FOREX-Euro e iene se valorizam frente ao dólar conforme investidores avaliam consequências das tarifas

Por Laura Matthews e Yadarisa Shabong

3 Abr (Reuters) - O euro e o iene japonês se valorizavam frente ao dólar nesta quinta-feira, com investidores se preocupando com o impacto que as tarifas de longo alcance do presidente dos EUA, Donald Trump, terão sobre o comércio global e o crescimento econômico.

Os investidores continuam migrando para ativos vistos como refúgios seguros, como o iene e o franco suíço, conforme o dólar se enfraquece, atingindo o menor valor em seis meses em relação a essas duas moedas.

"A conclusão é que os EUA não se importam com o crescimento, pelo menos com o crescimento de curto prazo, como sempre fizeram", disse Adam Button, analista-chefe de câmbio da ForexLive.

"O mercado quer investir nos lugares de crescimento mais rápido, e o governo dos EUA está mostrando que não está tentando maximizar o crescimento, ou que tem uma ideia diferente sobre como chegar lá. E acho que isso abalou o mercado."

O anúncio altamente antecipado das tarifas provocou ondas de choque nos mercados, afundando as ações globais e fazendo com que os investidores buscassem a segurança dos títulos e do ouro, temendo que uma grande disputa comercial possa desencadear uma forte desaceleração econômica global e alimentar a inflação.

Trump disse que imporá uma tarifa básica de 10% sobre todas as importações para os Estados Unidos e taxas mais altas sobre alguns dos maiores parceiros comerciais do país.

Nesse cenário, o dólar mostrou pouca reação aos dados mais fracos do que o esperado do Instituto de Gestão do Fornecimento (ISM) nesta quinta-feira mostrando que o setor de serviços dos EUA desacelerou para o desempenho mais fraco em nove meses em março, em meio à incerteza causada pelas tarifas de importação.

Esse relatório se soma a outras pesquisas fracas com consumidores e empresas, bem como a relatórios de gastos do consumidor e de inflação que levantaram preocupações com a estagflação.

Já o número de americanos que entraram com novos pedidos de auxílio-desemprego caiu na semana passada, mostrando uma estabilidade contínua no mercado de trabalho.

"Os dados não são um fator neste momento. Todos os dados que obtivermos hoje são retrospectivos, e agora estamos aguardando uma reformulação do sistema de comércio global e tentando conceituar se isso durará e o que significará", disse Button.

O euro, que atingiu a maior cotação em seis meses, estava sendo negociado em alta de 2,4%, a US$1,1109, e teve seu maior avanço intradiário desde dezembro de 2015 EUR=EBS. O dólar caía 2,6% em relação ao iene japonês, para 145,45, e afundou 3,03% em relação ao franco suíço, para 0,8554 franco CHF=EBS.

A libra esterlina subia 1,11%, para US$ 1,3155. GBP=D3

CRISE DE CONFIANÇA

O Deutsche Bank alertou na quinta-feira sobre o risco de uma crise de confiança no dólar americano, dizendo que grandes mudanças nas alocações de fluxo de capital poderão substituir os fundamentos da moeda e que os movimentos da moeda se tornarão desordenados.

Trump já tinha imposto tarifas sobre o alumínio, aço e automóveis, e aumentado as taxas sobre todos os produtos da China.

"A fraqueza do dólar americano pode persistir, já que as tarifas recíprocas impostas pelo presidente Donald Trump aumentam a ameaça de uma recessão nos EUA", disse David Song, estrategista sênior da Forex.com. Ele acrescentou que os dados fracos do ISM podem pressionar o Federal Reserve a afrouxar ainda mais sua política restritiva.

Os investidores estão preocupados com a possibilidade de alguns parceiros comerciais dos EUA retaliarem com medidas próprias, levando a preços mais altos.

O iuan onshore da China CNY=CFXS caiu para seu nível mais fraco em relação ao dólar desde meados de fevereiro. O iuan offshore da China CNH=D3 também atingiu o menor patamar em dois meses em relação ao dólar, mas depois se estabilizou. O dólar estava em queda de 0,2% em relação ao iuan, a 7,2866.

O peso mexicano MXN= e o dólar canadense CAD=D3 se fortaleceram, com o dólar americano perdendo mais de 1% em relação a ambos.

O Canadá e o México, os dois maiores parceiros comerciais dos EUA, já estão sujeitos a tarifas de 25% sobre muitos produtos e não sofrerão cobranças adicionais com o anúncio de quarta-feira.