Por Chad Terhune
8 Mar (Reuters) - Conforme um surto de sarampo se espalha pelo oeste do Texas, a médica Ana Montañez está travando uma batalha difícil para convencer alguns pais que a vitamina A - apontada por críticos de vacina como eficaz para combater o vírus altamente contagioso - não protegerá seus filhos.
A pediatra de 53 anos da cidade de Lubbock está fazendo hora extra para entrar em contato com pais hesitantes em relação às vacinas, explicando os graves riscos de uma doença que a maioria das famílias norte-americanas nunca vivenciaram - e que pode ser evitada pela imunização.
Cada vez mais, no entanto, ela também tem que combater informações enganosas. Uma mãe, afirmou, lhe disse que estava dando aos seus dois filhos altas doses de vitamina A para evitar o sarampo, com base em um artigo publicado pela Children's Health Defense, o grupo anti-vacina liderado por Robert F. Kennedy Jr., quase uma década antes de ele se tornar a principal autoridade de saúde do presidente Donald Trump.
“Espere, o que você está fazendo? Aquilo foi um alerta vermelho”, disse Montañez, em uma entrevista. “É uma comunidade próxima e acho que se uma família fizer uma coisa, todo mundo seguirá. Mesmo se eu não conseguir persuadi-los a tomar vacinas, posso pelo menos educá-los sobre desinformação”.
Kennedy renunciou ao cargo de presidente da Children's Health Defense e disse que não tem poder sobre a organização, que abriu processos em tribunais estaduais e federais para contestar vacinas comuns, como a do sarampo.
A organização não respondeu a um pedido por comentário.
Secretário de Serviços Humanos e de Saúde dos EUA, Kennedy afirmou que a vacinação continua sendo uma escolha pessoal. Ele também exagerou evidências do uso de tratamentos como a vitamina A, segundo especialistas de saúde.
O suplemento não previne o sarampo e pode ser prejudicial às crianças em doses grandes ou prolongadas, segundo a Academia Americana de Pediatria. Foi demonstrado que diminui a gravidade de infecções por sarampo em países em desenvolvimento entre pacientes desnutridos e com deficiência de vitamina A, uma ocorrência rara nos Estados Unidos.
"Estou muito preocupado com as mensagens que estão sendo divulgadas", disse o Dr. Jeffrey Kahn, chefe de doenças infecciosas do Children's Health em Dallas. "Para mim, é um tanto desconcertante o fato de estarmos relançando a eficácia das vacinas e das terapias alternativas. Sabemos como lidar com o sarampo. Temos seis décadas de experiência."
Andrew Nixon, porta-voz do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, não respondeu às perguntas sobre a maneira como Kennedy lidou com o surto de sarampo. Mas ao comentar sobre uma morte relacionada ao sarampo no Novo México, Nixon disse na quinta-feira que os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA "recomendam a vacinação como a melhor proteção contra a infecção por sarampo"
As autoridades do Texas disseram na sexta-feira que o surto de sarampo no estado havia aumentado para 198 casos, incluindo 23 pessoas que foram hospitalizadas. Isso inclui a morte de uma criança em idade escolar não vacinada em um hospital de Lubbock no mês passado.
As autoridades do Novo México registraram 30 casos e uma morte de um adulto não vacinado. Essas são as primeiras mortes por sarampo nos Estados Unidos desde 2015.
(Reportagem de Chad Terhune em Los Angeles)
((Tradução Redação Rio de Janeiro)) REUTERS MN