Por Kevin Yao
PEQUIM, 7 Jul (Reuters) - Assessores do governo chinês estão intensificando os apelos para que a contribuição do setor doméstico para o crescimento econômico seja a principal prioridade no próximo plano quinquenal de Pequim, já que as tensões comerciais e a deflação ameaçam as perspectivas.
Os líderes estão reunindo propostas para seu 15º plano quinquenal, um documento volumoso que estabelecerá as prioridades até 2030. O plano deve ser endossado em uma conferência do Partido Comunista em dezembro e aprovado pelo Parlamento em março.
Assessores disseram à Reuters que, embora esperem que o documento eleve o consumo das famílias a uma meta principal, é provável que não estabeleça um objetivo explícito.
Atualmente, o consumo das famílias é responsável por 40% do Produto Interno Bruto - alguns assessores propõem que a China tenha como meta 50% nos próximos dois ciclos de cinco anos.
Há muito tempo economistas pedem que Pequim mude para um modelo econômico baseado no consumo e dependa menos do investimento alimentado por dívidas e das exportações para crescer.
Embora até agora a China tenha resistido amplamente às pressões das tarifas mais altas dos EUA, novas preocupações sobre o excesso de capacidade industrial, a deflação dos preços ao produtor e o estresse resultante sobre os empregos e a renda aumentaram os pedidos de uma mudança na estratégia de longo prazo.
"Depender da demanda externa nos torna vulneráveis a choques globais", disse um consultor de políticas sob condição de anonimato devido à sensibilidade do tópico.
"Devemos fortalecer o consumo interno como um dos principais motores do crescimento e da transformação econômica", disse a fonte, ecoando os apelos de dois outros assessores com quem a Reuters conversou.
Um quarto consultor disse que suas propostas não incluiriam essa recomendação, pois "isso não é algo que possa ser facilmente alcançado sem as políticas e reformas corretas".
NOVA URGÊNCIA
Os apelos por um setor de consumo mais robusto não são novos.
Embora Pequim tenha prometido mudanças estruturais por mais de uma década, a participação do consumo das famílias no PIB está praticamente no mesmo nível de 2005 e muito abaixo da média da OCDE de 54%.
A dificuldade, dizem analistas, é que a China precisa transferir recursos dos setores empresarial e governamental para as famílias de formas que podem desacelerar o crescimento.
Um relatório de progresso do 14º plano quinquenal de 2023 lamentou "mecanismos insuficientes" para impulsionar o consumo.
As propostas para o 15º plano são, em grande parte, as mesmas que Pequim havia prometido anteriormente, disseram os assessores.
Entre elas estão o reforço do bem-estar social, a flexibilização de um sistema interno de passaportes responsabilizado pela profunda desigualdade urbano-rural, e outras medidas - inclusive mudanças tributárias - para redistribuir a renda para aqueles que têm menos e são mais propensos a gastá-la.
As novas propostas incluem o uso de ativos estatais para sustentar os fundos de pensão e apoiar o mercado de ações e o setor imobiliário atingido pela crise para aumentar os ganhos de investimento das famílias.
"Temos que aumentar a renda das famílias, temos que aumentar as transferências para os grupos de baixa renda, mas temos visto cortes nos salários", disse um segundo consultor.
Ele acrescentou que a demanda das famílias assumiu uma importância cada vez maior no próximo plano quinquenal, com as discussões se concentrando na definição de uma meta de consumo específica para a China.
Yang Weimin, vice-presidente do think-tank China Centre for International Economic Exchanges, disse no mês passado que a China deveria aumentar o consumo das famílias para mais de 50% do PIB até 2035.
((Tradução Redação São Paulo))
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