Por Bernardo Caram e Gabriel Araujo
BRASÍLIA/SÃO PAULO, 11 Jul (Reuters) - O governo brasileiro espera que a tarifa de 50% que o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou, antes nesta semana, sobre todos os produtos do país sul-americano tenha pouco impacto no crescimento económico do país este ano, disse o executivo, esta sexta-feira.
O governo brasileiro minimizou o efeito a curto prazo das tarifas, que entrarão em vigor a 1 de Agosto, dizendo que apenas alguns sectores específicos da indústria manufactureira seriam duramente atingidos.
Os Estados Unidos são um grande importador de petróleo, produtos siderúrgicos, pasta de papel, café, sumo de laranja e carne de vaca brasileira - bens que, segundo o governo, podem encontrar outros compradores nos mercados globais.
"Os produtos básicos representam a maior parte dos itens exportados para os Estados Unidos... e tendem a ser mais facilmente redireccionados para outros países e regiões que os produtos manufacturados", disse o Ministério da Fazenda do Brasil, num relatório.
"Diante deste cenário, o impacto das tarifas tende a ser pouco significativo no crescimento de 2025, embora alguns sectores manufactureiros possam ser particularmente afectados".
Entre esses sectores contam-se a indústria aeroespacial, em que os Estados Unidos representam uma grande parte das receitas da Embraer EMBR3.SA e a maquinaria relacionada com a energia.
Na quinta-feira, o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, já tinha prometido encontrar novos compradores para os produtos do país, dizendo, em entrevista à Record TV, que "não é que não possamos sobreviver sem os Estados Unidos".
O país sul-americano deve crescer 2,5% este ano, segundo estimativas do governo que não levaram em conta as tarifas. A expansão abrandaria para 2,4% em 2026 devido às condições monetárias restritivas.
O secretário da Política Económica, Guilherme Mello, disse aos jornalistas, esta sexta-feira, que, mesmo que "alguns" efeitos sejam sentidos no crescimento, não serão tão relevantes como antes, afirmando que o Brasil conseguiu diversificar os seus parceiros comerciais nas últimas duas décadas.
Cerca de 12% das exportações do Brasil vão para os Estados Unidos, enquanto que o principal parceiro comercial, a China, representa cerca de 28%. Esta sexta-feira, a superpotência asiática também criticou as tarifas impostas por Trump à maior economia da América Latina.
"As tarifas não devem ser usadas como uma ferramenta de coerção, intimidação ou interferência noutros países", disse a porta-voz do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Mao Ning, numa conferência de imprensa em Pequim.
Numa carta dirigida a Lula, Trump associou as tarifas ao facto de a justiça brasileira ter iniciado um processo judicial contra o ex-Presidente Jair Bolsonaro, que está a ser julgado sob a acusação de ter planeado um golpe para impedir Lula de tomar posse em 2023.
Em entrevista à TV Globo, na quinta-feira, Lula disse que achou a justificação de Trump para as tarifas "extremamente ultrajante".
É "simplesmente inaceitável", disse ele, que Trump esteja "pedindo o fim da caça às bruxas contra um ex-Presidente que tentou dar um golpe neste país. Ele não tentou apenas encenar um golpe. Tentou preparar a minha morte".
Texto integral em inglês: nL1N3T80H9