
Por Stephen Eisenhammer e Shariq Khan
19 Dez (Reuters) - O senador norte-americano Ron Wyden contatou sete empresas de transporte marítimo como parte de uma investigação sobre o contrabando de combustível ligado a cartéis entre os Estados Unidos e o México, pedindo às empresas que explicassem seus procedimentos de verificação para garantir que seus navios-tanque não sejam usados para transportar hidrocarbonetos ilícitos, de acordo com cópias das cartas vistas pela Reuters.
As cartas de Wyden, o membro democrata mais antigo da Comissão de Finanças do Senado, são datadas de sexta-feira. Elas surgem em um momento em que o petróleo bruto roubado e o combustível contrabandeado se tornaram a segunda maior fonte de receita para os cartéis mexicanos, depois do narcotráfico, segundo o Departamento do Tesouro dos EUA.
Os narcotraficantes conseguiram isso infiltrando-se no vasto setor energético da América do Norte e dominando a logística de transporte de derivados de petróleo por caminhão, trem e, mais recentemente, navios-tanque. Trata-se de uma demonstração audaciosa de engenhosidade por parte dos cartéis mexicanos, que recrutaram diversos atores legítimos da indústria petrolífera para ajudá-los a obter e transportar os produtos, alguns sem saber, outros participando ativamente, segundo fontes policiais.
"Quero ter certeza de que tanto as empresas de transporte marítimo quanto o governo dos EUA estão fazendo tudo ao seu alcance para interromper essa fonte de receita", disse Wyden, senador sênior do Oregon, à Reuters por email. "Essas cartas são o primeiro passo no meu esforço para aprender mais sobre como essas redes criminosas operam e onde os controles existentes estão falhando."
As cartas de Wyden faziam referência a uma investigação da Reuters (link) que reconstituiu o funcionamento do alegado esquema e como ele explora brechas no vasto e complexo setor energético dos EUA, afetando diversas entidades, incluindo grandes empresas petrolíferas, companhias de navegação e agências governamentais.
As cartas foram enviadas a sete das maiores empresas do setor global de navios-tanque: Torm, International Seaways, Norden, CMB.Tech, Frontline, Teekay e Scorpio. Wyden solicitou informações detalhadas até 10 de janeiro de 2026 sobre a devida diligência que cada empresa realiza "para garantir que seus navios-tanque não sejam utilizados para transportar combustível ilícito", diz a carta.
Nenhuma das empresas foi acusada de irregularidades.
Segundo uma investigação da Reuters publicada em 22 de outubro, que citou documentos e fontes de segurança, Torm era o gerente de duas embarcações que teriam sido usadas para contrabando de petróleo no início deste ano.
A CMB.Tech afirmou que pratica a devida diligência, segue os padrões de "conheça seu cliente" e cumpre todas as regulamentações aplicáveis. A empresa, com sede na Bélgica, disse que responderá às perguntas de Wyden.
Norden confirmou o recebimento da carta de Wyden e afirmou que seus transportes marítimos são realizados em conformidade com as leis aplicáveis.
As outras empresas não responderam de imediato aos pedidos de comentários relativos à consulta de Wyden.
Segundo apurou a agência de notícias, os cartéis mexicanos têm cada vez mais se infiltrado no comércio bilionário de contrabando de combustível dos Estados Unidos para o México.
O esquema se resume, em grande parte, a uma lucrativa sonegação fiscal. O México cobra uma taxa conhecida como IEPS sobre uma ampla variedade de produtos, incluindo diesel e gasolina importados. Os criminosos burlam o imposto, cobrado por litro e que frequentemente representa mais de 50% do valor da carga, declarando o combustível estrangeiro como algum outro tipo de derivado de petróleo isento da taxa. Uma única carga de navio-tanque pode economizar milhões de dólares em impostos, segundo um cálculo da Reuters baseado na alíquota e nos volumes normalmente transportados por essas embarcações.
O Cartel Jalisco Nova Geração, um dos cartéis mais poderosos e violentos do México, é o líder incontestável no contrabando de combustível e petróleo bruto e o único cartel que utiliza navios-tanque, de acordo com fontes de segurança mexicanas e americanas.
O contrabando de combustível cresceu tão rapidamente que as importações ilegais agora representam até um terço do mercado de diesel e gasolina do México, prejudicando os lucros de algumas das maiores empresas do setor petrolífero, disseram à Reuters cinco fontes atuais e antigas do governo mexicano no início deste ano. O combustível ilegal que entra no país está avaliado em mais de US$ 20 bilhões por ano, de acordo com uma das pessoas que ajudou o Ministério da Fazenda do México a calcular a dimensão do comércio ilícito.
"A dimensão dessas operações ilícitas de contrabando de combustível é impressionante", escreveu Wyden nas cartas. "Combater essa indústria ilícita é fundamental para reduzir a capacidade dos cartéis de fabricar e distribuir fentanil, cocaína e outras drogas letais nos Estados Unidos, e o setor de transporte marítimo internacional deve fazer a sua parte para acabar com essa prática ilegal."