Por Dave Sherwood
HAVANA, 29 Abr (Reuters) - Cuba prendeu nesta terça-feira o dissidente José Daniel Ferrer por violar termos de sua liberdade condicional, apenas três meses após liberá-lo da prisão como parte de um acordo negociado pelo Vaticano com o governo Biden.
Ferrer não compareceu a duas audiências obrigatórias no tribunal, uma violação da lei cubana e das condições de sua libertação, disse Maricela Sosa, vice-presidente do Supremo Tribunal Popular de Cuba.
"Ele não apenas não compareceu, mas também anunciou por meio de seu perfil em mídia social, em flagrante desafio e descumprimento da lei, que não compareceria perante a autoridade judicial", disse Sosa à Reuters em um comunicado na manhã desta terça-feira.
A irmã de Ferrer, Ana Belkis Ferrer, disse nas redes sociais que seu irmão havia sido detido pela polícia na madrugada desta terça-feira, assim como sua esposa, Nelva, seu filho e vários ativistas.
"Exigimos sua libertação imediata e a de todos os detidos e presos políticos", disse Ana Belkis no X.
Ferrer, que vive em Santiago de Cuba, afirma que foi preso injustamente pelas autoridades cubanas desde o início e que sua presença em qualquer audiência judicial era desnecessária.
Sosa disse à Reuters que o tribunal também determinou a prisão de Felix Navarro, outro dissidente de Matanzas condenado a nove anos de prisão após protestos contra o governo em toda a ilha em julho de 2021.
Segundo Sosa, Navarro, libertado em janeiro, violou os termos de sua liberdade condicional ao deixar o município em que vive sem antes pedir autorização judicial.
"Embora não façam parte desse processo, além de não cumprirem os termos de sua liberdade condicional, (Ferrer e Navarro) são pessoas que publicamente pedem desordem e desrespeito às autoridades em seus ambientes sociais e online, e mantêm laços públicos com o chefe da embaixada dos Estados Unidos", disse Sosa.
Ferrer, de 54 anos, fundou um grupo de oposição chamado União Patriótica Nacional, ou Unpacu, em 2011. Ele está entre os últimos dissidentes remanescentes e de maior visibilidade da ilha governada pelos comunistas.
Ferrer começou a operar uma cozinha de sopa em sua casa em Santiago de Cuba após sua libertação em janeiro. Ele alegou que o governo está perseguindo sua família e sua equipe, impossibilitando-o de fornecer alimentos para os pobres.
Há muito Cuba acusa os Estados Unidos de apoiar a dissidência de Ferrer em uma tentativa de derrubar o governo da ilha.
O chefe da missão dos EUA, Mike Hammer, visitou Ferrer em fevereiro em sua casa em Santiago.
A porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Tammy Bruce, pediu a libertação imediata de Ferrer e Navarro nesta terça-feira.
"Condenamos veementemente o tratamento brutal e a detenção injusta dos patriotas cubanos José Daniel Ferrer e sua esposa e filho pequeno, assim como de Felix Navarro e outros ativistas pró-democracia", disse Bruce a jornalistas em coletiva de imprensa.
(Reportagem de Dave Sherwood)
((Tradução Redação Brasília))
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