for Gun Safety.
Tamura conseguiu obter uma licença para porte velado em 2022, de acordo com relatos da imprensa, embora não esteja claro se ele fez isso antes ou depois de sua primeira hospitalização.
Sua licença lhe permitiria comprar o revólver no mês passado sem uma verificação de antecedentes, segundo a lei estadual.
(Reportagem de Joseph Ax e Julia Harte; reportagem adicional de Rich McKay)
((Tradução Redação São Paulo))
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