Por Ann Saphir
27 Mar (Reuters) - A tarifa permanente de 25% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre automóveis importados ampliou a guerra comercial global, alimentando expectativas de preços mais altos para carros e outros produtos, mas sem ajudar a dar fim ao debate sobre como as políticas de seu governo afetarão a economia norte-americana.
Com a iminência de mais anúncios de tarifas na próxima semana, formuladores de política monetária do Federal Reserve permanecem em um padrão de espera em relação à taxa básica de juros.
Com pesquisas mostrando sinais de apreensão econômica e uma queda na confiança, autoridades estão atentas para ver se isso se reflete em dados "concretos", como na taxa de desemprego ainda baixa. Eles também estão observando se os temores de famílias e empresas em relação ao aumento dos preços reacenderão a inflação que estava desacelerando.
Autoridades do Fed lembram que tarifas durante o primeiro governo de Trump desencadearam vários cortes nos juros para amortecer o enfraquecimento da produção. Mas a inflação elevada pode levar a economia a uma trajetória diferente desta vez.
"As tarifas, por um lado, aumentam um pouco os preços, então talvez isso seja inflacionário (e signifique) uma trajetória de taxa de juros mais alta, se os preços estiverem mais altos", disse o presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari. "Porém, elas também estão desacelerando a atividade econômica, o que reduziria os juros, tudo o mais constante", disse ele à câmara de comércio local na quarta-feira.
"Eu olho para essas duas coisas e penso, ok, é meio que um empate, (devemos) aguardar onde estamos por um tempo maior até termos clareza", disse Kashkari.
Tarifas são apenas parte da equação. O presidente do Fed, Jerome Powell, observou na semana passada que os formuladores de política monetária devem avaliar o efeito total dos planos do governo Trump, incluindo cortes nos gastos e impostos federais, juntamente com regulamentações mais flexíveis e imigração mais rigorosa. Ele observou que o impacto de todas essas políticas, juntamente com as tarifas, é altamente incerto.
Nesta quinta-feira, operadores de futuros de juros continuaram apostando em três cortes de juros este ano, provavelmente começando em junho. A maioria dos economistas espera um pouco menos de flexibilização, em linha com o que formuladores de política monetária do Fed projetaram na semana passada, depois de manterem a taxa de juros em sua faixa atual de 4,25% a 4,50%.
Autoridades do Fed citaram incertezas políticas e dados econômicos fortes que não exigem nenhuma mudança imediata nos custos de empréstimos de curto prazo.
A medida de inflação preferida do Fed tem estado meio ponto percentual acima da meta de 2%. Na quarta-feira, o presidente do Fed de St. Louis, Alberto Musalem, disse que se as expectativas de inflação elevarem isso, ele pode até apoiar um aumento da taxa. Por enquanto, essa opção parece ser apenas uma possibilidade distante para a maioria de seus colegas.
Outras autoridades monetárias, como o presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, dizem ainda ver espaço para cortes de taxas no próximo ano. Eles não citaram preocupações de que o desemprego, agora em 4,1%, aumentará acentuadamente, mas expressaram a expectativa de que a inflação tenderá a cair.
Eles estarão observando os próximos dados, incluindo a leitura de sexta-feira sobre a inflação no índice de despesas de consumo pessoal e o relatório mensal de empregos do Departamento do Trabalho da próxima sexta-feira.
"Não devemos nos deixar levar por uma falsa sensação de estabilidade da política monetária do Fed", escreveu a economista sênior da EY, Lydia Boussour, na quinta-feira.
"Uma postura reativa da política monetária significa que a direção da política monetária pode rapidamente se tornar mais branda por dados econômicos e do mercado de trabalho mais fracos, assim como pode se tornar mais agressiva com leituras mais fortes de inflação e expectativas de inflação."
((Tradução Redação Brasília))
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