
Por Ron Bousso
LONDRES, 18 Dez (Reuters) - A nomeação surpresa de Meg O'Neill como a primeira presidente-executiva externa da BP oferece à fragilizada petrolífera britânica de 90 bilhões de dólares três opções estratégicas claras para o futuro: construir, comprar ou ser comprada.
BP BP.L anunciou na quarta-feira que o presidente-executivo Murray Auchincloss deixaria o cargo (link) no dia seguinte e que O'Neill, atual presidente-executiva da Woodside Energy (WDS.AX), empresa listada na bolsa australiana, o sucederia em abril. A diretora de trading da BP, Carol Howle, atuará como presidente-executiva interina até lá.
A reformulação da liderança é o sinal mais claro até agora de que o presidente do conselho da BP, Albert Manifold, que assumiu o cargo em 1º de outubro, pretende reformular fundamentalmente a petrolífera, que há muito enfrenta dificuldades.
A reestruturação ocorre após três anos turbulentos para a empresa de energia de 116 anos, que incluíram mudanças na liderança, a reformulação de uma estratégia fracassada de energias renováveis, pressão de investidores ativistas e rumores de que a empresa seria adquirida em breve.
"Houve progressos nos últimos anos, mas é necessário maior rigor e diligência para implementar as mudanças transformadoras necessárias para maximizar o valor para os nossos acionistas", afirmou Manifold em comunicado divulgado na quarta-feira.
UM EMPREGO DOS SONHOS?
O'Neill, cidadã norte-americana, não só se tornará a primeira presidente-executiva externa da BP, como também a primeira mulher a liderar uma grande petrolífera ocidental. Nos últimos anos, ela supervisionou a expansão da Woodside, que se tornou uma participante de maior destaque no setor de gás natural liquefeito.
Assumir o comando da BP, no entanto, é uma tarefa de uma magnitude completamente diferente.
Auchincloss assumiu o cargo de presidente-executivo em janeiro de 2024, após a renúncia inesperada de Bernard Looney em setembro de 2023 por mentir ao conselho sobre relacionamentos pessoais com funcionários.
Auchincloss reverteu radicalmente (link) a ambiciosa estratégia de transição energética de seu antecessor, descartando os planos de reduzir a produção de petróleo e gás da BP e expandir seus negócios em energias renováveis.
Após forte pressão do investidor ativista Elliott Management, Auchincloss prometeu, em fevereiro, concentrar ainda mais as operações da BP em seus negócios tradicionais, já que os retornos das energias renováveis estavam estagnados (link).
A BP revitalizou sua divisão de petróleo e gás com diversos novos projetos de exploração e produção no Golfo do México, Iraque e Líbia, além de uma importante descoberta de petróleo no Brasil (link).
E a empresa, que bombou 2,36 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boepd) em 2024, agora visa aumentar ligeiramente esse número para entre 2,3 milhões e 2,5 milhões de boepd até 2030.
A BP também lançou um programa de redução de custos de US$ 4 bilhões a US$ 5 bilhões até 2027 e, neste ano, cortou 5% de sua força de trabalho global de quase 90.000 (link).
Essas mudanças parecem ter sido bem recebidas pelos investidores.
As ações da BP subiram 10% este ano, superando o desempenho da Shell SHEL.L, Chevron CVX.N e TotalEnergies TOTAL.GH.
O'Neill herda, portanto, uma empresa que está caminhando na direção certa.
Mas agora ela terá a missão de aprimorar ainda mais o desempenho operacional e financeiro da BP sob a supervisão de Manifold, que parece estar muito mais envolvido na gestão diária da empresa do que seus antecessores recentes.
A estratégia mais segura para O'Neill provavelmente seria continuar expandindo a divisão de exploração e produção da BP, direcionando mais recursos para o negócio, seja para desenvolver a produção ou adquirir ativos. A empresa planeja investir cerca de US$ 10 bilhões em petróleo e gás, de um orçamento total de despesas de capital estimado entre US$ 13 bilhões e US$ 15 bilhões por ano, entre 2025 e 2027.
É provável que ela também mantenha ou supere os planos de seu antecessor de realizar desinvestimentos no valor de US$ 20 bilhões entre 2025 e 2027, a fim de reduzir drasticamente o pesado endividamento da BP.
As previsões de queda nos preços do petróleo no próximo ano, em meio ao aumento da oferta global, complicarão a tarefa de O'Neill.
MELHOR É MAIS ARRISCADO
Ironicamente, quanto melhor for o desempenho da BP no próximo ano, mais incerto se tornará seu futuro.
Nos últimos anos, houve muita especulação sobre a possível aquisição da BP por uma concorrente maior. Em junho, a Shell descartou a compra da BP (link) após relatos da mídia de que planejava fazê-lo. Outras empresas, incluindo a Exxon Mobil XOM.N, a Chevron e a companhia petrolífera nacional dos Emirados Árabes Unidos, Adnoc, teriam considerado apresentar propostas para a aquisição da BP.
Sem dúvida, adquirir a gigante britânica do setor energético seria uma transação extremamente cara e complexa, que exigiria longas aprovações regulatórias e desinvestimentos maciços. A integração da empresa também provavelmente levaria anos, com muitos obstáculos pelo caminho.
Mas, com a crescente confiança do setor de que a demanda por petróleo e gás permanecerá robusta por décadas, apesar da transição energética, a consolidação tornou-se mais atraente, pois oferece às empresas a oportunidade de aumentar a escala e reduzir os custos operacionais.
O recente crescimento e sucesso do portfólio de exploração e produção da BP, portanto, a tornam uma perspectiva atraente para uma concorrente – como a Shell – que busca expandir sua produção de petróleo e gás a curto e longo prazo.
A nomeação de O'Neill é um sinal de que o conselho da BP quer continuar lutando pelo futuro da empresa após três anos turbulentos. Seu sucesso, no entanto, pode colocá-la diretamente na mira de rivais interessados em aquisições.
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