Por Lucia Mutikani
WASHINGTON, 30 Abr (Reuters) - A economia dos Estados Unidos provavelmente estagnou ou até mesmo contraiu no primeiro trimestre, em meio a uma enxurrada de produtos importados por empresas ansiosas para evitar custos mais altos, ressaltando a natureza perturbadora da política tarifária muitas vezes caótica do presidente Donald Trump.
O relatório do Produto Interno Bruto (PIB) do Departamento de Comércio a ser divulgado nesta quarta-feira, no entanto, deve exagerar as perspectivas sombrias da economia. Coincidindo com os 100 dias de mandato de Trump, esse relatório reforçará a crescente desaprovação dos norte-americanos em relação à forma como ele vem lidando com a economia até o momento. Trump garantiu a vitória em novembro passado devido à angústia dos eleitores em relação à economia, especialmente a inflação.
A confiança do consumidor está perto de mínimas de cinco anos e o sentimento empresarial despencou, enquanto as companhias aéreas retiraram suas previsões financeiras para 2025, citando a incerteza sobre os gastos com viagens não essenciais por causa das tarifas, que os economistas alertaram que aumentarão os custos para empresas e famílias.
"O choque comercial agora parece grande, ofuscando tudo o mais que a Casa Branca tentou realizar", disse Joe Brusuelas, economista-chefe da RSM US. "O fato de termos passado de um choque comercial para um choque financeiro e para uma possível recessão em menos de 100 dias deve dar uma pausa àqueles que querem continuar nesse caminho de tarifas."
Uma pesquisa da Reuters com economistas previu que o PIB provavelmente aumentou a uma taxa anualizada de 0,3% no primeiro trimestre, o que seria o ritmo mais lento desde o segundo trimestre de 2022. Mas a pesquisa foi concluída antes que os dados de terça-feira mostrassem que o déficit comercial de bens subiu para um recorde histórico em março, em meio a importações recordes, o que levou os economistas a rebaixar drasticamente suas estimativas do PIB.
Economistas estimaram que o déficit comercial subtraiu até 1,9 ponto percentual do PIB no último trimestre. O Goldman Sachs previu que contração do PIB a uma taxa de 0,8%. A economia cresceu 2,4% no quarto trimestre.
Alguns economistas advertiram contra a atribuição de peso excessivo ao número do PIB, argumentando que uma quantidade excepcionalmente grande de ouro não monetário foi responsável por parte do salto nas importações.
Outros argumentaram que os dados não mudaram a narrativa de uma economia em dificuldades devido à incerteza causada pelas tarifas.
"Não há nenhum ponto positivo real a ser extraído do relatório que esperamos", disse Matt Colyar, economista da Moody's Analytics. "A forma caprichosa como essas políticas foram anunciadas atinge a todos, todos sabem disso logo de cara, e estão calculando, com razão, que as coisas que compram vão subir mais."
((Tradução Redação São Paulo))
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