Reformulada por Miran, visão do Fed sobre taxa neutra é central nas preocupações com a inflação

Por Howard Schneider

WASHINGTON, 8 Out (Reuters) - O novo diretor do Federal Reserve, Stephen Miran, pode não ter conquistado adeptos para sua proposta de cortes acentuados na taxa de juros na reunião de política monetária do mês passado, mas sua sessão inaugural provocou um novo debate sobre o quanto os custos de empréstimos estão restringindo a economia e os riscos envolvidos em errar nessa avaliação.

A ata da reunião de 16 e 17 de setembro, que será divulgada nesta quarta-feira, poderá fornecer novos detalhes sobre a discussão, que será fundamental para determinar até que ponto e com que rapidez as autoridades reduzirão os juros, à medida que tentam avaliar como equilibrar os riscos de inflação, com os preços ainda subindo a um ritmo de 2,7%, bem acima de sua meta de 2%, contra o que alguns consideram um mercado de trabalho enfraquecido.

Embora a paralisação do governo federal tenha atrasado a divulgação do relatório de emprego de setembro na semana passada, dados do setor privado e outros sugeriram que as contratações continuaram lentas.

Mas isso pode não se traduzir necessariamente em um aumento do desemprego devido aos limites que o presidente Donald Trump impôs à imigração e, portanto, à oferta de mão de obra. Analistas também observam que os preços recordes das ações, os gastos contínuos dos consumidores e o crescimento econômico que, segundo algumas medidas, está voltando a ficar acima da tendência, sugerem que a política monetária do Fed pode não ser tão apertada assim.

Um modelo recentemente atualizado da equipe do Fed, que analisa como a taxa de juros, os preços das ações, os rendimentos dos títulos corporativos e outras métricas influenciam a economia, constatou que as condições financeiras gerais estão impulsionando - e não restringindo - o crescimento econômico em cerca de um ponto percentual por ano, com a taxa de juros do Fed contribuindo ligeiramente para o aumento.

Dar muita importância a um mercado de trabalho que pode estar desacelerando devido ao declínio na disponibilidade de trabalhadores estrangeiros pode levar o Fed a cometer um erro, escreveu Jason Thomas, chefe de pesquisa global e estratégia de investimento do Carlyle Group, na terça-feira.

"O risco hoje é que o Fed diagnostique erroneamente a queda no crescimento do emprego como sendo inteiramente um fenômeno do lado da demanda e reduza os juros para níveis que alimentem uma eventual espiral de salários e preços em setores que lutam com uma súbita escassez de trabalhadores disponíveis", disse Thomas.

O Fed reduziu sua taxa de juros em 0,25 ponto percentual na reunião de setembro, um movimento que o chair do Fed, Jerome Powell, e outros caracterizaram como uma forma de deixar a política monetária suficientemente apertada para ainda conter a economia e pressionar a inflação para baixo, ao mesmo tempo em que oferece uma perspectiva mais frouxa que poderia ajudar a proteger contra o rápido enfraquecimento do mercado de trabalho.

Miran discordou da decisão e defendeu um corte maior de 0,5 ponto, e apresentou projeções que pedem uma série de cortes de 0,5 ponto nas próximas reuniões. Ele disse que seus pares haviam superestimado drasticamente os riscos de inflação e o nível dos juros necessário para manter as pressões sobre os preços sob controle.

Historicamente, o Fed só reduziu a taxa de juros com a rapidez sugerida por Miran em resposta a uma crise como a pandemia ou para tentar se antecipar a riscos como os que levaram à crise financeira de 2007 a 2009.

Embora a opinião de Miran seja um ponto de vista divergente, as opiniões dos outros 18 membros também estão divididas. Nove autoridades, em projeções divulgadas após a última reunião, indicaram a necessidade de cortes contínuos de 0,25 ponto na taxa de juros nas duas reuniões restantes deste ano, enquanto sete não viram necessidade de mais cortes, uma visão consistente com as preocupações de que a inflação parece estar acima da meta do Fed.

((Tradução Redação São Paulo))

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