Por Davide Barbuscia e Suzanne McGee
NOVA YORK, 18 Set (Reuters) - Investidores parecem ter à frente alguns meses de volatilidade depois que o Federal Reserve voltou a cortar os juros e abriu a porta à mais flexibilização, mas atenuou sua mensagem com alertas sobre uma inflação persistente, semeando dúvidas sobre o ritmo dos futuros ajustes de política monetária.
Alguns investidores agora estão menos certos de que uma mudança rápida para juros mais baixos se concretizará, o que pode diminuir o otimismo com a perspectiva de que ações e títulos recebam um forte impulso com uma política monetária mais flexível. Adicionando à incerteza, houve uma ampla variedade de opiniões dentro do Fed sobre a trajetória futura das taxas.
"Temos uma visão bastante cautelosa, não necessariamente totalmente defensiva... há algum tempo", que foi reforçada pela mensagem do Fed, disse Larry Hatheway, estrategista de investimentos globais do Franklin Templeton Institute.
Hatheway acrescentou que muitos no mercado provavelmente ficaram um pouco decepcionados com a falta de clareza e orientação do Fed, que não chegou a endossar as expectativas do mercado em relação a uma sequência clara de cortes nas taxas, enfatizando uma abordagem dependente de dados e de reunião por reunião.
Na quarta-feira, o Fed reduziu sua taxa de política monetária em 25 pontos-base para uma faixa de 4% a 4,25%, no primeiro corte desde dezembro, e sinalizou um ciclo de flexibilização gradual em resposta a crescentes preocupações com o mercado de trabalho.
Ao mesmo tempo, o chair do Fed, Jerome Powell, destacou "uma situação desafiadora" para os formuladores de política monetária, observando que os riscos para a inflação estão inclinados para o lado altista e os riscos para o emprego para o lado baixista.
Os comentários diminuíram o otimismo do mercado, apesar de uma mudança "dovish" (que favorece juros mais baixos) muito esperada após dados recentes que mostraram que o desemprego subiu para 4,3% em agosto e as contratações cresceram muito menos do que o esperado. Uma revisão acentuada para baixo dos números de referência de empregos para o ano até março também alimentou recentemente a avaliação de que o mercado de trabalho está perdendo força, reforçando o argumento para vários cortes nas taxas de juros no futuro.
A divulgação pelo banco central dos EUA, na quarta-feira, das projeções econômicas trimestrais atualizadas, incluindo as previsões de taxas emitidas em um gráfico conhecido como "gráfico de pontos", refletiu as expectativas de mais flexibilização este ano em comparação com os "pontos" da reunião de junho, com 50 pontos-base em cortes previstos antes do final do ano.
Ao mesmo tempo, as projeções do Fed ainda colocam a inflação no final deste ano em 3%, bem acima da meta de 2% do banco central, enquanto sua projeção para o crescimento econômico foi ligeiramente maior, 1,6% contra 1,4%.
"Os mercados podem receber bem o viés de flexibilização, mas as mensagens permanecem matizadas e longe de uma mudança total", disse Dan Siluk, gestor de portfólio da Janus Henderson Investors.
O Nasdaq e o S&P 500 estavam perto de recordes de alta quando a reunião do Fed começou, mas fecharam em baixa em negociações instáveis na quarta-feira.
Os rendimentos dos Treasuries, que se movem inversamente aos preços dos títulos, subiram, com os rendimentos de dois anos avançando quatro pontos-base no dia, para 3,55%, e os rendimentos de 10 anos subindo cerca de sete pontos-base, para 4,09%. A curva de rendimentos vinha se achatando nas últimas semanas, com a diferença entre os rendimentos de longo e curto prazo diminuindo devido às expectativas de cortes nas taxas.
"O Fed está em uma situação difícil", disse Jack McIntyre, gerente de portfólio da Brandywine Global Investment Management. "Eles esperam estagflação, ou seja, inflação mais alta e um mercado de trabalho mais fraco. Esse não é um bom ambiente para os ativos financeiros."
RISCOS DE ESTAGFLAÇÃO PERSISTEM
Os preços ao consumidor dos EUA tiveram o maior aumento em sete meses em agosto, em meio a custos mais altos de moradia e alimentação, resultando no maior aumento anual da inflação desde janeiro.
Combinada à suavização das condições do mercado de trabalho, a inflação mais alta provocou temores de estagflação -- uma mistura preocupante de crescimento lento e inflação alta que assombrou os EUA na década de 1970 e que poderia complicar a capacidade do Fed de apoiar o mercado de trabalho com cortes pesados nas taxas.
"Isso está longe de ser a estagflação da década de 1970, mas, na margem, sugere uma perspectiva mais conservadora para os retornos de ações e títulos", disse Michael Rosen, diretor de investimentos da Angeles Investments.
((Tradução Redação Brasília))
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