Por David Lawder
WASHINGTON, 23 Abr (Reuters) - As pressões econômicas decorrentes das novas tarifas mais altas dos Estados Unidos elevarão a dívida pública global acima dos níveis da era da pandemia, para quase 100% do PIB global até o final da década, conforme o crescimento e comércio mais fracos pressionam os orçamentos governamentais, disse o Fundo Monetário Internacional nesta quarta-feira.
O mais recente Monitor Fiscal do FMI projetou que a dívida pública global crescerá 2,8 pontos percentuais, atingindo 95,1% do PIB global em 2025. Segundo o relatório, é provável que a tendência de alta continue, atingindo 99,6% do PIB global até 2030.
A dívida pública global atingiu um pico em 2020, a 98,9% do PIB, à medida que os governos contraíram grandes empréstimos para gastos relacionados ao alívio da Covid-19 e a produção diminuiu. A dívida caiu 10 pontos percentuais em dois anos.
Mas ela vem subindo e a última previsão mostrou que está acelerando.
"Grandes anúncios de tarifas pelos Estados Unidos, contramedidas por outros países e níveis excepcionalmente altos de incerteza política estão contribuindo para piorar as perspectivas e aumentar os riscos", disse o FMI no relatório.
O documento acrescentou que isso aumenta os desafios dos governos, à medida que seus orçamentos são pressionados por maiores necessidades de gastos com defesa, demandas por mais apoio social e aumento dos custos do serviço da dívida, que podem crescer com mais pressões inflacionárias.
A previsão é de que os déficits fiscais anuais dos governos atinjam uma média de 5,1% do PIB em 2025, em comparação com 5,0% em 2024, 3,7% em 2022 e 9,5% em 2020, de acordo com o relatório.
CRESCIMENTO MAIS LENTO, MAIS DÍVIDA
As perspectivas orçamentárias baseiam-se na "previsão de referência" do FMI de um crescimento de 2,8% do PIB global este ano incluída em seu mais recente relatório Perspectiva Econômica Global, que levou em conta desenvolvimentos tarifários até 4 de abril. A perspectiva econômica, assim como a perspectiva fiscal, pioraria se as tarifas mais altas do presidente Donald Trump e as medidas de retaliação começassem a ser aplicadas.
Os níveis de endividamento podem subir acima de 117% até 2027 -- nível previsto em um cenário severamente adverso -- "se as receitas e a produção econômica diminuírem de forma mais significativa do que as previsões atuais devido ao aumento das tarifas e às perspectivas de crescimento enfraquecidas".
A dívida nesse nível seria a mais elevada desde a 2ª Guerra Mundial, disse o FMI.
Grande parte do crescimento da dívida está concentrada em economias maiores, disse o diretor de Assuntos Fiscais do FMI, Vitor Gaspar, à Reuters. Cerca de um terço dos 191 países membros do FMI agora têm dívidas crescendo a taxas maiores do que antes da pandemia, mas eles representam cerca de 80% do PIB global, acrescentou.
As pressões crescentes podem levar a demandas cada vez maiores por gastos sociais, especialmente em países vulneráveis a graves interrupções causadas por choques comerciais, o que pode elevar os gastos, segundo o relatório.
MELHORA NOS EUA - POR ENQUANTO
O FMI prevê uma ligeira melhora nos déficits orçamentários anuais dos EUA nos próximos dois anos, para 6,5% do PIB em 2025 e 5,5% em 2026, em comparação com 7,3% em 2024. Isso se deve a uma combinação de maiores cobranças de tarifas com base nas medidas anunciadas, bem como ao crescimento contínuo da produção dos EUA.
"O desempenho da economia dos EUA tem sido forte nos últimos anos, e isso ajuda o orçamento. Ajuda nos EUA, ajuda em todos os lugares", disse Gaspar.
Mas a previsão dos EUA presumiu que os cortes de impostos republicanos aprovados em 2017 expirarão no final do ano, conforme programado. O governo Trump quer prorrogá-los, o que, segundo especialistas em orçamento, acrescentaria cerca de US$4 trilhões à dívida dos EUA ao longo de uma década, sem compensações.
Espera-se que os déficits fiscais da China cresçam acentuadamente em 2025, para 8,6% do PIB, de 7,3% em 2024, estabelecendo-se em 8,5% em 2026. Os gastos com estímulo econômico foram citados pelo FMI como uma das razões pelas quais a previsão de crescimento da China para 2025 foi mantida em 4%, compensando parcialmente um grande obstáculo à produção decorrente das tarifas.
O FMI reiterou sua orientação aos países para que priorizem a redução da dívida pública a fim de ajudar a criar amortecedores fiscais para enfrentar futuros choques econômicos.
"Países com espaço limitado nos orçamentos governamentais devem implementar planos de consolidação graduais e confiáveis e permitir que os estabilizadores automáticos, como os benefícios de desemprego, funcionem de forma eficaz", disse o FMI.
"Quaisquer novas necessidades de gastos devem ser compensadas por cortes de gastos em outros lugares ou novas receitas."