Por Daphne Psaledakis e Danial Azhar
KUALA LUMPUR, 11 Jul (Reuters) - O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, disse nesta sexta-feira que teve conversas "positivas e construtivas" com o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, enquanto as duas grandes potências lutam para impulsionar suas agendas na Ásia em um momento de tensão sobre a ofensiva de Washington com tarifas comerciais.
O principal diplomata dos EUA estava na Malásia em sua primeira viagem à Ásia desde que assumiu o cargo, buscando enfatizar o compromisso dos Estados Unidos com a região na Cúpula do Leste Asiático e no Fórum Regional da Asean, onde muitos países sofriam com uma série de tarifas comerciais norte-americanas pesadas anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, nesta semana.
Rubio teve suas primeiras conversas pessoais com o ministro das Relações Exteriores da China, em um momento em que Pequim advertiu os Estados Unidos contra a reintrodução de pesadas taxas sobre seus produtos no próximo mês e ameaçou retaliar as nações que fecharem acordos com os EUA para cortar a China das cadeias de suprimentos.
Wang criticou duramente Washington durante as conversas com seus colegas asiáticos na Malásia, chamando as tarifas comerciais dos EUA de "típico comportamento unilateral de intimidação".
Mas ambos os lados descreveram a reunião bilateral como positiva e construtiva nesta sexta-feira. E Rubio disse que as chances de Trump se encontrar com o presidente da China, Xi Jinping, são altas.
"Somos dois países grandes e poderosos, e sempre haverá questões sobre as quais discordamos. Acho que há algumas áreas de cooperação em potencial e achei que foi uma reunião muito construtiva e positiva, com muito trabalho a ser feito", disse ele aos repórteres.
Rubio enfatizou que sua reunião com Wang não foi uma negociação, mas sim o estabelecimento de uma base construtiva para continuar as conversas.
Perguntado sobre uma possível reunião entre Trump e Xi, Rubio disse que ambos os lados querem que isso aconteça.
"Temos que criar a atmosfera certa e criar... resultados, de modo que uma visita não seja apenas uma visita, mas que tenha de fato alguns resultados concretos. Mas há um forte desejo de ambos os lados de fazer isso."
O Ministério das Relações Exteriores da China disse que Wang enfatizou que ambos os países deveriam traduzir o consenso alcançado por seus líderes em políticas e ações.
"Ambos os lados concordaram que a reunião foi positiva, pragmática e construtiva", afirmou.
VIAGEM OFUSCADA POR TARIFAS
A visita de Rubio faz parte de um esforço para renovar o foco dos EUA na região do Indo-Pacífico e olhar além dos conflitos no Oriente Médio e na Europa que consumiram grande parte da atenção do governo desde o retorno de Trump ao cargo em janeiro.
No entanto, isso foi ofuscado pelo anúncio desta semana de tarifas pesadas dos EUA sobre as importações de muitos países asiáticos e aliados dos EUA, incluindo 25% para o Japão, a Coreia do Sul e a Malásia, 32% para a Indonésia, 36% para a Tailândia e o Camboja e 40% sobre produtos de Mianmar e Laos.
A China, inicialmente atingida com taxas superiores a 100%, tem até 12 de agosto para chegar a um acordo com Washington para evitar que Trump restabeleça as restrições adicionais às importações impostas durante as trocas de tarifas em abril e maio.
Analistas afirmam que Rubio usará a viagem para defender que os Estados Unidos continuam sendo um parceiro melhor do que a China, o principal rival estratégico de Washington. Rubio se reuniu com seus colegas da Tailândia, Camboja, Vietnã e Indonésia na sexta-feira.
Wang repreendeu os Estados Unidos em Kuala Lumpur, dizendo que nenhum país deveria apoiar ou concordar com suas tarifas comerciais, de acordo com comentários divulgados por Pequim nesta sexta-feira.
Ele disse ao ministro das Relações Exteriores da Tailândia que as tarifas foram abusivas e "minaram o sistema de livre comércio e interferiram na estabilidade da produção global e da cadeia de suprimentos".
Durante uma reunião com seu homólogo cambojano, Wang disse que as tarifas comerciais dos EUA são uma tentativa de privar os países do Sudeste Asiático de seu direito legítimo ao desenvolvimento.
"Acreditamos que os países do Sudeste Asiático têm a capacidade de lidar com situações complexas, aderir a posições baseadas em princípios e proteger seus próprios interesses", disse ele.
Em um comunicado conjunto nesta sexta-feira, os ministros das Relações Exteriores da Asean expressaram preocupação com as crescentes tensões comerciais globais e com a necessidade de diversificar o comércio, pedindo um sistema de comércio multilateral transparente e justo.
Sem mencionar os Estados Unidos, eles disseram que as tarifas unilaterais são "contraproducentes e correm o risco de exacerbar a fragmentação econômica global".
PARCERIA INDISPENSÁVEL
Rubio também se reuniu com Sergei Lavrov, da Rússia, na quinta-feira, e disse que ele e Lavrov haviam compartilhado algumas ideias sobre uma abordagem russa nova ou diferente em relação à Ucrânia.
"Não quero exagerar, mas foi construtivo", disse ele nesta sexta-feira. "Vamos descobrir, mas há algumas coisas que potencialmente exploraremos, e eu transmiti isso ao presidente e à nossa equipe ontem à noite."
Rubio também se reuniu com o ministro das Relações Exteriores do Japão e com o primeiro vice-ministro das Relações Exteriores da Coreia do Sul na Malásia nesta sexta-feira para discutir a segurança regional e o fortalecimento de sua "parceria trilateral indispensável", disse o Departamento de Estado dos EUA em um comunicado.
Questionado sobre os comentários do primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, na quinta-feira, de que Tóquio precisa se livrar de sua dependência de Washington, Rubio disse que não era um comentário que deveria ser visto de forma negativa.
"Obviamente, temos compromissos e uma aliança muito fortes com o Japão. Continuamos a cooperar de forma muito próxima com eles", disse ele.
(Reportagem de Daphne Psaledakis e Danial Azhar, em Kuala Lumpur; Reportagem adicional de Liz Lee, Xiuhao Chen e Yukun Zhang, em Pequim, e Mikhail Flores, em Manila)
((Tradução Redação São Paulo))
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