Por David Ljunggren e Ismail Shakil e Rod Nickel
29 Abr (Reuters) - O Partido Liberal, do primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, protagonizou uma grande reviravolta política para manter o poder nas eleições parlamentares do país, impulsionados por uma reação contra as tarifas e os comentários do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre tornar o Canadá o 51º Estado dos EUA.
Com quase todos os votos contados, os resultados da Elections Canada mostraram que os liberais ganharam 168 distritos eleitorais, seguidos pelos conservadores com 144.
O líder conservador Pierre Poilievre, que há apenas três meses parecia a caminho de vencer a eleição, perdeu sua cadeira no distrito de Carleton, em Ontário, para o liberal Bruce Fanjoy.
Os liberais, que estão no poder há mais de nove anos, estavam 20 pontos percentuais atrás nas pesquisas em janeiro, antes de o impopular Justin Trudeau anunciar que estava deixando o cargo de primeiro-ministro e Trump começar a ameaçar com tarifas e anexação.
"Foi o fator 'qualquer um, menos os conservadores', foi o fator das tarifas de Trump e, depois, foi a saída de Trudeau... que permitiu que muitos eleitores de centro-esquerda e eleitores liberais tradicionais voltassem ao partido", disse Shachi Kurl, presidente da empresa de pesquisas Angus Reid Institute.
Apesar dos ganhos, os liberais não terão a maioria absoluta que Carney buscava para ajudá-lo a negociar com Trump sobre as tarifas que ameaçam a economia do Canadá.
Eles precisavam de 172 dos 343 assentos da Câmara dos Comuns para poder governar sem o apoio de um partido menor.
O dólar canadense CAD= enfraqueceu ligeiramente em relação ao dólar dos EUA. Os contratos futuros do principal índice de ações do Canadá tiveram uma pequena alta em uma sessão instável nesta terça-feira.
"Nosso antigo relacionamento com os Estados Unidos, um relacionamento baseado em uma integração cada vez maior, acabou", disse Carney em um discurso de vitória em Ottawa.
"O sistema de comércio global aberto ancorado pelos Estados Unidos, um sistema no qual o Canadá tem confiado desde a Segunda Guerra Mundial, um sistema que, embora não seja perfeito, tem ajudado a proporcionar prosperidade ao nosso país há décadas, acabou", acrescentou.
"Essas são tragédias, mas também é a nossa nova realidade."
CONSERVADORES ADMITEM DERROTA
Carney disse que os próximos meses serão desafiadores e exigirão sacrifícios.
Poilievre admitiu a derrota e disse que seu partido continuaria a fiscalizar o governo.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, parabenizaram Carney.
"O vínculo entre a Europa e o Canadá é forte -- e está ficando cada vez mais forte", disse Von der Leyen. "Estou ansiosa para trabalharmos juntos, tanto bilateralmente quanto no G7. Defenderemos nossos valores democráticos compartilhados, promoveremos o multilateralismo e defenderemos o comércio livre e justo."
Starmer disse que espera ansiosamente pela liderança de Carney em questões internacionais e por continuar a trabalhar de perto "em defesa, segurança, comércio e investimento".
Carney havia prometido uma abordagem dura em relação às tarifas de importação de Washington e disse que o Canadá precisará gastar bilhões para reduzir sua dependência dos EUA.
Os governos minoritários no Canadá raramente duram mais de dois anos e meio. Se Carney fizer um acordo com os Novos Democratas e os Verdes, de esquerda, ele conseguirá reunir uma pequena maioria.
"Isso é ... muito frágil", disse Philippe Lagasse, professor e especialista constitucional da Carleton University de Ottawa. "Cada voto de confiança será estressante. Cada eleição parcial será bastante consequente."
As ameaças de Trump provocaram uma onda de patriotismo que impulsionou o apoio a Carney, um novato na política que já havia dirigido os bancos centrais do Canadá e do Reino Unido.
Trump ressurgiu como um fator de campanha na semana passada, declarando que poderia aumentar a tarifa de 25% sobre os carros fabricados no Canadá porque os EUA não os queriam. Ele disse anteriormente que poderia usar "força econômica" para tornar o Canadá o 51º Estado dos EUA.
Carney argumentou que sua experiência em lidar com questões econômicas o torna o melhor líder para lidar com Trump, enquanto Poilievre abordou as preocupações com o custo de vida, a criminalidade e a crise imobiliária.
Trump, em uma publicação na mídia social na segunda-feira, reiterou seu pedido para que o Canadá se torne o 51º Estado norte-americano.
"Boa sorte para o grande povo do Canadá", disse ele.
"Elejam o homem que tem a força e a sabedoria para reduzir seus impostos pela metade, aumentar seu poder militar gratuitamente para o nível mais alto do mundo, fazer com que seu carro, aço, alumínio, madeira serrada, energia e todos os outros negócios QUADRUPLEM de tamanho, COM ZERO TARIFAS OU IMPOSTOS, se o Canadá se tornar o estimado 51º Estado dos Estados Unidos da América. Não haverá mais uma linha artificialmente traçada há muitos anos"
As tensões com os EUA fizeram com que os partidários de dois partidos menores, o Novos Democratas, de tendência esquerdista, e o Bloc Quebecois, separatista, se voltassem para os liberais. O líder do Novos Democratas, Jagmeet Singh, admitiu a derrota em seu próprio distrito e disse que planejava deixar o cargo de líder do partido.
(Reportagem de Rod Nickel e Promit Mukherjee, em Ottawa; Nivedita Balu, em Toronto, e Amanda Stephenson, em Calgary; Reportagem adicional de Susan Heavey, em Washington)
((Tradução Redação São Paulo))
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