Por Jeff Mason e Shivam Patel
WASHINGTON/NOVA DÉLHI, 18 Jun (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, insistiu nesta quarta-feira que havia interrompido a guerra entre a Índia e o Paquistão, horas depois que o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, lhe disse que o cessar-fogo após um conflito de quatro dias em maio foi alcançado por meio de negociações entre os militares dos países vizinhos, e não pela mediação dos EUA.
Trump falou pouco antes de receber o poderoso chefe das Forças Armadas do Paquistão, Asim Munir, em uma rara reunião na Casa Branca nesta quarta-feira, algo que provavelmente incomodará a Índia, um país que o presidente dos EUA e seu antecessor, Joe Biden, cortejaram assiduamente como parte dos esforços para se opor à China.
A porta-voz da Casa Branca Anna Kelly disse que Trump receberia Munir depois que ele pediu que o presidente fosse indicado para o Prêmio Nobel da Paz por evitar uma guerra nuclear entre a Índia e o Paquistão.
Ao ser questionado sobre o que pretendia alcançar com o almoço, que se seguiria a uma ligação telefônica que ele manteve com Modi na noite de terça-feira, Trump disse aos repórteres na Casa Branca: "Bem, eu parei uma guerra... Eu amo o Paquistão. Acho que Modi é um homem fantástico. Falei com ele ontem à noite. Vamos fazer um acordo comercial com Modi, da Índia".
"Mas eu parei a guerra entre o Paquistão e a Índia. Esse homem foi extremamente influente para interrompê-la do lado do Paquistão. Modi, do lado da Índia, e outros. Eles estavam se enfrentando -- e ambos são países nucleares. Eu consegui parar isso."
Trump havia dito no mês passado que os vizinhos do sul da Ásia com armas nucleares concordaram com um cessar-fogo após conversações mediadas pelos EUA, e que as hostilidades terminaram depois que ele pediu aos países que se concentrassem no comércio em vez de na guerra.
No entanto, Modi disse a Trump na noite de terça-feira que o cessar-fogo foi alcançado por meio de conversações entre os militares indianos e paquistaneses e não pela mediação dos EUA, de acordo com o diplomata mais graduado da Índia, o secretário de Relações Exteriores, Vikram Misri.
O Paquistão agradeceu a Washington por ter desempenhado um papel de mediador.
A Índia negou repetidamente qualquer mediação de terceiros e o telefonema de terça-feira entre Modi e Trump à margem da cúpula do G7 no Canadá, da qual Modi participou como convidado, foi a primeira troca direta entre os dois líderes desde o conflito de 7 a 10 de maio.
"O primeiro-ministro Modi disse claramente ao presidente Trump que, durante esse período, não houve conversa em nenhum momento sobre assuntos como o acordo comercial entre a Índia e os EUA ou a mediação dos EUA entre a Índia e o Paquistão", disse Misri em um comunicado à imprensa.
"As conversas para cessar a ação militar aconteceram diretamente entre a Índia e o Paquistão por meio dos canais militares existentes e por insistência do Paquistão. O primeiro-ministro Modi enfatizou que a Índia não aceitou mediação no passado e nunca aceitará", disse ele.
Misri disse que os dois líderes deveriam ter se encontrado à margem da cúpula do G7, mas Trump saiu um dia antes devido à situação no Oriente Médio.
Trump perguntou a Modi se ele poderia passar pelos EUA em seu retorno do Canadá, disse Misri, mas o líder indiano disse que não poderia fazê-lo devido a uma agenda já existente. Ele convidou Trump a visitar a Índia no final deste ano para a cúpula dos líderes do grupo Quad, o que Trump aceitou, disse Misri.
O maior conflito em décadas entre a Índia e o Paquistão foi desencadeado por um ataque em 22 de abril na Caxemira indiana que matou 26 pessoas, a maioria delas turistas. O governo indiano atribuiu o incidente a "terroristas" apoiados pelo Paquistão, uma acusação negada por Islamabad.
(Reportagem de Shivam Patel e Sakshi Dayal em Nova Délhi e Trevor Hunnicut, Doina Chiacu e David Brunnstrom em Washington)
((Tradução Redação São Paulo))
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