Por Nidal al-Mughrabi e Olivia Le Poidevin
CAIRO/GENEBRA, 28 Jul (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta segunda-feira que muitas pessoas estão morrendo de fome em Gaza e sugeriu que Israel poderia fazer mais em termos de acesso humanitário, enquanto os palestinos lutavam para alimentar seus filhos um dia depois que Israel declarou medidas para melhorar o fornecimento.
À medida que o número de mortos em quase dois anos de guerra em Gaza se aproxima de 60.000, um número cada vez maior de pessoas está morrendo de fome e desnutrição, dizem as autoridades de saúde de Gaza, com imagens de crianças famintas chocando o mundo e alimentando as críticas internacionais a Israel sobre a piora acentuada das condições.
Ao descrever a fome em Gaza como real, a avaliação de Trump o colocou em desacordo com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que disse no domingo que "não há fome em Gaza" e prometeu lutar contra o grupo militante palestino Hamas -- uma declaração que ele repostou no X na segunda-feira.
Trump, falando durante uma visita à Escócia, declarou que Israel tem muita responsabilidade pelo fluxo de ajuda e que muitas pessoas poderiam ser salvas. "Tem muitas pessoas passando fome", disse ele.
"Vamos criar centros de alimentação", sem cercas ou limites para facilitar o acesso, afirmou Trump. Os EUA trabalharão com outros países para fornecer mais assistência humanitária ao povo de Gaza, incluindo alimentos e saneamento, disse ele.
Na segunda-feira, o Ministério da Saúde de Gaza informou que pelo menos 14 pessoas morreram nas últimas 24 horas de fome e desnutrição, elevando o número de mortos de fome na guerra para 147, incluindo 88 crianças, a maioria apenas nas últimas semanas.
Israel anunciou várias medidas no fim de semana, incluindo pausas humanitárias diárias nos combates em três áreas de Gaza, novos corredores seguros para comboios de ajuda e lançamentos aéreos. A decisão foi tomada após o colapso das negociações de cessar-fogo na sexta-feira.
Wessal Nabil, de Beit Lahiya, no norte de Gaza, descreveu a dificuldade de tentar alimentar seus três filhos. "Quando você vai para a cama com fome, você acorda com fome. Nós os distraímos com qualquer coisa ... para que se acalmem", disse ela à Reuters.
"Peço ao mundo, àqueles com corações misericordiosos, aos compassivos, que olhem para nós com compaixão, que sejam gentis conosco, que fiquem conosco até que a ajuda chegue e garantam que ela chegue até nós."
Duas autoridades de defesa israelenses disseram que a pressão internacional motivou as novas medidas israelenses, assim como a piora das condições no local.
As agências da ONU disseram que é necessário um fornecimento de ajuda estável e de longo prazo. O Programa Mundial de Alimentos afirmou que 60 caminhões de ajuda foram despachados -- abaixo da meta. Quase 470.000 pessoas em Gaza estão enfrentando condições semelhantes às da fome, com 90.000 mulheres e crianças precisando de tratamentos nutricionais especializados, acrescentou.
"Nossa meta no momento, todos os dias, é levar 100 caminhões para Gaza", disse à Reuters o diretor regional do PMA para Oriente Médio, Norte da África e Europa Oriental, Samer AbdelJaber.
Netanyahu negou qualquer política de fome em relação a Gaza, dizendo que os suprimentos de ajuda seriam mantidos independentemente de Israel estar negociando um cessar-fogo ou lutando.
TRUMP DIZ SER DIFÍCIL LIDAR COM O HAMAS
No domingo, Netanyahu disse que Israel continuaria a lutar até conseguir a libertação dos reféns restantes mantidos pelo Hamas e a destruição de suas capacidades militares e de governo.
Trump disse que ficou difícil lidar com o Hamas nos últimos dias, mas que ele estava conversando com Netanyahu sobre "vários planos" para libertar os reféns ainda mantidos no enclave.
A guerra começou em 7 de outubro de 2023, quando militantes do Hamas atacaram comunidades do outro lado da fronteira, no sul de Israel, matando cerca de 1.200 pessoas e fazendo 251 reféns, de acordo com os registros israelenses.
O Ministério da Saúde de Gaza disse que 98 palestinos foram mortos por fogo israelense nas últimas 24 horas.
Alguns dos caminhões que chegaram a Gaza foram apreendidos por palestinos desesperados e outros por saqueadores armados, segundo testemunhas.
"Atualmente, a ajuda vem para os fortes que podem correr na frente, que podem empurrar os outros e pegar uma caixa ou um saco de farinha. Esse caos deve ser interrompido e a proteção para esses caminhões deve ser permitida", disse Emad, 58 anos, que era proprietário de uma fábrica na Cidade de Gaza.
((Tradução Redação São Paulo))
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