Por Howard Schneider
WASHINGTON, 13 Jun (Reuters) - O Federal Reserve deve manter as taxas de juros estáveis na próxima semana, segundo expectativa amplamente predominante, e os investidores estarão de olho nas novas projeções do banco central que mostrarão o peso que as autoridades monetárias estão dando aos dados econômicos recentes e o risco que atribuem às questões comerciais e orçamentárias não resolvidas e à intensificação do conflito no Oriente Médio.
Dados recentes sobre a inflação diminuíram a preocupação de que as tarifas impostas pelo presidente Donald Trump se traduziriam rapidamente em preços mais altos, enquanto o último relatório mensal do mercado de trabalho mostrou uma desaceleração no crescimento do emprego -- uma combinação que, tudo o mais constante, deixaria o Fed mais perto de retomar seus cortes nas taxas.
Trump já demandou que o banco central dos EUA reduza imediatamente sua taxa básica de juros em um ponto percentual, uma medida drástica que equivaleria a uma aposta total do Fed de que a inflação cairá para sua meta de 2% e permanecerá lá, independentemente de o que o governo fizer e mesmo com condições financeiras dramaticamente mais frouxas.
Os riscos dessa abordagem foram evidenciados durante a noite, quando um ataque israelense contra o Irã fez com que os preços do petróleo subissem quase 9%, o que poderia interromper uma série de quatro meses de queda nos preços da energia que ajudou a manter a inflação geral mais moderada do que o esperado. O Irã é um grande produtor de petróleo, e um conflito mais amplo na região poderia interromper tanto a produção quanto o transporte.
Embora o preço do petróleo seja menos proeminente na inflação dos EUA do que foi durante os choques do petróleo da década de 1970, grandes oscilações nos preços das commodities ou o desenvolvimento de riscos geopolíticos podem tornar as autoridades do Fed mais cautelosas em suas decisões -- como aconteceu com a invasão da Ucrânia pela Rússia no início de 2022, que levou o banco central dos EUA a iniciar um ciclo de aumento da taxa de juros com uma alta de 0,25 ponto percentual, menor do que muitos haviam defendido antes do início da guerra.
A pressão de Trump para reescrever as regras do comércio global também continua sendo um fator importante, com resultados potencialmente inflacionários. Desde a última reunião de política do Fed, em maio, o governo adiou para o próximo mês a ameaça de uma rodada de tarifas globais que as autoridades do banco central temem que possa levar a preços mais altos e a um menor crescimento, caso seja implementada. As tensões comerciais entre os EUA e a China diminuíram, mas não foram resolvidas; e os termos de um orçamento maciço e de um projeto de lei fiscal em análise no Congresso estão longe de ser resolvidos.
Quando as autoridades do Fed emitiram seu último conjunto de projeções trimestrais em março, prevendo dois cortes de 0,25 ponto percentual na taxa de juros este ano, o chair do Fed, Jerome Powell, observou o papel que a inércia pode desempenhar em momentos em que a perspectiva é tão incerta que "você simplesmente diz 'talvez eu fique onde estou'", um sentimento que pode durar enquanto o debate sobre as tarifas não for resolvido.
Comentários recentes do Fed reforçaram a abordagem "esperar para ver", com as autoridades sinalizando pouca urgência para ajustar a política monetária em meio ao aumento da incerteza em relação às perspectivas econômicas", escreveu Gregory Daco, economista-chefe da EY-Parthenon. Daco disse prever que a mediana das projeções dos 19 formuladores de política monetária do Fed para os juros ainda mostrará, ao fim da reunião em 17 e 18 de junho, dois cortes nas taxas em 2025, com um tom geral de "paciência cautelosa" e "pouca orientação futura", dada a incerteza que pesa sobre as famílias e as empresas.
Essa visão se alinha aproximadamente com o que os investidores em contratos vinculados à taxa de juros do Fed esperam atualmente, embora a precificação tenha mudado para um possível terceiro corte na taxa esta semana, depois que dados mostraram que os preços ao consumidor e ao produtor aumentaram menos do que o esperado em maio.
Embora a inflação anual medida pelo Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE), o preferido do Fed, esteja cerca de 0,5 ponto percentual acima da meta do banco central, dados recentes mostram que ela está próxima de 2% nos últimos três meses quando os componentes mais voláteis de alimentos e energia são excluídos.
A taxa de desemprego, por sua vez, permaneceu em 4,2% nos últimos três meses.
"CADA VEZ MAIS CLARO"
A taxa de juros do Fed foi fixada na atual faixa de 4,25% a 4,50% em dezembro, quando o banco central dos EUA a reduziu em 0,25 ponto, o que as autoridades na época esperavam que fosse uma série constante de reduções nos custos de empréstimos estimulados pela desaceleração da inflação. No entanto, a política comercial adotada por Trump após seu retorno ao cargo em 20 de janeiro aumentou o risco de uma inflação mais alta e de um crescimento menor, um resultado que colocaria o Fed na desconfortável posição de ter que escolher entre se concentrar em manter a inflação em sua meta de 2% ou apoiar a economia e sustentar o baixo desemprego.
O risco de um resultado com o pior dos dois mundos diminuiu desde o início da primavera (do Hemisfério Norte), quando a lista de tarifas globais do "Dia da Liberação" de Trump causou uma reação do mercado e levou a previsões generalizadas de uma recessão nos EUA antes de o presidente recuar.
Em sua análise mais recente, analistas do Goldman Sachs reduziram as chances de uma recessão para cerca de 30% e disseram que agora veem um pouco menos de inflação e um crescimento ligeiramente maior este ano.
No entanto, essa análise não provocou uma mudança na estimativa para os juros pelo banco de investimentos, que atualmente espera que os números mais altos da inflação durante o verão deixem o banco central de lado até dezembro.
O próprio Fed pode ver sua projeção de taxa mediana cair para um único corte de 0,25 ponto este ano, mesmo que apenas devido à passagem do tempo, observou Tim Duy, economista-chefe para os EUA da SGH Macro Advisors.
Com três meses a menos no ano para fazer mudanças na política monetária e tantas questões importantes pendentes, "se o Fed mantivesse dois cortes (...) teria mais confiança nesses dois cortes do que em março", escreveu Duy. "Mas (...) os participantes têm menos confiança nos cortes das taxas desde o 'Dia da Liberação', e isso deve se refletir" nas novas projeções.
Bastaria que duas autoridades mudem suas perspectivas para que as projeções de redução das taxas do Fed se voltem mais para o próximo ano.