Por Michel Rose e Sudip Kar-Gupta
PARIS, 28 Jul (Reuters) - A França classificou um acordo comercial-quadro entre os Estados Unidos e a União Europeia como um "dia sombrio" para a Europa, dizendo que o bloco havia cedido ao presidente dos EUA, Donald Trump, com um acordo desequilibrado que impõe uma tarifa de 15% sobre os produtos da UE, ao mesmo tempo em que poupa as importações dos EUA de qualquer retaliação europeia imediata.
As críticas do primeiro-ministro da França, François Bayrou, foram feitas após meses de pedidos franceses para que os negociadores da UE adotassem uma postura mais dura contra Trump, ameaçando com medidas recíprocas -- uma posição que contrastava com as abordagens mais conciliatórias da Alemanha e da Itália.
"É um dia sombrio quando uma aliança de povos livres, reunidos para afirmar seus valores comuns e defender seus interesses comuns, se resigna à submissão", escreveu Bayrou no X sobre o que ele chamou de "acordo Von der Leyen-Trump".
As críticas francesas de alto nível e o silêncio do presidente Emmanuel Macron desde que o acordo foi assinado entre Trump e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, contrastaram com a reação mais benigna de Berlim e Roma.
Os ministros do governo francês reconheceram que o acordo tinha alguns benefícios -- incluindo isenções para setores como o de bebidas alcoólicas e o aeroespacial -- mas disseram que ele continuava fundamentalmente desequilibrado.
"Esse estado de coisas não é satisfatório e não pode ser mantido", disse o ministro francês de Assuntos Europeus, Benjamin Haddad, em X, pedindo que a UE ative seu chamado instrumento anti-coerção, que permitiria uma retaliação não tarifária.
O ministro do Comércio, Laurent Saint-Martin, criticou a forma como a UE lidou com as negociações, dizendo que o bloco não deveria ter se abstido de revidar no que ele descreveu como uma luta pelo poder iniciada por Trump.
"Donald Trump só entende de força", disse ele à rádio France Inter. "Teria sido melhor responder mostrando nossa capacidade de retaliação mais cedo. E o acordo provavelmente poderia ter sido diferente", acrescentou.
Macron havia dito que a UE deveria responder da mesma forma se os Estados Unidos impusessem tarifas sobre os produtos da UE e aplicassem medidas equivalentes sobre as importações dos EUA para o bloco, em particular sobre serviços, nos quais os EUA têm um superávit com a UE.
Mas a linha mais branda defendida pelo chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, e pela primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, cujos países são mais dependentes do que a França das exportações para os EUA, prevaleceu.
(Reportagem de Sudip Kar-Gupta)
((Tradução Redação São Paulo))
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