Por Howard Schneider
WASHINGTON, 28 Mai (Reuters) - As autoridades do Federal Reserve reconheceram em sua mais recente reunião de política monetária que poderiam enfrentar "tradeoffs difíceis" nos próximos meses na forma de aumento da inflação e do desemprego, uma perspectiva reforçada pelas projeções da equipe sobre a elevação dos riscos de uma recessão, de acordo com a ata do encontro de 6 e 7 de maio.
A combinação do aumento da inflação e do desemprego em conjunto forçaria os membros do banco central dos Estados Unidos a decidir se devem priorizar o combate à alta dos preços, com uma política monetária mais rígida, ou apoiar o crescimento e o emprego, com cortes na taxa de juros.
"Quase todos os participantes comentaram sobre o risco de a inflação se mostrar mais persistente do que o esperado", à medida que a economia norte-americana tem se adaptado às tarifas mais altas propostas pelo governo do presidente Donald Trump.
"Os participantes observaram que o Comitê (Federal de Mercado Aberto) pode enfrentar difíceis tradeoffs se a inflação se mostrar mais persistente e as perspectivas de crescimento e emprego enfraquecerem", diz a ata.
"Os participantes concordaram que a incerteza sobre as perspectivas econômicas havia aumentado ainda mais, tornando apropriado adotar uma abordagem cautelosa até que os efeitos econômicos do conjunto de mudanças nas políticas governamentais se tornem mais claros."
A perspectiva de aumento do desemprego e da inflação foi delineada nos briefings da equipe que projetaram uma taxa de inflação "acentuadamente" mais alta neste ano devido ao impacto das tarifas e um mercado de trabalho que "deve enfraquecer substancialmente", com a taxa de desemprego subindo acima das estimativas de longo prazo de pleno emprego até o final deste ano e permanecendo lá por dois anos.
Os resultados da reunião de maio e o relato mais detalhado dela na ata foram ofuscados pela decisão de Trump de adiar as tarifas mais agressivas, em especial a taxa de 145% sobre as importações chinesas, que ameaçava paralisar grande parte do comércio global.
Essa mudança fez com que muitos analistas reduzissem os riscos de recessão que, no início de maio, a equipe do Fed havia considerado "quase tão provável quanto a linha de base" de desaceleração, mas crescimento contínuo.
Mas, em teoria, essas tarifas rígidas estão suspensas apenas até julho, enquanto se aguarda as negociações sobre as alíquotas finais das taxas, o que tem mantido as autoridades do Fed e os empresários no escuro sobre o cenário econômico que poderão enfrentar nos próximos meses.
A incerteza sentida ainda hoje também foi a palavra de ordem na reunião de maio, quando o Fed decidiu manter a taxa de juros estável na faixa de 4,25% a 4,5%.
Em uma coletiva de imprensa após a reunião, o chair do Fed, Jerome Powell, indicou que o banco central estava efetivamente em pausa até que o governo finalizasse seus planos tarifários e o impacto sobre a economia se tornasse mais claro, uma visão reiterada por ele e outros membros nas semanas seguintes.
Em maio, as autoridades também observaram que a volatilidade nos mercados de títulos nas semanas anteriores à reunião "justificava o monitoramento" e observaram que uma mudança no status do dólar, junto do aumento dos rendimentos dos Treasuries, "pode ter implicações duradouras para a economia".
A próxima reunião do Fed será nos dias 17 e 18 de junho, quando o banco central divulgará novas projeções sobre suas perspectivas para a inflação, o emprego e o crescimento econômico nos próximos meses e anos, bem como a taxa de juros projetada que eles consideram adequada.
Em sua reunião de março, a projeção mediana entre os membros foi de dois cortes de 25 pontos-base até o final de 2025.
((Tradução Redação São Paulo, +55 11 5047-3075))
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