
Por Elizaveta Gladun e Octav Ganea
BUCARESTE, 1 Mai (Reuters) - Jovens da Romênia estão novamente navegando pela plataforma de compartilhamento de vídeos TikTok em busca de orientação sobre como votar na nova eleição presidencial de domingo, após a anterior ter sido anulada devido a alegações de interferência russa por meio de contas suspeitas no própria plataforma.
Com cerca de 9 milhões de usuários no TikTok, o país de 19 milhões de habitantes experimentou um aumento no número de contas desse tipo no ano passado, durante uma campanha que levou à anulação das eleições de 24 de novembro. Moscou negou as acusações de manipulação.
No primeiro turno daquela eleição cancelada, o candidato de extrema direita Calin Georgescu, que estava com apenas um dígito nas pesquisas antes da votação, subiu para o primeiro lugar em meio a uma explosão de conteúdo no TikTok que o favorecia.
Agora, George Simion, líder da Aliança para a União dos Romenos, partido de direita radical, lidera a lista de candidatos presidenciais com 1,3 milhão de seguidores no TikTok. Muito atrás, com cerca de 233.600 seguidores, está Victor Ponta, ex-primeiro-ministro de esquerda cuja política se tornou ultranacionalista. Os candidatos centristas restantes têm ainda menos seguidores.
Os vídeos de Simion, de 38 anos, no TikTok combinam retórica nacionalista com uma apresentação carregada de emoção. Eles frequentemente mostram discursos diretos para a câmera, filmagens de reuniões políticas e clipes de bastidores, para aprimorar o senso de conexão pessoal.
"Chegou a hora do renascimento", disse ele aos seguidores em um vídeo publicado na terça-feira. "Nossa nação encontrará seu caminho novamente... Temos dentro de nós o poder de renascer e seguir em frente, mais unidos e mais fortes."
Remus Stefureac, diretor executivo da INSCOP Research, disse que todos os candidatos presidenciais agora reconhecem o papel fundamental das mídias sociais na campanha.
"Se analisarmos nossa campanha presidencial... podemos dizer que todos e cada um dos candidatos relevantes tentaram construir operações fortes online e nas mídias sociais. Então, investiram muitos de seus recursos nesse tipo de campanha", disse.
PÚBLICO JOVEM
O público romeno do TikTok é predominantemente jovem: 64,6% têm entre 18 e 24 anos e 33,7% têm entre 25 e 34 anos, de acordo com a Start.io, uma plataforma de publicidade móvel que analisa dados de usuários baseados em aplicativos.
Jovens entrevistados pela Reuters no centro de Bucareste esta semana disseram que obtiveram informações de várias fontes online, entre elas o TikTok.
Andrei, um engenheiro que não quis revelar seu nome completo, disse que confiava um pouco no que via no TikTok, embora sites de notícias parecessem mais confiáveis. Ele disse que cerca de um terço das pessoas que conhecia baseava suas decisões políticas em material do TikTok.
Andreea, uma estudante que também não divulgou seu nome completo, disse que foi influenciada politicamente em grande parte pelos vídeos do TikTok. Ela assistiu a muitos vídeos políticos do TikTok, e eles a ajudaram a se sentir mais próxima da vida dos candidatos.
O TikTok afirma ter formado uma força-tarefa para garantir a moderação eficaz do conteúdo e lançado uma campanha de educação midiática para ajudar os usuários a identificar desinformação. Em janeiro, a empresa afirmou ter bloqueado a criação de mais de 116.000 contas de spam na Romênia durante a segunda quinzena de dezembro.
A empresa também afirmou em um relatório recente que, durante o segundo semestre de 2024, removeu mais de 27.000 contas operadas por meio de um "fornecedor de engajamento falso" que havia promovido a Aliança para a União dos Romenos e Georgescu.
O governo da Romênia ordenou que os materiais de campanha nas redes sociais sejam claramente identificados como tal, enquanto a mídia local disse que o Bureau Eleitoral Central ordenou a remoção de mais de 500 postagens não verificadas ou identificadas incorretamente.
Após a eleição anulada, a Comissão Europeia abriu um processo formal contra o TikTok por suspeita de falha em limitar a interferência na votação.
Stefureac disse que a experiência da Romênia em 2024 deve servir como uma lição para o futuro da democracia em todo o mundo.
"Não podemos tomar nossas democracias como garantidas e precisamos encontrar maneiras de controlar e moderar melhor a forma como a comunicação política e eleitoral é gerenciada por meio das mídias sociais", defendeu.
(Reportagem de Octav Ganea e Elizaveta Gladun; texto de Krisztina Than)
((Tradução Redação São Paulo))
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