
Por Abhijith Ganapavaram
NOVA DELI, 8 Dez (Reuters) - Uma onda de cancelamentos de voos pela IndiGo, a maior companhia aérea da Índia, provocou uma semana de caos e deixou dezenas de milhares de passageiros em terra, expondo os riscos de uma situação semelhante a um duopólio no mercado de aviação que mais cresce no mundo.
Durante anos, a IndiGo, com uma quota de mercado doméstico de 65%, ajudou os indianos a realizar o sonho de voar – uma aspiração partilhada pelo primeiro-ministro Narendra Modi, que certa vez disse que "aqueles que usam chinelos também deveriam ser vistos em aviões".
A companhia aérea tornou-se o símbolo do boom da aviação nacional nos últimos anos, com sua promessa de tarifas baixas e pontualidade.
Mas a semana passada mudou tudo: a IndiGo cancelou pelo menos 2.000 voos devido à falta de pilotos, após não ter se planejado adequadamente para as novas regras que limitam a jornada de trabalho. Isso afetou planos de férias, casamentos e inundou as redes sociais com fotos e vídeos de bagagens se acumulando nos terminais — cenas nunca vistas na história da aviação indiana.
Os problemas da IndiGo surgem em um momento crítico para a companhia aérea e para o setor. A concorrente Air India, que detém 27% do mercado e era estatal até 2022, enfrenta há anos reclamações sobre sua frota obsoleta e serviços precários, além de estar sob maior escrutínio desde o acidente ocorrido em junho, (link) que matou 260 pessoas.
A IndiGo afirmou que espera retornar à normalidade nos próximos dias, mas seus problemas geraram alertas tanto de políticos quanto de especialistas em aviação. A crise levantou preocupações sobre os riscos da dependência excessiva de uma única companhia aérea e se a empresa é realmente grande demais para falir.
O governo agiu rapidamente, flexibilizando as regras de gestão da fadiga dos pilotos para atenuar os transtornos. A IndiGo pediu desculpas repetidamente, mas não divulgou os prejuízos financeiros decorrentes da crise.
"O tamanho da IndiGo cresceu a tal ponto que contratempos operacionais representam um risco sistêmico", disse Harsh Vardhan, presidente da Starair Consulting.
Se a IndiGo ou a Air India entrarem em "problemas, haverá caos na aviação indiana... o governo precisa reduzir os impostos sobre o combustível de aviação e incentivar mais concorrência", acrescentou.
DOMÍNIO DA INDIGO NA ÍNDIA
Existem duopólios de companhias aéreas em alguns países, como Austrália e Canadá. Até mesmo a China, a segunda nação mais populosa do mundo, possui três companhias aéreas estatais e várias privadas.
O mercado de aviação da Índia não é um duopólio no sentido estrito, mas analistas afirmam que a participação de mercado de 92% da IndiGo e da Air India — incluindo sua subsidiária de baixo custo, a Air India Express — cria uma situação semelhante a um duopólio e gera vulnerabilidades.
Em muitas rotas que ligam cidades menores, a IndiGo detém o monopólio.
"Um país não pode crescer de forma robusta com duopólios, ou monopólios efetivos, em qualquer setor", escreveu GR Gopinath, fundador da extinta companhia aérea de baixo custo Air Deccan, em um editorial de fim de semana no jornal Economic Times.
Apesar dos esforços governamentais para expandir os aeroportos e simplificar as regras operacionais, poucas companhias aéreas obtiveram sucesso. Impostos elevados, concorrência acirrada e problemas na cadeia de suprimentos levaram empresas como Kingfisher, Jet Airways e Go First à falência nos últimos anos.
A IndiGo não respondeu ao pedido de comentário da Reuters. No domingo, a empresa afirmou que estava a caminho de operar mais de 1.650 voos e expressou confiança de que as operações se estabilizariam até quarta-feira.
ASCENSÃO RÁPIDA DA IndiGo
Modi falou sobre suas ambições (link) para o setor de aviação da Índia na conferência global de companhias aéreas em Nova Delhi este ano, mas essa visão depende principalmente do sucesso da IndiGo e da Air India.
Dados da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) mostram que cerca de 174 milhões de passageiros viajaram de avião dentro da Índia em 2024, um aumento de 10% em relação ao ano anterior.
Fundada em 2006 pelos empresários indianos Rakesh Gangwal e Rahul Bhatia, a IndiGo cresceu rapidamente. Atualmente, possui uma frota de mais de 400 aeronaves, em sua maioria Airbus AIR.PA A320, e atende cerca de 380.000 clientes por dia em seus mais de 2.000 voos diários.
A companhia aérea é liderada pelo presidente-executivo Pieter Elbers, ex-presidente da KLM Royal Dutch Airlines.
"Este parece ser o ponto mais baixo da história da empresa. As interrupções estão prejudicando a imagem da marca", disse um executivo da IndiGo, que pediu para não ser identificado devido à delicadeza do assunto.
Com receitas de US$ 9 bilhões e lucros de US$ 807 milhões no último ano fiscal, a IndiGo domina o setor de aviação da Índia. É provável que a empresa sofra um impacto negativo em sua receita anual devido às interrupções — com os reembolsos aos clientes já atingindo US$ 68 milhões até domingo, e a tendência é de aumento.
Mas o maior impacto será na sua reputação, construída ao longo de anos ao fazer da pontualidade um argumento de venda fundamental.
Um comercial da IndiGo no YouTube, de 2011, mostrava pilotos e outros funcionários cantando em uníssono: "Toda vez que voarmos, garantiremos que você pousará no horário."
A companhia aérea apresentava uma média de pontualidade de 91,4% em julho, a melhor entre as companhias aéreas indianas em seis grandes aeroportos. No entanto, na sexta-feira, esse número caiu para apenas 3,7%.
A crise lembra o colapso da Southwest Airlines durante a temporada de festas de 2022, que levou ao cancelamento de 16.900 voos e deixou mais de 2 milhões de passageiros retidos. Essas interrupções custaram à companhia aérea norte-americana pelo menos US$ 400 milhões em receita.