Por Jasper Ward
WASHINGTON, 22 Mai (Reuters) - Investigadores do FBI e da polícia dos Estados Unidos se debruçaram nesta quinta-feira sobre os textos e afiliações políticas do homem preso como único suspeito dos tiros fatais contra dois funcionários da embaixada de Israel do lado de fora do Museu Judaico da Capital, em Washington.
Nascido em Chicago, Elias Rodriguez, de 31 anos, é acusado de abrir fogo contra um grupo de pessoas na noite de quarta-feira, quando elas saíam de um evento para jovens diplomatas organizado pelo Comitê Judaico Americano, grupo jurídico que apoia Israel e enfrenta o antissemitismo, de acordo com o site da entidade.
Segundo autoridades, ele foi ouvido gritando "Libertem a Palestina" depois de ser levado sob custódia.
As duas vítimas atingidas por tiros e mortas foram identificadas como Yaron Lischinsky, de 30 anos, e Sarah Lynn Milgrim, de 26, um jovem casal prestes a se casar.
Amigos e membros de grupos de advocacia aos quais eles pertenciam disseram que o casal estava comprometido com a construção de pontes entre árabes e judeus na esperança de acabar com o derramamento de sangue no Oriente Médio.
Após o tiroteio, embaixadas israelenses em todo o mundo reforçaram imediatamente a segurança.
O vice-diretor do FBI, Dan Bongino, postou nas mídias sociais que os investigadores estavam "cientes de certos textos supostamente de autoria do suspeito" e esperavam ter em breve atualizações sobre sua autenticidade.
A declaração de Bongino parecia se referir a um manifesto assinado com o nome de Rodriguez postado em uma conta anônima no X na noite de quarta-feira, pouco antes do tiroteio.
Publicado com o título "Escalate For Gaza, Bring The War Home" (intensifique a ofensiva por Gaza, traga a guerra para casa, em tradução livre), o manifesto condenava a morte de dezenas de milhares de palestinos por Israel desde os ataques do Hamas em outubro de 2023 e discutia a moralidade da ação "armada".
"Na esteira de um ato, as pessoas procuram um texto para fixar seu significado, então aqui vai uma tentativa", dizia o documento. "As atrocidades cometidas pelos israelenses contra a Palestina desafiam a descrição e a quantificação."
O diretor do FBI, Kash Patel, chamou o ataque de quarta-feira de "ato de terror", embora a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, tenha dito a jornalistas que as autoridades acreditam que o suspeito tenha agido sozinho.
Israel tem enfrentado condenação internacional contínua por sua ofensiva militar crescente em Gaza, enquanto grupos de defesa dos judeus têm alertado para o aumento de incidentes antissemitas em todo o mundo.
Os investigadores também se aprofundaram nas aparentes afiliações políticas do suspeito, que trabalhava para uma organização sem fins lucrativos do setor de saúde e que, acredita-se, tinha vínculos anteriores com grupos de extrema-esquerda.
De acordo com um relato da Chefe da Polícia Metropolitana de Washington, Pamela Smith, um homem atirou em um grupo de quatro pessoas com uma arma de fogo, atingindo as duas vítimas. Ele foi visto andando do lado de fora do museu antes dos disparos, a pouco mais de 2 km da Casa Branca.
"Uma vez algemado, o suspeito identificou o local onde descartou a arma, que foi recuperada, e deu a entender que cometeu o crime", disse Smith, acrescentando que ele não havia tido nenhum contato anterior com a polícia.
Agentes do FBI foram vistos em seu apartamento em Chicago nesta quinta-feira, e a rua onde fica a residência foi bloqueada.
A testemunha Katie Kalisher, de 29 anos, disse que estava entre as pessoas no museu que conversavam com um homem que entrou parecendo muito assustado após tiros serem ouvidos do lado de fora, quando de repente ele puxou um lenço keffiyeh.
"Ele disse: 'Eu fiz isso. Eu fiz isso por Gaza, pela Palestina livre, livre'. E ele estava cantando isso. E, de repente, a polícia entra e o prende", disse Kalisher, uma designer de joias.
HISTÓRICO
Rodriguez já foi afiliado a um grupo de extrema-esquerda em Chicago, o Partido para o Socialismo e Libertação, de acordo com uma publicação do grupo no X. O grupo disse que Rodriguez teve uma breve associação com uma filial do PSL encerrada em 2017 e que eles não sabiam de nenhum contato com ele em mais de sete anos.
"Não temos nada a ver com esse tiroteio e não o apoiamos", disse a organização.
Rodriguez também foi identificado em uma reportagem local de 2018 como membro da filial de Chicago de um grupo nacional chamado ANSWER, acrônimo para Act Now to Stop War and End Racism (aja agora para parar a guerra e acabar com o racismo), que organizou manifestações em solidariedade aos palestinos. A ANSWER não respondeu imediatamente a mensagens de email e telefônicas.
Rodriguez trabalhava na Associação Americana de Informação Osteopática (AOIA), organização sem fins lucrativos do setor de saúde, confirmou a entidade, expressando solidariedade pelas vítimas.
"Ficamos chocados e tristes ao saber que um funcionário da AOIA foi preso como suspeito desse crime horrível", diz o comunicado.
Ele também trabalhou como pesquisador de história oral na The HistoryMakers, organização sem fins lucrativos dedicada à preservação de histórias afro-americanas, de acordo com uma biografia agora excluída do site do grupo.
Rodriguez nasceu e cresceu em Chicago e se formou em inglês na University of Illinois Chicago, segundo a página excluída. Ele trabalhou anteriormente como redator de conteúdo para empresas de tecnologia comerciais e não comerciais, dizia a página.
O presidente dos EUA, Donald Trump, condenou o tiroteio.
"Esses horríveis assassinatos em D.C., baseados obviamente no antissemitismo, precisam acabar, AGORA!", disse ele em uma mensagem no Truth Social. "O ódio e o radicalismo não têm lugar nos EUA."
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que seu coração doía pelas famílias das vítimas, "cujas vidas foram interrompidas em um momento por um abominável assassino antissemita".
"Somos testemunhas do terrível custo do antissemitismo e do incitamento selvagem contra o Estado de Israel", disse ele no X, acrescentando que ambos "devem ser combatidos ao máximo".
O tiroteio provavelmente alimentará a polarização nos Estados Unidos sobre a guerra em Gaza entre os apoiadores de Israel e os manifestantes pró-palestinos.
Apoiadores conservadores de Israel, liderados por Trump, classificaram os protestos pró-palestinos como antissemitas. Seu governo deteve manifestantes sem acusação e cortou o financiamento de universidades de elite dos EUA que permitiram manifestações.
(Reportagens de Jasper Ward, Emily Rose, Andrew Goudsward, Julia Harte, Joseph Tanfani, Karen Freifeld, Ryan Patrick Jones, Daniel Trotta, Matt Spetalnick e Doina Chiacu; reportagens adicionais de Hatem Maher e James Mackenzie em Jerusalém, Tom Polansek em Chicago e Rachel More em Berlim)
((Tradução Redação Brasília))
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